Consumo consciente: voluntários contribuindo para a sustentabilidade da vida no planeta

Consumo consciente: voluntários contribuindo para a sustentabilidade da vida no planeta

Você já percebeu que as expectativas dos consumidores estão mudando? Já reparou que muitas pessoas estão deixando de lado o supérfluo e adquirindo hábitos de um consumo mais consciente?

O tema desse artigo é  o consumo consciente, que pode ser entendido também como consumo responsável, ou consumo sustentável.

Primeiro vamos avaliar o que tem levado tantas pessoas a mudarem seus comportamentos de consumo. Depois vamos abordar o que significa comprar de forma responsável. Então vamos identificar os princípios desses novos consumidores. Por fim, vamos ver de que forma as empresas estão reagindo a isso e como essa nova realidade pode trazer benefícios para todos, especialmente para o planeta. 

A nossa relação com as compras

O ato de comprar, ou seja, adquirir um bem, é um meio de atingir um fim. Em outras palavras, compramos algo para satisfazer a uma função específica: comer, vestir, transportar, comunicar, divertir e tantas outras.

Entretanto, a forma como consumimos bens e serviços interfere significativamente na nossa vida, mas também na de outras pessoas e especialmente do planeta

Muitas vezes nos focamos em supérfluos, com o intuito de satisfazer nossas vontades. Com essa atitude, estamos nos comportando de forma egoísta. Isso por que acabamos concentrando uma série de recursos naturais e transformados que poderiam suprir a necessidade de outras pessoas. 

Esse é o modelo de consumo predominante na atualidade e essa prática tem se mostrado insustentável. Grandes desperdícios, excesso de embalagens, lixo em demasia, plástico nos mares, são o retrato desse consumismo desenfreado que tem chamado a atenção de muita gente.

A mudança de paradigma de consumo

Uma grande parcela da população já se deu conta de que esse padrão de consumo é insustentável e que precisamos reagir a isso.

As mudanças climáticas, a degradação do meio ambiente e as grandes desigualdades sociais estão motivando mudanças comportamentais importantes. Muitas pessoas têm se sensibilizado com essa situação e reconhecido suas responsabilidades em mudar esse panorama. Consequentemente, é crescente a onda de consumidores responsáveis que, aos poucos, podem provocar uma mudança de paradigma de consumo e de produção. Ou seja, a atuação de consumidores conscientes é, sem dúvida, o início de uma virada para o consumo e a produção responsável e sustentável.

O consumo consciente

O consumo consciente é uma forma de consumo que leva em consideração os fundamentos do desenvolvimento sustentável. Ou seja, consumo responsável é um conceito amplo que possui uma dimensão ambiental, econômica, social e de saúde. Não envolve apenas deixar de comprar, mas sim escolher com cuidado o que está sendo adquirido. 

Na realidade, o consumo responsável é variável, pois depende da sensibilidade dos consumidores. Alguns consumidores responsáveis ​​se concentram no lado ecológico de seu consumo, tentando escolher produtos sazonais, orgânicos e ecológicos. Eles também reconhecem os impactos ambientais associados aos diferentes estágios dos produtos (desde sua produção, transporte e descarte) e tentam comprar aqueles com menor impacto.

Outros se concentram no impacto que suas escolhas terá na economia, escolhendo produtos produzidos localmente. Também existem aqueles que escolhem seus produtos ou serviços  vinculados a uma força de trabalho que possui salários e condições de trabalho justos. Além disso, existem aqueles que observam se esses produtos são positivamente bons em qualidade, durabilidade e, se observam  questões como saúde e segurança tanto de pessoas como de animais. 

Em suma, o ponto essencial do consumo consciente é estar ciente dos impactos do consumo nesses vários critérios e agir para torná-lo mais positivo. Por isso, o consumidor consciente  busca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade. Suas escolhas de consumo procuram maximizar as conseqüências positivas e minimizar as negativas. Portanto, entram na balança de decisão as consequências  para si mesmo, para as relações sociais, para a economia e para a natureza.

