Negócios sustentáveis: Afinal, como a sustentabilidade tem a ver com a minha empresa?

Negócios sustentáveis: Afinal, como a sustentabilidade tem a ver com a minha empresa?

Você percebeu que mais e mais empresas em todo o mundo estão falando e investindo em sustentabilidade? Já parou prá observar o desenvolvimento crescente de negócios sustentáveis?  Mas afinal, você conhece as vantagens que a sustentabilidade pode trazer para você e para sua empresa?

É  visível a grande notoriedade que o conceito de sustentabilidade tem assumido tanto no mercado quanto nas mídias nos últimos anos. Esse termo vem  sendo considerado uma das principais expressões do século 21. E o mais interessante disso tudo é que os negócios sustentáveis são  uma via de duas mãos, onde o planeta, as pessoas e os negócios saem ganhando.

Nesse artigo eu abordo essas questões. Falo sobre o que significa ser um negócio sustentável e por que isso é importante. Além disso, mostro para você porque essa tendência veio para ficar: E mais, você fica sabendo como repensar a sua forma de fazer negócios.

Continue lendo e você verá que a sustentabilidade tem sim a ver com o seu negócio!

As questões globais interferindo nos negócios

Atualmente estamos vivendo uma época em que a complexidade dos problemas ambientais, sociais, econômicos e éticos é cada vez maior. Além disso, esse cenário tem uma perspectiva de se agravar por causa de questões globais como a mudança climática, a expansão desenfreada da urbanização e o domínio da tecnologia em todas as áreas da nossa vida.

Nesse cenário podemos visualizar a degradação ambiental e a desigualdade social como fatores impactantes na nossa vida.  Isso tudo tem provocado mudanças na forma como as pessoas vêem as coisas, pensam, se relacionam entre si, consomem produtos e serviços, e atuam no seu dia a dia.

Esse panorama tem se refletido no setor empresarial. Muitos empresários já se convenceram de que sua empresa não pode crescer a qualquer custo. Eles entendem que os recursos naturais usados diariamente são finitos.  Usá-los sem responsabilidade e de forma desmedida pode trazer muitos problemas para o planeta, para as pessoas, e comprometer o futuro da empresa.

Negócios sustentáveis ganhando mercados

Muitos empresários estão cientes de que o sucesso dos seus negócios depende das condições socioeconômicas das pessoas e das comunidades ao seu redor.  Em outras palavras, a forma como as empresas operam, tratam seus funcionários, consomem recursos e interagem com a comunidade passou a ser tão importante quanto a qualidade de seus produtos

É por isso que os negócios sustentáveis estão em alta! Recentemente a Revista Forbes publicou um ranking das empresas mais sustentáveis do mundo.Leia a reportagem aqui.

Entretanto,  para uma proposta de negócio sustentável se consolide, é necessário que suas iniciativas e ações sejam pautadas pela ética, pelo respeito ao meio ambiente. Um negócio sustentávei deve promover o desenvolvimento próprio e de todos os que se relacionam com ela. Ou seja, a empresa deve reconhecer a sua responsabilidade social de contribuir para que o ambiente onde atua seja próspero.

Entretanto, engana-se quem acha que a sustentabilidade é apenas uma maneira de proteger o meio ambiente com o objetivo de garantir a qualidade de vida de gerações futuras. Como vimos no artigo anterior, a sustentabilidade também envolve questões econômicas, que no caso de empresas, tem a ver com o lucro.

Portanto, além da motivação socioambiental, a sustentabilidade visa a redução de custos de produção, de operacionalização e do valor final dos produtos.

Vantagens de investir em sustentabilidade

São muitas as vantagens para as empresas que investem em sustentabilidade. Mas vou me ater a cinco pontos que considero fundamentais para agregar valor à marca e promover o sucesso da empresa:

