Como a pandemia de COVID-19 afeta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Como a pandemia de COVID-19 afeta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

É tempo de mudança! A pandemia de COVID-19 trouxe consequências para todas as áreas da sociedade. Além de afetar nossa vida, nossos negócios, tratá efeitos negativos aos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Veja no infográfico abaixo, as consequências da pandemia em cada um dos objetivos e suas relações. Para baixar o Infográfico clique aqui.

 

Esse infográfico foi adaptado de material desenvilvido pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU.

Riscos globais e a nossa capacidade de resiliência. O que podemos aprender com o coronavirus?

Riscos globais e a nossa capacidade de resiliência. O que podemos aprender com o coronavirus?

O último relatório do Fórum Econômico Mundial  apresentou um panorama dos riscos globais para o ano de 2020. Os riscos socioambientais  – relacionados, em geral, à crise climática e suas consequências – estão entre os mais perigosos (maior probabilidade de ocorrência e maior impacto). Entretanto, a ocorrência de doenças infecciosas aparece como um risco de grande impacto.

Infelizmente, logo no início do ano, vivenciamos a ocorrência de uma pandemia – o coronavirus – que, apesar de muitos alertas de grupos científicos, nos pegou de surpresa. O mundo virou de cabeça para baixo e estamos tentando nos adaptar a essa nova realidade.

Ao analisar a situação, fica a dúvida sobre a nossa capacidade de resiliência frente a outros futuros riscos globais. Nesse sentido, é importante discutirmos quais os fatores são essenciais para construirmos resiliência a novos distúrbios de grande magnitude e abrangência. É sobre isso que esse artigo vai tratar.

Os riscos globais que podem nos atingir

Vivemos em um ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo. Forças econômicas, demográficas e tecnológicas poderosas estão moldando um novo equilíbrio de poder. Além de um cenário geopolítico instável, questões sociais, ambientais e tecnológicas são componentes dos grandes riscos globais

Infelizmente, esse panorama não é passageiro. É o novo normal. Nesse cenário, nações, cidades, comunidades ou até mesmo empresas, podem enfrentar grandes turbulências no decorrer dos próximos anos. Por isso, precisam estar preparadas para responder às dificuldades e se adaptar a novas realidades.

As mudanças climáticas estão no topo da lista de riscos globais e na origem de vários outros riscos socioambientais, tais como a ocorrência de eventos climáticos extremos, de desastres naturais, perda de biodiversidade, crise hídrica, crise alimentar e novas pandemias. 

Já, a turbulência geopolítica relacionada às tensões comerciais e às rivalidades tecnológicas entre países podem gerar conflitos internacionais e falha da governança global, além de gerar ciber ataques e quebra na infraestrutura de informações.

A solução para qualquer uma das situações não é fácil. Qualquer um desses riscos globais exige respostas rápidas e coordenadas por parte de decisores e uma flexibilidade adaptativa de todos os agentes envolvidos. 

Adaptação transformativa e resiliência a riscos socioambientais

Como vimos em um de nossos artigos,  podemos chamar de resilientes aquelas comunidades ou empresas preparadas para absorver e se recuperar de qualquer tipo de choque ou estresse, mantendo suas funções e estruturas essenciais e sua identidade, e que se mostrem capazes de se adaptar e enfrentar possíveis mudanças. 

Em geral, os riscos globais geram situações socioambientais disruptivas. Por isso, o enfrentamento precisa ser abordado a partir de uma transformação focada na redução de riscos e vulnerabilidades. 

Para aumentar a capacidade adaptativa das pessoas e grupos, torna-se importante alterar a dinâmica e a estrutura dos sistemas, suas relações econômicas e sociais, bem como crenças e comportamentos de indivíduos e grupos. A capacidade de um sistema de se adaptar e tornar-se resiliente está relacionada à sua capacidade de mudar, aprender e inovar. 

O coronavirus nos mostrou isso com muita clareza. Tivemos que mudar nossos hábitos e comportamentos, aprender mais sobre o vírus, as formas de contágio e a doença em si, e encontrar soluções criativas e inovadoras para suprir as nossas necessidades do dia a dia e de nossa sobrevivência.