Ainda, há pessoas que simplificam o conceito de consumo consciente aplicando o princípio dos 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Reduzir significa consumir menos produtos com alto potencial de gerar resíduos e dar preferência àqueles que tiverem maior durabilidade e oferecerem menos riscos à natureza. Um exemplo disso são os produtos descartáveis, como canudos, sacolas e copos plásticos. Reutilizar consiste em reaproveitar tudo aquilo que não for descartável. Isso vai desde a compra de roupas em brechó, até a utilização de embalagens para outras funções. E reciclar é o processo de transformação de materiais diversos em matéria-prima para outros produtos. Embalagens plásticas, de alumínio, de papelão e de vidro podem ser recicladas.

Os critérios de um consumo responsável

Como vimos, a definição de consumo responsável é ampla e flexível. Portanto, consideramos que é um consumidor consciente, se você praticar um consumo que atenda a pelo menos um ou mais dos seguintes critérios:

Consumo de produtos ecológicos com baixo impacto no meio ambiente:

  • Produtos de setores certificados, respeitando o meio ambiente ou a biodiversidade;
  • Mercadorias com baixa pegada de carbono;
  • Produtos orgânicos;
  • Bens que preservam a qualidade do solo, da água e do ar e geralmente impedem a poluição, o desmatamento e o esgotamento dos recursos naturais.

Consumo de produtos de acordo com o respeito às normas sociais e seu impacto nas sociedades:

  • Bens fabricados em boas condições de trabalho, sem trabalho infantil forçado e que respeitem o horário de trabalho e convenções internacionais;
  • Produtos fabricados em conformidade com padrões éticos (principalmente corrupção);
  • Bens fabricados em cooperação com as comunidades locais, respeitando seu estilo de vida e lucro comercial (como comércio justo)

Consumo de produtos “mais saudáveis”, respeitando os padrões de saúde:

  • Produtos sem produtos tóxicos e perigosos;
  • Mercadorias sem pesticidas ou outros insumos químicos;
  • Mercadorias fabricadas de acordo com os padrões de higiene;
  • Produtos alimentares com composição nutricional saudável.

Consumo de produtos com impacto econômico positivo:

  • Produtos feitos localmente;
  • Produções que incentivam a autonomia econômica de seus produtores (em oposição à dependência de sistemas comerciais ou industriais, como supermercados);
  • Bens que criam mais empregos, bem como integração econômica e social dos trabalhadores;
  • Produtos que promovem a qualidade de vida profissional dos funcionários.

O consumo de produtos fabricados em condições que respeitem certos princípios éticos ou morais:

  • Respeito pelo bem-estar animal;
  • Respeito pela justiça e liberdades individuais;
  • Qualquer outro princípio que contribua para o desenvolvimento do interesse geral.
  • O ponto essencial do consumo responsável é estar ciente dos impactos do consumo nesses vários critérios e agir para torná-lo mais positivo.

Os valores de um consumidor consciente 

No Brasil, já se percebeu claramente essa mudança de comportamento dos consumidores. Recentemente o  Instituto Akatu realizou a uma pesquisa sobre o Panorama do consumo consciente no Brasil (2018) que comprova isso. 

A pesquisa mostrou que, entre as oito principais causas que mais mobilizam o consumidor a comprar um produto de determinada marca, cinco estão ligadas ao cuidado com pessoas. Em primeiro lugar está a atuação das empresas no combate ao trabalho infantil (para 45% dos consumidores). O segundo lugar está o tratamento dado aos funcionários, que deve ser igualitário, independentemente de raça, religião, sexo, identidade,  gênero ou orientação sexual (43%). Em terceiro lugar está a existência de programas de contratação de pessoas com deficiência (38%). Além disso tem a contribuição da empresa para o bem-estar da comunidade onde está localizada (38%). E por fim, as condições de trabalho (36%) que a empresa oferece.

Segundo a pesquisa, os consumidores acreditam que  as empresas deveriam fazer mais do que está nas leis, para trazer mais benefícios à sociedade.       

As tendências de consumo e resposta das empresas 

Normalmente as empresas respondem rapidamente às tendências de mercado. Muitas delas já perceberam esse novo momento de consumo.  O reflexo disso é o crescente número de produtos e serviços sustentáveis que estão disponíveis no mercado. 