    1. Estímulo à inovação: para implementar práticas sustentáveis na empresa, é necessário olhar com critério para toda a cadeia de valor, avaliando fornecedores, materiais, processos, impactos gerados e possíveis benefícios para o ambiente, para a sociedade, para os clientes e para os demais os agentes envolvidos (colaboradores, fornecedores, investidores, entre outros). Nesse processo, a forma como a empresa gere riscos, reduz custos, se apropria de recursos e se relaciona com as pessoas pode ser transformada e com criatividade gerar inovações interessantes.  Temos visto muitos exemplos de empresas que decidem utilizar materias que seriam descartados como matéria prima para seus produtos, ou outras que investem em tecnologia para melhorar processos e entregar produtos melhores aos seus clientes.
    2. Redução de custos: Um olhar mais cuidadoso para reduzir os desperdícios, racionalizar o uso das matérias primas e dos recursos naturais, estimula a poupança, aumenta a eficiência da empresa e reduz custos que podem se refletir na readequação dos preços dos produtos e na sua melhor colocação no mercado. E essas práticas nem sempre exigem investimentos, mudanças de hábitos, reavaliação de processos, podem trazer uma economia significante para a empresa.
    3. Impulso ao crescimento: A sustentabilidade está abrindo novos mercados. Uma pesquisa produzida em 2017 pela Union + Webster International, empresa internacional especializada em diagnósticos sobre marcas e hábitos de consumo, apontou que 87% dos consumidores brasileiros tem a propensão a adquirir produtos e serviços de empresas sustentáveis e não se importam em pagar 5 a 10% a mais por isso.  Já a Pesquisa Akatu 2018 aponta que metade dos consumidores brasileiros já compram produtos sustentáveis e esse mercado tem aumentado a cada ano. Direcionar produtos e serviços a um mercado em expansão, e com práticas sustentáveis aliar a redução dos custos, torna a empresa mais competiviva e aumenta a possibilidade de crescimento.
    4. Redução de riscos: Na avaliação de toda a cadeia de valor, são analisados os riscos aos quais a empresa está exposta. Operar de forma sustentável implica em minimizar riscos associados à mudança climática e ao abastecimento de longo prazo de matérias-primas e recursos naturais como água e energia.  Assim a empresa fica menos exposta à volatilidade dos preços dos recursos e garante uma permanencia tranquila no mercado. Da mesma forma, ao olhar para os seus colaboradores com mais cuidado, a empresa mostra o valor que dá a cada um e diminui o risco de perder para a concorrência colaboradores chaves para o seu negócio.
    5. Construção da confiança: Colocar a sustentabilidade no centro do modelo de negócios fortalece o relacionamento com todos os stakeholders. O cuidado com o ambiente e com as pessoas ajuda a manter o valor e a relevância da empresa para os clientes, ao mesmo tempo que inspira colaboradores e outros agentes para fazerem o seu melhor.

Mudando o rumo

Apesar de todas essas vantagens citadas acima, implementar uma política de sustentabilidade na empresa não é tão simples assim. Não basta apenas mudar algumas práticas, como banir o plástico, trocar as lâmpadas por modelos econômicos ou reciclar o lixo.

Para que uma empresa seja considerada sustentável, é preciso olhar prá ela de uma forma sistêmica, integrada e com um objetivo bem claro. Tornar sustentável um negócio não se faz de uma hora prá outra. Mudar processos pode até demorar anos, dependendo do grau de complexidade da sua  forma de operar. Entretanto, para começar é preciso de alguém que empreenda essa idéia. Nesse sentido, o papel de um lider para a sustentabilidade é essencial.

A liderança de negócios sustentáveis

Sabe aquela pessoa apaixonada pelo que faz, que acredita realmente que ao focar suas ações para a sustentabilidade, estará fazendo a diferença para o  planeta, para as pessoas e prá própria empresa. Essa é a pessoa certa prá liderar o processo. Aqui eu cito cinco atributos essenciais de uma liderança para a sustentabilidade:

    1. Propósito: ter um propósito socioambiental, além da maximização do lucro, é essencial para definir um posicionamento claro da empresa. Assim, todas as pessoas envolvidas vão perceber a necessidade de se engajarem para fazer a diferença e promover resultados que criam valor tanto para os negócios quanto para a sociedade.
    2. Planejamento: desenvolver um plano abrangente para incorporar a sustentabilidade é o que faz toda a diferença. Para isso, é necessário uma visão estratégica e sistêmica que dê suporte às decisões a serem tomadas. São várias as etapas de planejamento que avaliam toda a cadeia de valor da empresa e, com uma visão global que aponta riscos e potencialidades  fica mais claro definir prioridades e caminhos a seguir.
    3. Cultura: Fazer uma transformação em uma empresa só é possível com uma cultura inovadora, capacitadora, aberta e responsável. É essa cultura que torna os  outros atributos uma realidade .
    4. Colaboração: um plano de sustentabilidade não é colocado em prática da noite pro dia. Exige o engajamento de todos os envolvidos em torno do propósito da empresa. Portanto, é necessário ter a habilidade e a vontade  de buscar o apoio e a colaboração de todos.
    5. Comunicação: Por fim, ao transformar a cultura e as práticas da empresa, é imprecindível falar sobre isso, comunicar às pessoas em que a empresa acredita, o que tem feito e por que.  Essa é uma forma de promover uma mudança de posturas de outras empresas, e estimular políticas de desenvolvimento sustentável, novas normas e comportamentos.