Esse quadro é muito elucidativo e nos faz refletir se estamos preparados para enfrentar novos riscos globais. A experiência do coronavirus é traumática mas também educadora. Agora estamos cientes de que é preciso fazer muito mais para aumentarmos nossa resiliência socioecológica.

Como vimos recentemente, alguns fatores são capazes de desencadear as interações necessárias para garantir um processo transformador de adaptação. Nesse contexto, o envolvimento dos agentes interessados é um mecanismo essencial para a mudança, o aprendizado é a base fundamental da mudança e a ação coletiva é a maneira de promover a mudança. 

As dimensões sociais no processo de construção de resiliência a riscos globais

Três dimensões sociais e suas interações geram as dinâmicas necessãrias para a construção de resiliência à um risco global. O conhecimento é considerado o motor da mudança, enquanto que a cultura da comunidade ou da empresa e os mecanismos de governança são os agentes da mudança. Cada um desses fatores tem uma função específica e a interação dos três é o que determina a capacidade ou não do sistema de criar resiliência aos desafios socioambientais.

O conhecimento capacita as pessoas e permite ações mais efetivas nos processos participativos de tomada de decisão. Com a ocorrência do coronavírus, a ciência se destacou. As pessoas buscaram se informar e saber mais sobre o assunto para então se posicionarem sobre as decisões tomadas.

Entretanto, é importante que as discussões  estejam centrados no valor de diferentes formas de conhecimento – científica e tradicional – e no papel em particular da ciência. 

O conhecimento local ou tradicional, que baseia-se principalmente na observação, experimentação (processos de tentativa e erro) e na transmissão de conhecimento assimilado de geração para geração, pode ajudar no processo de adaptação em três maneiras: i) exposição biofísica e social; ii) sensibilidade à mudança e variabilidade; e iii) capacidade adaptativa e processos de adaptação. Normalmente é a memória de ocorrências similares que auxilia nesse processo.

Já a cultura desempenha um papel importante na mediação das respostas humanas aos riscos globais. As respostas dependem de como os grupos sociais se relacionam com o ambiente físico ou natural, bem como com os sistemas humanos. Foram muitas as ações coletivas de solidariedade que vimos no enfrentamento do coronavirus, próprias de nossa culura.

Além disso, as soluções são concebidas e implementadas através da cultura. Fatores culturais moldam como as pessoas apoiam as intervenções de adaptação e sua motivação para responder a elas. A experiência cultural reforça ou refina os hábitos, habilidades e estilos com os quais as pessoas constroem “estratégias de ação”. 

Por fim, os mecanismos de governança são as estruturas e processos pelos quais as sociedades compartilham poder, moldam as ações individuais e coletivas. Através desses mecanismos é possível desenvolver as principais capacidades de gerenciar a resiliência: auto-organização, aprendizado e adaptação.

A resiliência é uma característica que pode ser construída. Mesmo de forma intuitiva, à medida que enfrentamos determinados riscos, nos adaptamos à novas realidades e nos tornamos mais resilientes. 

A mudança climática é o mais eminente risco global. Construir resiliência a essa ameaça é essencial. Temos todas as condições para isso. E um eficiente treinamento prévio com o coronavírus.

 