Essa reação tem sido positiva, pois muitas empresas estão se focando  na sustentabilidade de seus produtos. Já abordamos esse tema em um de nossos artigos anteriores.  Além disso,  a onda do consumo consciente  tem estimulado também o investimento em projetos de responsabilidade social das empresas

Mas, a transformação é ainda maior. Grande parte das empresas estão revendo seus negócios. Elas estão revisando seus propósitos de forma a integrar a sustentabilidade a esse momento de novos paradigmas de consumo. Assim, a sustentabilidade entra no DNA da empresa, se difunde em todas as escalas de ação, desde a obtenção dos materiais,  a produção, a distribuição, o transporte, o uso e o descarte do produto. Assim, o propósito da empresa perpassa fornecedores, colaboradores, investidores, cliente e a sociedade como um todo

Em conclusão, se por um lado, os consumidores se perguntam como as empresas estão contribuindo positivamente e criando valor para a comunidade, por  outro lado, as empresas estão melhorando salários e políticas de funcionários, servindo de suporte e parcerias da comunidade e desenvolvendo métodos e práticas de fabricação mais sustentáveis.

Como consequência, temos empresas autênticas, transparentes e com objetivos claros, que promovem a sustentabilidade na sua integralidade. Com isso, ganhamos todos.

Até o próximo!

 

Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Apesar do conceito de sustentabilidade ser discutido há décadas, ele ainda gera dúvidas entre as pessoas, especialmente quanto aos seus impactos no momento de aplicá-lo na prática. E, por se tratar de um termo que está em alta em todos os setores da sociedade, vale a pena discutí-lo sempre, de forma a melhorar seu entendimento e favorecer sua implementação.

Por isso, eu discuto aqui os seguintes tópicos

  •  O aumento crescente das discussões rumo à sustentabilidade;
  • A mudança de posicionamento das empresas rumo a uma produção sustentável;
  • A abordagem atual para o conceito;
  • As dimensões da sustentabilidade e as implicações para os negócios;
  • O desafio de uma mudança de mindset para gerar um futuro sustentável.

A sustentabilidade está na pauta

Estamos vivendo uma mudança de paradigma na forma como as pessoas consomem produtos e serviços e isso tem impactado o posicionamento das empresas perante seus clientes e a sociedade em geral.

Foi-se o tempo em que apenas questões relacionadas às características do produto como preço, funcionalidade, tecnologia ou design, eram elementos de decisão de compra. Também já ultrapassamos a fase da humanização das marcas, com maior importância à imagem e ao relacionamento da empresa com seus clientes.

O que observamos atualmente é um discurso crescente pela “sustentabilidade”: empresas sustentáveis, processos sustentáveis, produtos sustentáveis. Cada vez mais, vemos empresas investindo sustentabilidade para gerar um impacto positivo na sociedade e manter-se competitivo no mercado. Em muitos casos, a sustentabilidade passou a ser considerada uma premissa de sucesso.

As pessoas estão mudando a forma como vêem o mundo

A nova realidade de consumo  voltada para os impactos positivos da  sustentabilidade é uma tendência mundial. As crises econômicas, desigualdades sociais, desequilíbrios ambientais e distorções éticas que afetam a sociedade como um todo têm sensibilizado cada vez mais as pessoas gerando uma forte mudança de posturas nos consumidores. Vemos o crescimento no número de consumidores mais atentos às consequências de seu consumo, preocupados com questões ambientais, sociais, éticas, de saúde e de segurança.

Nesse contexto, os meios de comunicação, especialmente a internet, têm desempenhado um papel determinante, seja para consolidar boas práticas e hábitos saudáveis, ou para apontar impactos negativos gerados pelas empresas e provocar um posicionamento claro dos consumidores. Já vimos exemplos de situações em que trabalho escravo, poluição ambiental, concorrência desleal ou desrespeito à legislação vigente impactam negativamente os negócios, e nem um bom preço ou uma melhor qualidade do produto podem superar.