Todos esses atributos descrevem um líder que está conectado com seu tempo e que vê na mudança uma forma de crescimento seu e da empresa.

Fazer diferente

Os desafios atuais mostram a necessidade de fazer diferente. Com toda a certeza, a sustentabilidade não é apenas uma outra forma de agir…ela é a única forma que temos de agora em diante de mantermos a continuidade da vida e dos negócios por muito tempo.

Nesse sentido é importante dizer que a sustentabilidade pode ser construída. Isso não depende do tamanho da empresa, mas sim da vontade de inovar e de fazer diferente. Depende da capacidade de envolver as pessoas em um projeto  e com isso gerar respostas positivas ao ambiente e a sociedade.

Dentre os negócios sustentáveis, encontramos exemplos de empresas que investem na tecnologia,  outras, simplesmente adequam as práticas adotadas a processos mais simples e criativos. À medida que se olha para a empresa com um olhar crítico, inovador e criativo, muitas possibilidades de abrem.

Além disso, os negócios sustentáveis não são um resultado, e sim um processo que vai se concretizando a cada novo dia. Com um plano em mente e com prioridades bem definidas, cada novo passo é dado no momento certo e a transformação vai se revelando aos poucos, de forma consistente e segura.

Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Apesar do conceito de sustentabilidade ser discutido há décadas, ele ainda gera dúvidas entre as pessoas, especialmente quanto aos seus impactos no momento de aplicá-lo na prática. E, por se tratar de um termo que está em alta em todos os setores da sociedade, vale a pena discutí-lo sempre, de forma a melhorar seu entendimento e favorecer sua implementação.

Por isso, eu discuto aqui os seguintes tópicos

  •  O aumento crescente das discussões rumo à sustentabilidade;
  • A mudança de posicionamento das empresas rumo a uma produção sustentável;
  • A abordagem atual para o conceito;
  • As dimensões da sustentabilidade e as implicações para os negócios;
  • O desafio de uma mudança de mindset para gerar um futuro sustentável.

A sustentabilidade está na pauta

Estamos vivendo uma mudança de paradigma na forma como as pessoas consomem produtos e serviços e isso tem impactado o posicionamento das empresas perante seus clientes e a sociedade em geral.

Foi-se o tempo em que apenas questões relacionadas às características do produto como preço, funcionalidade, tecnologia ou design, eram elementos de decisão de compra. Também já ultrapassamos a fase da humanização das marcas, com maior importância à imagem e ao relacionamento da empresa com seus clientes.

O que observamos atualmente é um discurso crescente pela “sustentabilidade”: empresas sustentáveis, processos sustentáveis, produtos sustentáveis. Cada vez mais, vemos empresas investindo sustentabilidade para gerar um impacto positivo na sociedade e manter-se competitivo no mercado. Em muitos casos, a sustentabilidade passou a ser considerada uma premissa de sucesso.

As pessoas estão mudando a forma como vêem o mundo

A nova realidade de consumo  voltada para os impactos positivos da  sustentabilidade é uma tendência mundial. As crises econômicas, desigualdades sociais, desequilíbrios ambientais e distorções éticas que afetam a sociedade como um todo têm sensibilizado cada vez mais as pessoas gerando uma forte mudança de posturas nos consumidores. Vemos o crescimento no número de consumidores mais atentos às consequências de seu consumo, preocupados com questões ambientais, sociais, éticas, de saúde e de segurança.

Nesse contexto, os meios de comunicação, especialmente a internet, têm desempenhado um papel determinante, seja para consolidar boas práticas e hábitos saudáveis, ou para apontar impactos negativos gerados pelas empresas e provocar um posicionamento claro dos consumidores. Já vimos exemplos de situações em que trabalho escravo, poluição ambiental, concorrência desleal ou desrespeito à legislação vigente impactam negativamente os negócios, e nem um bom preço ou uma melhor qualidade do produto podem superar.

Todos esses fatores justificam a crescente mudança de posicionamento das empresas rumo a sustentabilidade. Porém, para defender a bandeira da sustentabilidade, é preciso entender o que esse conceito significa!