As mudanças do clima geram grandes desafios para as cidades

As mudanças do clima geram grandes desafios para as cidades

O aumento da população urbana é um fenômeno mundial. No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento as taxas de urbanização cresceram significativamente nas últimas décadas. Enquanto no mundo 54% da população vive em cidades, em 2010 os dados do IBGE registravam que 84% da população brasileira já vivia em áreas urbanas. Essa realidade tem múltiplas causas e várias consequências desafiadoras para quem pensa, planeja e gere as cidades. Estar atento a isso é o primeiro passo para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. As aglomerações humanas apresentam-se como fatores responsáveis por uma parte significativa dos problemas ambientais, tais como o desmatamento que provoca o desaparecimento de espécies da fauna e flora; o assoriamento dos rios, que contribui para extinção de espécies aquáticas; a concentração de lixo, que causa a contaminação do solo, ar e água, e expõe a população a doenças; o aumento de áreas impermeabilizadas que altera o escoamento da água, entre outros. Além disso, mais pessoas concentradas em um único lugar, geram maior demanda por bens e serviços, ampliando assim os desafios a serem enfrentados pelos gestores públicos. Todos nós temos uma idéia dos maiores problemas que a rápida urbanização provocou nas cidades e especialmente nas metrópolis brasileiras: grande parte da população vive em favelas; o setor informal claramente cresceu; os serviços básicos são inadequados e muitas vezes inascecíveis, tais como água, saneamento e energia; a mobilidade urbana é deficiente, a expansão urbana é desordenada; existem conflitos políticos e sociais sobre o uso de recursos naturais; e os níveis de vulnerabilidade a desastres naturais são altos. Porém, esses desafios são coletivamente agravados pelas mudanças climáticas. A crescente intensidade e freqüência dos efeitos das mudanças climáticas previstos para as próximas décadas representam uma ameaça para o equilíbrio dos sistemas urbanos em todo o mundo. Nesse sentido planejadores e gestores urbanos precisam ter em mente 4 questões fundamentais:
  • Primeiro: qualquer planejamento urbano de longo prazo que visa um desenvolvimento mais sustentável deve levar em consideração os impactos das mudanças climáticas pois, sem isso, os ganhos de desenvolvimento de hoje podem ser perdidos amanhã.
  • Segundo: as formas como nossas cidades são planejadas e operam – bem como os estilos de vida das pessoas que vivem nelas – são os principais contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa que causam a mudança climática. As ações humanas e as próprias características da cidade, como morfologia, densidade e uso dos materiais, podem influenciar na composição da atmosfera e no comportamento das variáveis meteorológicas como radiação, temperatura, circulação do ar e precipitação.
  • Terceiro: o crescimento urbano será cada vez mais impulsionado pela migração rural-urbana induzida por mudanças climáticas.
  • Quarto: a rápida urbanização revela o aumento de populações em favelas, aumentando o número de assentamentos irregulares e informais, a demanda por habitação e serviços básicos, ampliando assim a pressão sobre a terra e os ecossistemas. As diferenças sociais e a pobreza levam as populações menos favorecidas a ocupar áreas ambientalmente frágeis que não deveriam ser ocupadas tais como encostas de morros, regiões costeiras, deltas dos rios e áreas muito baixas. Essas áreas são mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas e podem desencadear verdadeiros desastres naturais.
Aumento de temperatura, alteração na precipitação, interferência no regime de ventos e subida do nível do mar são os principais efeitos das mudanças climáticas. A crescente intensidade desses efeitos e a alteração da frequência prevista para as próximas décadas representam uma ameaça ao equilíbrio dos sistemas urbanos em todo o mundo. Esses efeitos podem causar impactos nas estruturas urbanas que compreendem o ambiente construído, natural e as pessoas, de modo a causar danos que podem vir a comprometer a dinâmica das cidades. A ocorrência de desastres climáticos depende especificamente da vulnerabilidade de determinadas comunidades, ou seja, das relações entre a exposição ao risco e a sua capacidade de adaptação. O comportamento humano é determinante para definir o grau do risco e a capacidade de resiliência do sistema.Assim, os impactos das mudanças climáticas sobre a infra-estrutura física urbana, economias, saúde pública e segurança são discutidos em função da vulnerabilidade de grupos ​​específicos. Alguns conceitos são fundamentais para compreender os processos naturais como riscos e identificar o que torna uma sociedade vulnerável às mudanças climáticas:
  • Os riscos são previsíveis a partir de uma avaliação científica, ou seja, podem reduzir-se os efeitos de um evento perigoso com previsão e alerta. A partir de qualquer outro evento precursor é possível identificar a localização de um risco e determinar a probabilidade de que aconteça um evento de uma determinada magnitude.
  • A análise de risco é um componente importante na compreensão dos efeitos de processos perigosos. Sem conhecer o perigo, não é possível agir de forma a minimizá-lo ou até mesmo evitá-lo.
  • Existem vínculos entre diferentes riscos naturais, assim como entre os riscos e o meio físico. O impacto de um perigo é em parte função de sua magnitude, e do intervalo de eventos, ou seja, sua frequência, mas também está relacionado a outros fatores, como clima, geologia, vegetação, população e especificamente o uso do solo, fator de origem essencialmente antropogênica.
  • Eventos perigosos que antes produziam desastres, agora produzem catástrofes. Isso se dá principalmente pelo crescimento da população e sua concentração em determinadas áreas (áreas urbanas), fazendo com que os danos econômicos, sociais e ambientais adquiram dimensões muito maiores.
A partir do conhecimento da dinâmica de um determinado tipo de evento climático é possível adotar uma resposta preventiva de forma a evitar os riscos ou adaptar-se a eles. Para tanto algumas ações são necessárias, tais como: planejamento do uso do solo, investimento em seguro, formulação de estratégias de adaptação, a preparação das pessoas frente ao risco de desastre através do treinamento, e controle artificial de processos naturais. Nesse processo, a busca pela informação precisa e confiável, a forma como ela é disseminada através de ferramentas de comunicação, além do envolvimento da população a partir de mecanismos de participação podem fazer a diferença.
Por que precisamos falar urgentemente em Resiliência?