Todos esses fatores justificam a crescente mudança de posicionamento das empresas rumo a sustentabilidade. Porém, para defender a bandeira da sustentabilidade, é preciso entender o que esse conceito significa!

Se você acredita que reciclar o lixo, evitar embalagens plásticas, coletar a água da chuva, ou fomentar projetos de reflorestamento é o suficiente para ser sustentável, você precisa rever seus conceitos! Apesar dessas medidas serem positivas e contribuírem para diminuir os impactos ambientais de nossas ações cotidianas, elas mostram a crença (equivocada) de que sustentabilidade está diretamente relacionada somente a questões ambientais!

Mas afinal, o que é sustentabilidade?

A palavra sustentabilidade vem do latim, sustentare, que significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. Esse termo começou a ser discutido no meio político a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente que ocorreu em Estocolmo, em 1972.  

Porém, o conceito de sustentabilidade surgiu em 1987, quando  a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente apresentou na ONU um diagnóstico dos problemas ambientais do planeta. Esse documento ficou conhecido como Relatório Brundtland e estabelecia que o desenvolvimento econômico deveria estar integrado à questão ambiental para a sobrevivência do planeta. (veja a tradução do relatório aqui)

A partir de então, a ONU definiu sustentabilidade como “o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras”.

Alguns anos depois (1994), John Elkington criou o termo Triple Bottom Line, conhecido no Brasil como o Tripé da Sustentabilidade. O autor relacionou à sustentabilidade três dimensões: social, econômico e ambiental.

Cada uma dessas dimensões pode ser entendidas no sentido macro (planeta, país) ou micro (a empresa, o indivíduo). A idéia partiu da premissa de que uma empresa não pode prosperar alheia ao seu contexto, pois é este que lhe fornece recursos naturais e humanos para o seu desenvolvimento.

As três dimensões da sustentabilidade

A dimensão social está relacionada ao capital humano de uma empresa, comunidade ou sociedade. Envolve variáveis sociais como a educação, a equidade, o bem estar, a saúde, a segurança e a qualidade de vida das pessoas envolvidas,

A dimensão ambiental refere-se ao capital natural envolvido, ou seja, variáveis ambientais relacionadas aos recursos naturais, como qualidade do ar, da água, biodiversidade, conservação de energia e uso do solo.

A dimensão econômica diz respeito às causas e efeitos das decisões de negócios. Concentra-se em um crescimento sustentado, cuja economia não se orienta apenas por questões financeiras, e sim por resultados reais de bem-estar social e de capacidade de regeneração dos ecossistemas.

Dessa forma a sustentabilidade se revelou um conceito amplo e complexo que demorou muito tempo para ser completamente entendido e principalmente aplicado na prática.

A mudança de mindset nos negócios

Hoje entende-se que essa é uma questão sistêmica onde tanto os recursos naturais quanto os direitos humanos precisam ser respeitados e protegidos. Por isso, para sermos sustentáveis, nosso pensamento, nossas decisões e nossas ações devem ser economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente aceitas e ecologicamente corretas.

Ou seja, a sustentabilidade depende de nossas escolhas sobre as formas de produção, consumo, habitação e transporte, entre outros, e mais do que isso,  a forma como nos relacionamos  com outras pessoas e com o ambiente, considerando valores éticos, solidários e democráticos.

Os impactos da sustentabilidade nos negócios

Ao compreender para qual direção o mundo está mudando, muitos empreendedores descobriram que, ser social e ambientalmente responsável não é apenas uma obrigação, é também uma oportunidade de incorporar vantagens competitivas ao seu negócio. Ou seja, eles viram os impactos positivos da sustentabilidade nos negócios

Mas investir em sustentabilidade é um grande desafio. Não basta aderir a propostas ambientais de viés sustentável. O mais importante é mudar a forma de pensar a atuação da empresa e incorporar a sustentabilidade no coração do negócio.

Isso exige que os líderes empresariais repensem questões estratégicas fundamentais, incorporando a sustentabilidade à cultura da empresa como um valor, um propósito, uma filosofia.  A partir daí, a estratégia do negócio deve direcionar suas ações aos objetivos sutentáveis em todos os setores da empresa. Mas para assegurar que isso se realize, é essencial o engajamento de todo o corpo de funcionários.