Se você acredita que reciclar o lixo, evitar embalagens plásticas, coletar a água da chuva, ou fomentar projetos de reflorestamento é o suficiente para ser sustentável, você precisa rever seus conceitos! Apesar dessas medidas serem positivas e contribuírem para diminuir os impactos ambientais de nossas ações cotidianas, elas mostram a crença (equivocada) de que sustentabilidade está diretamente relacionada somente a questões ambientais!

Mas afinal, o que é sustentabilidade?

A palavra sustentabilidade vem do latim, sustentare, que significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. Esse termo começou a ser discutido no meio político a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente que ocorreu em Estocolmo, em 1972.  

Porém, o conceito de sustentabilidade surgiu em 1987, quando  a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente apresentou na ONU um diagnóstico dos problemas ambientais do planeta. Esse documento ficou conhecido como Relatório Brundtland e estabelecia que o desenvolvimento econômico deveria estar integrado à questão ambiental para a sobrevivência do planeta. (veja a tradução do relatório aqui)

A partir de então, a ONU definiu sustentabilidade como “o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras”.

Alguns anos depois (1994), John Elkington criou o termo Triple Bottom Line, conhecido no Brasil como o Tripé da Sustentabilidade. O autor relacionou à sustentabilidade três dimensões: social, econômico e ambiental.

Cada uma dessas dimensões pode ser entendidas no sentido macro (planeta, país) ou micro (a empresa, o indivíduo). A idéia partiu da premissa de que uma empresa não pode prosperar alheia ao seu contexto, pois é este que lhe fornece recursos naturais e humanos para o seu desenvolvimento.

As três dimensões da sustentabilidade

A dimensão social está relacionada ao capital humano de uma empresa, comunidade ou sociedade. Envolve variáveis sociais como a educação, a equidade, o bem estar, a saúde, a segurança e a qualidade de vida das pessoas envolvidas,

A dimensão ambiental refere-se ao capital natural envolvido, ou seja, variáveis ambientais relacionadas aos recursos naturais, como qualidade do ar, da água, biodiversidade, conservação de energia e uso do solo.

A dimensão econômica diz respeito às causas e efeitos das decisões de negócios. Concentra-se em um crescimento sustentado, cuja economia não se orienta apenas por questões financeiras, e sim por resultados reais de bem-estar social e de capacidade de regeneração dos ecossistemas.

Dessa forma a sustentabilidade se revelou um conceito amplo e complexo que demorou muito tempo para ser completamente entendido e principalmente aplicado na prática.

A mudança de mindset nos negócios

Hoje entende-se que essa é uma questão sistêmica onde tanto os recursos naturais quanto os direitos humanos precisam ser respeitados e protegidos. Por isso, para sermos sustentáveis, nosso pensamento, nossas decisões e nossas ações devem ser economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente aceitas e ecologicamente corretas.

Ou seja, a sustentabilidade depende de nossas escolhas sobre as formas de produção, consumo, habitação e transporte, entre outros, e mais do que isso,  a forma como nos relacionamos  com outras pessoas e com o ambiente, considerando valores éticos, solidários e democráticos.

Os impactos da sustentabilidade nos negócios

Ao compreender para qual direção o mundo está mudando, muitos empreendedores descobriram que, ser social e ambientalmente responsável não é apenas uma obrigação, é também uma oportunidade de incorporar vantagens competitivas ao seu negócio. Ou seja, eles viram os impactos positivos da sustentabilidade nos negócios

Mas investir em sustentabilidade é um grande desafio. Não basta aderir a propostas ambientais de viés sustentável. O mais importante é mudar a forma de pensar a atuação da empresa e incorporar a sustentabilidade no coração do negócio.

Isso exige que os líderes empresariais repensem questões estratégicas fundamentais, incorporando a sustentabilidade à cultura da empresa como um valor, um propósito, uma filosofia.  A partir daí, a estratégia do negócio deve direcionar suas ações aos objetivos sutentáveis em todos os setores da empresa. Mas para assegurar que isso se realize, é essencial o engajamento de todo o corpo de funcionários.