Por que precisamos falar urgentemente em Resiliência?

Você sabe o que significa resiliência? O que esse termo tem a ver com a greve dos caminhoneiros? Que lições podemos tirar dessa crise para a construção da resiliência às mudanças climáticas?

Uma greve de caminhoneiros provocou essa semana, uma crise de abastecimento em todo o país e a consequente interrupção de serviços urbanos básicos, tais como transporte público, recolha de lixo, abastecimento de água, de gás e a oferta de serviços de saúde, entre outros.

A luz vermelha se acendeu!! Até que ponto nossas cidades são resilientes a uma crise que, por ventura, possa ser provocada por algum evento climático extremo?

Em geral, a resiliência é entendida como a capacidade de um determinado sistema para recuperar o seu equilíbrio depois de ter sofrido uma perturbação. Mas essa descrição um tanto reducionista não se aplica a um sistema complexo como uma cidade, exposta a uma grande diversidade de riscos. Podemos chamar de cidades resilientes aquelas preparadas para absorver e se recuperar de qualquer tipo de choque ou estresse, mantendo suas funções e estruturas essenciais e sua identidade, e que se mostrem capazes de se adaptar e enfrentar possíveis mudanças. Mas a resiliência urbana é uma característica construída ao longo do desenvolvimento e do crescimento urbano. Para tanto, é necessário um planejamento urbano estratégico e sustentável, que leve em consideração alguns princípios fundamentais de resiliência.

A experiência dessa semana mostrou a grande fragilidade dos nossos sistemas urbanos cujo  abastecimento de bens e insumos é suportado apenas pelo transporte rodoviário.  Essa situação rompe com o princípio essencial da resiliência: Manter a diversidade e a redundância. Esse princípio defende que sistemas com muitos componentes diferentes (no caso, outros tipos de transporte de cargas como o ferroviário, fluvial, marítimo e aéreo) são geralmente mais resilientes do que um sistema com poucos componentes (situação do Brasil). Além disso, a redundância (disponibilidade do recurso superior à sua necessidade) garante a segurança dentro de um sistema, permitindo que alguns componentes compensem a perda ou a falha de outros. Vale aquele ditado: “não coloque todos os ovos na mesma cesta”.

Mas no caso específico da greve dos transportes de cargas, ainda temos outro aspecto agravante: a dependência dos combustíveis fósseis, especificamente o óleo diesel. No Brasil, tanto os transportes de carga, quanto os transportes públicos e de particulares seguem a mesma matriz energética focada no petróleo. E esse produto também é distribuído por rodovias. Essa situação nos coloca à mercê de muitas variáveis que podem ser afetadas em uma crise, tais como a disponibilidade do produto (seja por produção própria ou importação), a capacidade de distribuição e abastecimento,  e a variabilidade dos preços em função das políticas adotadas. Aliás, essa semana ficou claro o equívoco estratégico das políticas de transporte que tem sido adotadas há décadas segidas tanto em nível nacional, quanto local.

Se fizermos um contraponto do que ocorreu essa semana,  avaliando a nossa capacidade de resiliência à uma crise de abastecimento e relacionarmos com os possíveis impactos associados à mudança climática, fica evidente a necessidade de repensarmos as dinâmicas urbanas de nossas cidadesE a questão do transporte é crucial em um contexto de mudanças climáticas.

Os transportes representam uma parcela significativa (14%) na emissão de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global e ao mesmo tempo, constituem um setor estratégico no caso de perturbações provocadas por eventos climáticos extremos. Sendo assim, é fundamental  uma atenção especial às políticas públicas que definem a estrutura modal de transportes e a matriz energética que movem o país e as cidades. E prá isso, além da demanda por investimento financeiro, é essencial a vontade política de mudar, o que no Brasil, pode ser a tarefa mais complexa.