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Tempo, Clima, Aquecimento Global e Mudanças Climáticas: entendendo as diferenças.

Tempo, Clima, Aquecimento Global e Mudanças Climáticas: entendendo as diferenças.

Afinal, você sabe o que são mudanças climáticas? Será mesmo que estas mudanças do clima estão sendo vivenciadas apenas no degelo dos polos? De que forma você pode identificar essas mudanças na sua vida?

Atualmente as mudanças climáticas são consideradas a maior ameaça ambiental do século XXI, com profundas consequências em todas as áreas da sociedade. Esse tema vem ganhando destaque na mídia e em discussões de várias áreas da sociedade especialmente entre cientistas e políticos, e hoje esse fenômeno é considerado o principal condicionante para a sustentabilidade do planeta.

Sabemos que, durante a história evolutiva da terra, o planeta enfrentou muitos episódios naturais de resfriamento e aquecimento climático de grande magnitude. Porém, esses episódios foram consequência de causas naturais, relacionadas a variações da energia solar, da órbita terrestre ou da erupção de grandes vulcões, que alteraram a composição química da atmosfera.

 

Entretanto, as mudanças climáticas que estamos vivendo agora têm uma característica diferente das anteriores: a interferência da ação humana, chamada ação antrópica.  A partir da Revolução Industrial no século XIX, o homem mudou seus padrões de produção e consumo, e passou a usar de forma desmedida os combustíveis fósseis tais como o carvão mineral e o petróleo como principais fontes de energia. A queima desses combustíveis foi responsável pela emissão de quantidades significativas de gases poluentes (especialmente o gás carbônico).O incremento substancial desses gases na atmosfera é considerado pelos estudiosos a principal causa das mudanças climáticas, pois isso provocou um aumento gradativo da temperatura da atmosfera e da superfície terrestre, ou seja, o aquecimento global. Essa situação tem muitas variáveis envolvidas com consequências sociais, econômicas e ambientais que tornam o tema bastante complexo.

As pesquisas sobre aquecimento global e mudanças climáticas

As primeiras teorias sobre um possível aquecimento global ocorreram durante o século XIX e motivaram o início das observações sistematizadas do clima. A partir do século XX os estudos científicos baseados em dados reais se intensificaram gerando uma extensa bibliografia especializada sobre o tema. Entretanto, até o início dos anos 80, os estudiosos tiveram grande dificuldade de inserir suas conclusões nos debates políticos.

As mudanças climáticas ganharam importância e visibilidade somente no final da década de 1980, quando as Nações Unidas apoiaram uma iniciativa da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP)para a criação de uma organização científico-política para acompanhar as descobertas científicas sobre as mudanças climáticas. Daí, surgiu em 1988 o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, conhecido internacionalmente por sua sigla em inglês (IPCC).

O IPCC (vinculado à ONU) é consideradoa maior autoridade mundial sobre aquecimento global pois é formado pelos mais renomados cientistas de todo o mundo. Trata-se de uma organização que não desenvolve pesquisas ou coleta dados, mas analisa as informações científicas, técnicas e socioeconômicas mundiais que auxiliam no entendimento das mudanças climáticas. Os especialistas trabalham de forma voluntária revisando as publicações científicas mais recentes com o objetivode sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticase o aquecimento global.

Até o momento, o IPCC produziu cinco relatórios (1991, 1996, 2001, 2007 e 2014). Como estes relatórios abrangem várias áreas de conhecimento, os especialistas são organizados em 3 grupos de trabalho. Cada um dos grupos de trabalho é responsável por sintetizar a evolução da ciência em uma temática:

  1. Grupo de trabalho 1 (WG1): avalia os aspectos físicos do sistema climático e das mudanças do clima;
  2. Grupo de trabalho 2 (WG2): analisa a vulnerabilidade aos impactos das mudanças do clima, as oportunidades identificadas, e as opções de adaptação a essas mudanças;
  3. Grupo de trabalho 3 (WG3): avalia opções de mitigação às mudanças do clima através diminuição das emissões de gases de efeito estufa e/ou através da promoção de atividades de captura desses gases da atmosfera.