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Desenvolvimento urbano sustentável: instrumentos políticos na gestão ambiental

Desenvolvimento urbano sustentável: instrumentos políticos na gestão ambiental

Durante muito tempo, a busca constante dos países desenvolvidos por altos níveis de desenvolvimento econômico, com acesso irrestrito aos recursos naturais, resultou em efeitos  negativos ao ambiente, tais como a poluição da água e do ar, resíduos perigosos e, mais recentemente, a mudança climática global. Nesse contexto, a gestão ambiental sempre foi vista como uma restrição necessária ou uma regulação da atividade econômica para conter os danos ambientais dentro de limites aceitáveis. A política de gestão ambiental era independente da política econômica e do desenvolvimento sustentável e suas ações se concentravam em proteger o meio ambiente e  a qualidade de vida,  dos efeitos secundários da atividade econômica. Em geral, as intervenções ambientais não eram percebidas como atividades produtivas, mas como uma quebra da atividade econômica. Esta perceção ocorre pela falha em reconhecer as ligações entre a proteção ambiental, a eficiência, a sustentabilidade do desenvolvimento, a reestruturação de processos e, em parte, o tipo dominante de instrumentos de política utilizados para implementar a gestão ambiental. Na atualidade,  os conceitos de desenvolvimento sustentável e de coesão econômica mudaram o panorama da gestão ambiental em termos de objetivos e formas de governar. A perceção da política do ambiente mudou de uma responsabilidade econômica para uma potencial vantagem econômica.  E muitas atenções voltam-se para as implicações do desenvolvimento sustentável no contexto urbano, considerando as interrelações entre as dimensões econômica, social e ambiental. A busca pela sustentablidade urbana e por cidades melhores para se viver  tem sido uma preocupação constante de alguns governos que consideram socialmente benéfico internalizar os benefícios sociais de atividades que geram externalidades positivas. É o caso dos investimentos em qualidade ambiental, integração sócio-cultural, mobilidade urbana sustentável, entre outras atividades  que promovem a qualidade de vida  e o bem estar da população. É concenso que as áreas urbanas constituem  importantes locais para o desenvolvimento econômico e social de um país, e o tema “sustentabilidade” adquiriu importância significativa  com o evidente crescimento das áreas urbanas no mundo. O interesse por esse assunto é atribuído a publicação de 1987 do relatório da Comissão Brundland denominado Our Common Future, mas a temática sobre o ambiente urbano, revelou‐se mais presente quando também fez parte do programa dedicado ao Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Conferência do Rio/92 . Desse encontro nasceu a Agenda 21, com discussões de importantes medidas rumo ao desenvolvimento sustentável. Em um de seus capítulos, o documento sugere a transferência das suas medidas para o nível local – a Agenda 21 Local, através de um processo participativo em que as próprias populações, sabendo quais as suas realidades locais, obtenham consenso sobre os melhores modelos de desenvolvimento.

Desenvolvimento Urbano

O ambiente urbano é formado por dois sistemas intimamente interrelacionados: o “sistema natural” composto do meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água, etc) e o “sistema antrópico” consistindo do homem e de suas atividades, de forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural e os reflexos das atividades humanas podem ser vistos em ambos. O “modo de vida urbano” expressa-se sobretudo pelas relações sociais que se estabelecem nesse espaço, decorrentes de uma aproximação físico-territorial e de um sistema cultural. O processo de urbanização é uma realidade constatada mundialmente. Este processo tem sido intenso, modificando rapidamente a dinâmica das cidades, exigindo um planeamento sustentável e a compreensão das suas relações e impactos locais e globais. A globalização e a consequente  reestruturação econômica das últimas décadas têm afetado de várias formas o desenvolvimento urbano de países desenvolvidos e em desenvolvimento, embora a forma de impacto tem sido fortemente determinada por fatores políticos locais. Enquanto as regiões mais desenvolvidas apresentam um panorama estabilizado quanto ao crescimento de áreas urbanas, as regiões em desenvolvimento tendem a aumentar cada vez o número de pessoas nessas áreas . A percepção das peculiaridades de cada local ao qual o processo de desenvolvimento urbano deve adaptar-se apresenta grandes dasafios, visto que implica no envolvimento efetivo de diferentes agentes, sejam eles, governantes, grupos econômicos ou cidadãos. A sustentabilidade urbana apresenta três aspectos diferentes:
  1. A contribuição das atividades das áreas urbanas para um resultado insustentável;
  2. As possibilidades de uso das áreas urbanas para tornar o desenvolvimento econômico mais sustentável;
  3. As propostas de governo, em nível urbano, que influenciam ações para a sustentabilidade e demonstram compromissos com a agenda de desenvolvimento sustentável .
Todavia, a busca por um bem estar sustentável para futuras gerações  implica em três importantes dimensões:
  • a existência de um nível positivo de bem estar sustentável;
  • a magnitude das metas de bem estar futuros  frente aos níveis de bem estar atuais;
  • a capacidade de entendimento pelas gerações anteriores dos níveis futuros de bem estar.