Vale aqui listar algumas medidas sustentáveis adotadas em muitos países que podem servir de inspiração para a nossa mudança: o investimento em ciclovias, a diversificação  de meios de transporte, como o uso de trens, metrôs e barcos,  a ampliação da rede de transporte público, o incentivo à implementação de veículos elétricos e movidos a biocombustíveis e o financiamento de pesquisas em novas tecnologias para transportes e combustíveis.

  • Foto: Pablo Jacob / Agencia O Globo
A vulnerabilidade às mudanças climáticas e os desafios da adaptação

A vulnerabilidade às mudanças climáticas e os desafios da adaptação

Nos últimos anos, a vulnerabilidade às mudanças climáticas têm se tornado uma temática frequente. Nas mais diferentes partes do mundo, as pessoas  estão sendo confrontadas com a realidade das mudanças climáticas. As comunidades vulneráveis são as mais afetadas pois não possuem estratégias de enfrentamento eficazes para lidar com os desafios que enfrentam. Por isso,  os desafios da adaptação são enormes e exigem um conhecimento especializado sobre o tema. Já falamos sobre isso por aqui. 

O tamanho do desafio 

O Relatório de Impacto Humano das Mudanças Climáticas, denominado “A Anatomia de uma Crise Silenciosa”  apresentado em 2009 pelo Fórum Humanitário Global (organização internacional sem fins lucrativos com sede em Genebra, Suíça) apresenta números assustadores. O documento indica que a cada ano as mudanças climáticas deixam mais de 300.000 mortos. Além disso, 325 milhões de pessoas seriamente afetadas e perdas econômicas de 125 bilhões de dólares. Quatro bilhões de pessoas são vulneráveis, e 500 milhões de pessoas estão em risco extremo. 

A última edição do Índice Global de Risco Climático publicada nesse início de ano (2018) reúne dados de 1997 até 2016. o Índice  destaca o Haiti, o Zimbabwe e as Ilhas Fiji como países mais afetados por desastres relacionados ao clima no ano de 2016. Entretanto, Honduras, Mianmar e Haiti se classificam entre os primeiros na análise dos últimos 20 anos. Isso ocorre devido a uma sequência de eventos excepcionalmente devastadora, como o furacão Sandy no Haiti e o furacão Mitch em Honduras.

Porém, o pior deles foi o ciclone Nargis que atingiu Myanmar em 2008 . Ele foi responsável por uma perda estimada de 140 mil vidas, com aproximadamente 2,4 milhões de pessoas afetadas. Por outro lado, países como Filipinas, Nicarágua e Bangladesh são considerados os países mais críticos a ocorrência de desastres relacionados ao clima. Todos os anos, os tufões, tempestades tropicais, inundações e deslizamentos de terra os ameaçam, com um grande número de mortes e de pessoas afetadas.

A análise deste ano reconfirma os resultados anteriores do Índice de Risco Climático (IRC): os países menos desenvolvidos são geralmente mais afetados do que os países industrializados.

Em relação à mudança climática futura, o IRC pode servir como um sinal vermelho para a vulnerabilidade já existente.  Essa vulnerabilidade pode aumentar ainda mais em regiões onde os eventos extremos se tornarão mais frequentes ou mais graves. Entretanto nem todos os países dão afetados da mesma forma. Enquanto alguns países em desenvolvimento ​​são freqüentemente atingidos por eventos extremos, para outros, tais desastres são uma ocorrência rara.

 A situação no Brasil

No Brasil,  a edição de 2013 do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais  avalia as ocorrências  de desastres entre 1991 e 2012.  Apesar da crescente freqüência de secas em muitas regiões do país, os deslizamentos de terra representam, de longe, o tipo de desastre mais grave. Isso ocorre pois  esse tipo de desastre apresenta mais probabilidades de resultar em perda de vidas humanas.