Cada um dos relatórios estabeleceu um nível de entendimento científico sobre as mudanças do clima. À medida que as pesquisas evoluíram, o nível de confiança nos resultados apresentados foi aumentando.

O primeiro relatório de avaliação do IPCC (1990)  afirma que os cientistas têm certeza de que as emissões atividades humanas estão aumentando substancialmente as concentrações atmosféricas de GEEs resultando, em média, em um aquecimento adicional da superfície da Terra.

O segundo relatório (IPCC,1995) afirma que a balança de evidências sugere um discernimento influência humana no clima global.

O terceiro relatório (IPCC, 2001)  afirma que há evidências novas e mais fortes de que a maioria o aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível às atividades humanas.

O quarto relatório (IPCC, 2007) afirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, e que a maior parte do aquecimento recente é resultado da atividade humana.

As conclusões do último relatório do IPCC (2014) têm sido amplamente aceitas pela comunidade científica e indicam que:

  1. As mudanças climáticas estão realmente ocorrendo e foram causadas pelas atividades humanas;
  2. Essas mudanças estão em aceleração e já provocam impactos perigosos em todos os continentes e no oceano;
  3. Somente mitigar as emissões de gases de efeito estufa não é mais suficiente para enfrentar essas mudanças. É necessário implementar medidas de adaptação para o clima em mudança;
  4. Ainda é possível manter o aquecimento global abaixo do limite acordado politicamente no Acordo de Paris (2015), de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Porém, para garantir um futuro climático seguro é necessário tomar medidas imediatas. Quanto maior for a demora, mais difícil será de manter as metas de temperatura aceitáveis;
  5. Uma das soluções mais defendidas consiste em investir em fontes renováveis de energia para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar o aquecimento global;
  6. O aumento da resiliência aos riscos climáticos está diretamente ligado à capacidade de tomar decisões que permitam a redução das vulnerabilidades e da exposição e o consequente aumento da capacidade de adaptação.

Todos os relatórios do IPCC estão disponíveis no site da organização (www.ipcc.ch) para que qualquer pessoa possa consultá-los. A idéia é de que a população em geral e especialmente aos formuladores de políticas públicas tenham acesso à informação precisa e confiável sobre tudo o que tem sido descoberto sobre as mudanças climáticas. Porém, por se tratar de um documento científico, ele é apresentado em uma linguagem específica direcionada a especialistas, diferente daquela que as pessoas estão acostumadas no dia a dia. Contudo, a linguagem complexa, a apresentação de muitos dados e a profundidade da abordagem dificultam o entendimento do documento e desestimulam o interesse das pessoas pela leitura.

Entendendo o aquecimento global e as mudanças climáticas

A divulgação de informações sobre as mudanças climáticas é considerada uma tarefa desafiadora pois envolve dados científicos e conceitos técnicos muitas vezes desconhecidos da população em geral. Além disso, essa é uma temática complexa pois engloba várias áreas do conhecimento e atinge os mais diversos setores e atividades da vida humana.

Por essa razão, a educação ambiental e a conscientização das pessoas sobre o assunto é o primeiro passo para avançarmos com ações efetivas para enfrentar essa nova situação, por vezes tão assustadora. Sendo assim, quanto mais simples e clara forem as informações disponibilizadas às pessoas, maior será o entendimento do tema e por conseguinte, mais pessoas poderão se envolver nessa causa tão importante e urgente.

Pensando nisso, resolvi inicialmente elucidar alguns termos utilizados nas discussões sobre mudanças climáticas que apresentam discordâncias de entendimento entre especialistas e a população em geral.

O primeiro deles tem a ver com o conceito de “clima”. Normalmente as pessoas no Brasil utilizam a palavra “clima” em duas situações distintas:

  1. Para se referir às condições do tempo, como variações de chuvas ou da temperatura em períodos de curtíssimo prazo, ou seja, dias, no máximo semanas. Por exemplo: “Como está o clima em São Paulo hoje?” ou “O clima esteve chuvoso na última semana!”
  2. Para se referir a fenômenos de longo prazo, mais permanentes, que definem as características locais. Por exemplo: “O clima em Brasília é muito seco no inverno.”