 Gestão do ambiente e economia 

O debate de questões ambientais tem crescido muito nos últimos tempos. As  discussões saem da esfera política e acabam por envolver diferentes agentes, nomeadamente associações de defesa do ambiente, grupos econômicos e cidadãos em geral. O interesse na discussão ambiental manifesta-se desde a escala local até global, e relaciona política do ambiente, desenvolvimento econômico e vida social. No contexto econômico atual, diante de muitas restrições orçamentárias e de fragilidades institucionais, os  governantes precisam decidir quais problemas são prioritários e, muitas vezes torna-se difícil atingir os níveis necessários de proteção ambiental. Nesse sentido,  as análises econômicas vêm conquistando uma atenção cada vez maior, à medida que possibilitam avaliar os custos impostos à sociedade. A evolução das políticas ambientais desde o início dos anos 1970 tem se caracterizado por duas situações: em primeiro lugar o desenvolvimento de um número de “princípios” concebidos para dar base a estas políticas, tanto em nível empresarial quanto aqueles reconhecidos internacionalmente: o princípio do “poluidor-pagador” é o mais importante. Em segundo lugar, o desenvolvimento e a implantação dos chamados “instrumentos de política”, projetados para implementar e aplicar políticas ambientais. O princípio de internalização das externalidades através do pagamento do imposto pigouveano (poluidor-pagador)  embasa boa parte do senso comum quanto à forma como o Estado deve gerir a questão da degradação ambiental. Porém outros métodos de valoração monetária dos recursos naturais foram  criados ou adaptados pelos integrantes da escola ambiental neoclássica, como o Teorema de Coase que analisa o problema de valoração das externalidades como consequência da ausência de propriedade particular sobre os recursos naturais, ou ainda a aplicação da análise custo/benefício e de valoração contingencial para as externalidades ambientais, todos sob a ótica da internalização das externalidades ambientais. Por outro lado, a formulação de metas e objetivos ambientais é um processo de construção de consenso e isso requer a consulta aos agentes interessados, além da avaliação da viabilidade administrativa e financeira de forma a atingir os resultados desejados em termos de qualidade e controlo do ambiente.

O uso de instrumentos políticos para a regulação ambiental

Instrumentos de política ambiental são ferramentas utilizadas pelos governos para implementar as suas políticas ambientais. Muitos tipos de instrumentos políticos, com grau variável de sucesso, têm sido usados por vários governos em decisões relativas à questão ambiental. Esses instrumentos podem ser divididos em dois principais tipos: i) instrumentos reguladores, ou instrumentos do tipo comando e controle, onde o poder público estabelece os padrões e monitora a qualidade ambiental, regulando as atividades e aplicando sanções e penalidades, via legislação e normas; e ii) instrumentos econômicos ou instrumentos de mercado, tais como impostos e isenções fiscais, licenças negociáveis​​ e taxas. Algumas medidas voluntárias, como os acordos bilaterais negociados entre o governo e empresas privadas, e os compromissos assumidos por empresas independentes da pressão do governo, são outros instrumentos utilizados na política ambiental. Da mesma forma, medidas como a ampla divulgação ao público, a informação e a educação também vêm sendo cada vez mais usados. De acordo com a UNEP (Programa Ambiental das Nações Unidas), ao longo dos últimos anos cresceu o interesse no uso dos mecanismos de mercado para atingir os objetivos de proteção ambiental. Ao invés dos governos estipularem as tecnologias que devem ser utilizadas para reduzir os danos ambientais ou definir a intervenção máxima sobre os recursos naturais, processo esse conhecido como “comando e controle”, o uso de instrumentos econômicos pode fornecer um incentivo  financeiro aos agentes agressores do ambiente de modo a modificar seus comportamentos.

Instrumentos de Regulação e Controle

Instrumentos de regulação são utilizados na maioria dos países. Eles podem ser definidos como regras institucionais que visam a influenciar diretamente o desempenho ambiental dos poluidores, regulamentando os processos e produtos utilizados, proibindo ou limitando a descarga de certos poluentes, e/ou restringindo as atividades a certos períodos ou áreas. Os maiores problemas para sua adoção são a falta de reforço e o efeito rebote; por outro lado, a maioria das medidas políticas atinge altas economias a baixo custo, geralmente a custos negativos para a sociedade e por isso, geralmente são combinados com outros instrumentos.

Instrumentos econômicos ou de mercado

Instrumentos econômicos são baseados nos mecanismos de mercado, e geralmente contêm elementos de ação voluntária ou participação, que muitas vezes são iniciadas ou promovidas por regulamentações de incentivo. Os instrumentos econômicos podem ajudar em questões sobre a eficiência e a flexibilidade da regulamentação existente, além de responder a necessidade de receitas fiscais na busca de instrumentos para reconciliar a política econômica e ambiental e promover o desenvolvimento sustentável. Em muitos casos, a introdução gradual de uma selecção de instrumentos econômicos adaptados às condições locais, pode dar flexibilidade, apoio financeiro, e maior eficiência aos regimes regulamentares existentes. Os incentivos fiscais podem ser  ferramentas de políticas públicas que influenciam os preços a partir do uso de medidas fiscais, de modo a promover incentivos financeiros que podem alterar comportamentos. Tanto podem reduzir o consumo de um determinado bem ou serviço ao aplicar um imposto ou incentivá-lo por meio de suporte financeiro, se forem consideradas as barreiras relacionadas com o custo inicial.

Instrumentos de informação e persuasão

Essa categoria reagrupa uma série de medidas políticas muito diferentes, cuja eficiência depende, entre outros fatores, de uma combinação apropriada com outras políticas públicas. Apesar de serem consideradas medidas pouco rígidas, podem atingir economias significativas. Utilizam a oferta de informação e o uso de discursos significativos para persuadir pessoas e organizações no sentido de promover ações voluntárias a favor do ambiente. No que tange especificamente a governança para o desenvolvimento urbano sustentável, Rydin( 2010, p. 56) sintetiza na Tabela 1 as ações necessárias relacionadas às políticas ambientais de modo a superar possíveis resistências. Tabela 1: Ações necessárias para superar resistências
Instrumentos Políticos Construção da vontade de agir Construção da capacidade de agir Resistencia contrária de agentes individuais ou grupos Mudança de estruturas de incentivo
Informação e persuasão Mudar a percepção dos agentes sobre as razões para agir Mostrar que mudanças são possíveis Informações contrárias as fornecidas pelos agentes, minimizar a legitimidade de seus comportamentos Conhecimento é poder
Incentivos financeiros Promover o incentivo a ação Promover recursos financeiros para ações Reestruturar os recursos disponíveis a alguns agentes e quem sabe reduzir seu poder Reestruturar estruturas de incentivo
Ações colaborativas Criando  redes de contatos a fim de criar uma agenda para ação Rever recursos a partir das redes de contatos Controlar  agentes por meio de sansões leves e sobrepor conflitos Alterar as relações estabelecidas entre os agentes e a percepção dos incentivos
Regulação e controlo Elevar  expectativas sobre normas e potenciais benefícios Estabelecer estratégias para atingir os resultados Controlar o comportamento dos agentes através de ações regulatórias Alterar o balanço de custos e benefícios a partir das normas estabelecidas

A escolha da melhor opção

Promover a cidade do futuro é uma tarefa dura! Contemplar de uma forma equilibrada os  princípios de sustentabilidade exige ações de envolvimento coletivo. A participação de todos os agentes da sociedade, sejam eles governantes, corpo científico, grupos econômicos e cidadãos em geral é essencial para se conhecer as necessidades de uma comunidade e principalmente, dar legitimidade a todas as ações realizadas, o que torna o processo mais fácil de se consolidar. Na atualidade, muito se tem discutido sobre as formas de governar e os mecanismos necessários para colocar determinadas políticas em prática. A evolução das políticas ambientais nas últimas décadas valeu-se cada vez mais de instrumentos econômicos para tornar–se mais eficiente.  De alguma forma, percebe-se que a melhoria das condições de vida dos cidadãos em áreas urbanas depende de decisões políticas, cujos recursos podem ser originados não apenas de investimentos públicos, mas também da responsabilidade privada pelos danos que determinadas atividades provocam no ambiente. E não existe uma fórmula mágica para se atingir os objetivos de qualquer ação. É necessário entender as características de cada local e tomar medidas coerentes com as necessidades identificadas  e  com a capacidade de resposta da comunidade. Cada vez mais, percebe-se que uma única medida não é suficiente e a perspicácia de governantes no uso da melhor combinação de instrumentos políticos pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma política. Por outro lado, qualquer política não é estanque em si. Todos os processos precisam ser avaliados em diferentes fases, desde sua elaboração até consolidação, e sempre que se identificar necessidade de ajustes para corrigir algumas distorções, devem ser realizadas.  Os decisores políticos devem ser os maestros nesse processo.
Por que precisamos falar urgentemente em Resiliência?