Mas para os especialistas, o “clima” é a condição média das condições do tempo em um determinado local. O sistema climático é composto por uma série de variáveis (temperatura, pressão, ventos, umidade, precipitação, correntes marítimas, etc.) interligadas entre si. Para que o clima de um local seja determinado, é observada a média de dados estatísticos sobre essas variáveis, estabelecendo-se assim normais climatológicas para cada período do ano (normalmente relacionadas às estações), que se repetem durante um período de pelo menos 30 anos.

Portanto, o “clima” é uma condição de longo prazo, ou seja, o clima não muda de uma hora prá outra. Entretanto, ele é naturalmente variável no espaço (de um lugar para outro) e no tempo (em diferentes períodos do ano).

Como sabemos, o Brasil apresenta uma grande variedade de climas. O clima do Nordeste é diferente do Sul, o clima da praia é diferente da serra e assim por diante. Isso ocorre devido à grande extensão do nosso território, e às diferentes características locais, tais como a forma do relevo, a altitude e, a dinâmica das correntes e massas de ar que, associadas, determinam um clima diferente de outro.

Em regra, nos acostumamos com o clima da região em que vivemos e compreendemos a variação das diferentes estações do ano. Mas as mudanças de longo prazo, ao longo dos anos, décadas e séculos, são imprevisíveis e mais difíceis de entender. Elas geram consequências que devem ser melhor compreendidas. Neste contexto é preciso distinguir três conceitos que se relacionam: mudanças climáticas, variabilidade climática e eventos climáticos extremos.

  • A mudança climáticaé uma mudança nas características do clima que ocorre em longo prazo. Essa mudança é identificada com base em testes estatísticos e revela alterações na média e/ou na variabilidade de suas propriedades, e que persiste por um período prolongado, tipicamente décadas ou mais. É o caso do aquecimento global que estamos enfrentando e que vem alterando o clima de todo o planeta.
  • A variabilidade climáticase refere a oscilações periódicas (diárias, sazonais, anuais, interanuais, de vários anos) no clima, sem que haja mudança do clima. Isso inclui as flutuações do clima associadas a eventos como o El Niño (período seco), La Niña (período úmido), as Zonas de Convergência Intertropical (ZCIT) e do Atlântico Sul (ZCAS), bastante conhecidos no Brasil. Por isso muitas vezes percebemos por exemplo que um ano teve um inverno mais seco, ou mais frio, que outro.
  • Um evento climático extremoé um episódio raro em um determinado local e em uma época do ano. As características do chamado clima extremo podem variar de lugar para lugar. Por definição, podem ser ondas de calor ou de frio, fortes chuvas em curtos períodos de tempo, secas prolongadas, furacões, tornados e tempestades costeiras, entre outros.

Na atualidade estamos observando uma mudança climática provocada pelo aumento da temperatura global. Esse fenômeno tem interferido tanto na variabilidade climática, quanto na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos. O aquecimento global tem aumentado a temperatura da atmosfera, considerada uma componente rápida de variação climática, e isso tem influenciado outros componentes de resposta mais lenta: os oceanos, as geleiras e as coberturas de neve.

O último relatório do IPCC (2014) afirma que a influência humana sobre o clima foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo global da água, em reduções de neve e gelo, no aumento global do nível do mar e em mudanças em alguns eventos climáticos extremos. Mudanças na ocorrência de eventos extremos foram observadas por cientistas do mundo todo a partir de 1950. Aqui no Brasil, temos vivenciado um aumento de eventos recorrentes, normalmente relacionados a fenômenos hidro meteorológicos, como a seca prolongada e alguns episódios de inundações (especialmente na última década) na região Nordeste; e as chuvas torrenciais, os deslizamentos de terra, vendavais, granizos, tornados e ciclones tropicais na região Sul.

E então, agora você consegue identificar os efeitos das mudanças do clima em sua vida?