Por que precisamos falar urgentemente em Resiliência?

Você sabe o que significa resiliência? O que esse termo tem a ver com a greve dos caminhoneiros? Que lições podemos tirar dessa crise para a construção da resiliência às mudanças climáticas?

Uma greve de caminhoneiros provocou essa semana, uma crise de abastecimento em todo o país e a consequente interrupção de serviços urbanos básicos, tais como transporte público, recolha de lixo, abastecimento de água, de gás e a oferta de serviços de saúde, entre outros.

A luz vermelha se acendeu!! Até que ponto nossas cidades são resilientes a uma crise que, por ventura, possa ser provocada por algum evento climático extremo?

Em geral, a resiliência é entendida como a capacidade de um determinado sistema para recuperar o seu equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação. Mas essa descrição um tanto reducionista não se aplica a um sistema complexo como uma cidade, exposta a uma grande diversidade de riscos. Podemos chamar de cidades resilientes aquelas preparadas para absorver e se recuperar de qualquer tipo de choque ou estresse, mantendo suas funções e estruturas essenciais e sua identidade, e que se mostrem capazes de se adaptar e enfrentar possíveis mudanças. Mas a resiliência urbana é uma característica construída ao longo do desenvolvimento e do crescimento urbano. Para tanto, é necessário um planejamento urbano estratégico e sustentável, que leve em consideração alguns princípios fundamentais de resiliência.

A experiência dessa semana mostrou a grande fragilidade dos nossos sistemas urbanos cujo  abastecimento de bens e insumos é suportado apenas pelo transporte rodoviário.  Essa situação rompe com o princípio essencial da resiliência: Manter a diversidade e a redundância. Esse princípio defende que sistemas com muitos componentes diferentes (no caso, outros tipos de transporte de cargas como o ferroviário, fluvial, marítimo e aéreo) são geralmente mais resilientes do que um sistema com poucos componentes (situação do Brasil). Além disso, a redundância (disponibilidade do recurso superior à sua necessidade) garante a segurança dentro de um sistema, permitindo que alguns componentes compensem a perda ou a falha de outros. Vale aquele ditado: “não coloque todos os ovos na mesma cesta”.

Mas no caso específico da greve dos transportes de cargas, ainda temos outro aspecto agravante: a dependência dos combustíveis fósseis, especificamente o óleo diesel. No Brasil, tanto os transportes de carga, quanto os transportes públicos e de particulares seguem a mesma matriz energética focada no petróleo. E esse produto também é distribuído por rodovias. Essa situação nos coloca à mercê de muitas variáveis que podem ser afetadas em uma crise, tais como a disponibilidade do produto (seja por produção própria ou importação), a capacidade de distribuição e abastecimento,  e a variabilidade dos preços em função das políticas adotadas. Aliás, essa semana ficou claro o equívoco estratégico das políticas de transporte que tem sido adotadas há décadas segidas tanto em nível nacional, quanto local.

Se fizermos um contraponto do que ocorreu essa semana,  avaliando a nossa capacidade de resiliência à uma crise de abastecimento e relacionarmos com os possíveis impactos associados à mudança climática, fica evidente a necessidade de repensarmos as dinâmicas urbanas de nossas cidadesE a questão do transporte é crucial em um contexto de mudanças climáticas.

Os transportes representam uma parcela significativa (14%) na emissão de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global e ao mesmo tempo, constituem um setor estratégico no caso de perturbações provocadas por eventos climáticos extremos. Sendo assim, é fundamental  uma atenção especial às políticas públicas que definem a estrutura modal de transportes e a matriz energética que movem o país e as cidades. E prá isso, além da demanda por investimento financeiro, é essencial a vontade política de mudar, o que no Brasil, pode ser a tarefa mais complexa.

Vale aqui listar algumas medidas sustentáveis adotadas em muitos países que podem servir de inspiração para a nossa mudança: o investimento em ciclovias, a diversificação  de meios de transporte, como o uso de trens, metrôs e barcos,  a ampliação da rede de transporte público, o incentivo à implementação de veículos elétricos e movidos a biocombustíveis e o financiamento de pesquisas em novas tecnologias para transportes e combustíveis.

  • Foto: Pablo Jacob / Agencia O Globo