Os danos dessas ocorrências podem ter grandes dimensões econômicas, ambientais e sociais. Em uma situação dessas pode provocar muitas consequencias. O bloqueio de rodovias  é uma delas, limitando  o movimento das pessoas e gerando problemas de abastecimento. Além disso,  a destruição da paisagem urbana torna as áreas atingidas mais vulneráveis ​​a novos eventos. Entretanto, o  mais grave,  é o soterramento  de áreas inteiras, enterrando casas  e provocando sofrimento e perdas humanas.

Inundações, enxurradas e deslizamentos de terra são relativamente freqüentes no Brasil, e geralmente ocorrem nas estações chuvosas. Segundo dados de 2014 do Ministério da Integração Nacional, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Santa Catarina são as regiões que mais sofrem com estes problemas. Infelizmente esses eventos aumentaram muito nos últimos anos devido ao crescimento não planejado das cidades. Outra causa é o mau uso das bacias hidrográficas, especialmente relacionado ao desmatamento. As populações mais afetadas são aquelas excluídas socialmente que, por falta de condições econômicas, ocupam áreas ambientalmente frágeis, como as encostas de morros, regiões costeiras, deltas do rio e áreas muito baixas baixas.

 Os desafios futuros

O Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) divulgado em 2014 apresenta para os próximos anos e décadas uma perspectiva adversa para pessoas e comunidades desfavorecidas, independentemente do nível de desenvolvimento do país. Segundo o relatório, as mudanças climáticas causarão impactos generalizados nos sistemas socioecológicos. Além disso, esses riscos serão ampliados, surgirão novos riscos e sua distribuição será desigual.

De acordo com o relatório “Entendendo a Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas”, divulgado em 2011 pela CARE Poverty Environment and Climate Change Network, um centro internacional de informações sobre Mudanças Climáticas e Resilência, as mudanças climáticas serão sentidas de forma desigual por diferentes comunidades e indivíduos, com base em suas características únicas.

E, embora o aquecimento global seja apontado como um fator que contribui para o aumento do número de desastres naturais, à medida que aumenta a freqüência e intensidade de grandes chuvas, as características biofísicas e as condições socioeconômicas locais são de grande importância nesta análise.

Além das condições geológicas e climáticas, existem processos externos que geralmente caracterizam os desastres naturais e contribuem indiretamente para a intensificação dos fenômenos. São principalmente aqueles processos induzidos por ações humanas, tais como as ocupações em áreas de risco, o desmatamento, e especialmente as omissões governamentais quanto a esses fatores.

O grande desafio é desenvolver estratégias de adaptação que levem em conta essas características específicas. Os impactos desproporcionados nessas comunidades estão muitas vezes ligados à pobreza e à falta de infraestrutura básica, o que, combinados com a falta de informação, podem limitar a capacidade de adaptação das pessoas.

Nesse sentido, existe uma necessidade urgente de examinar como as comunidades estão lidando com essa situação e que opções elas têm para aumentar autonomamente sua resiliência.

O conhecimento sobre o tema

A complexidade das mudanças climáticas dificulta em muito a abordagem do problema. Apesar dos estudos avançados sobre o assunto, ainda existem grandes lacunas de conhecimento a preencher e as surpresas diante de eventos extremos são inevitáveis, especialmente no que se refere às incertezas da natureza, da magnitude e da intensidade dos possíveis eventos, as especificidades locais e sua consequente vulnerabilidade.

Os estudos nos últimos anos sobre o tema “Adaptação” revelam que a confirmação sobre os futuros impactos das mudanças climáticas, com riscos ampliados para determinadas regiões promoveu um novo entendimento sobre o conceito de adaptação. Os estudiosos afirmam que a abordagem incremental da adaptação defendida nas últimas duas décadas especialmente pelo IPCC, pode não ser suficiente para enfrentar os desafios climáticos em comunidades vulneráveis. Essa abordagem baseia-se em intervenções técnicas pontuais e em programas de formação para minimizar os riscos associados a impactos climáticos específicos.

As novas abordagens da adaptação

Nos últimos anos, o meio científico tem apontado a necessidade de uma transição nos processos de adaptação às mudanças climáticas que adotem ações mais sistêmicas ou transformativas, com iniciativas que respondam às necessidades e aspirações das comunidades vulneráveis. Isso envolve mudanças na dinâmica e na estrutura dos sistemas, nas relações econômicas e sociais, bem como nas crenças e nos comportamentos individuais e de grupos.

Esse tipo de abordagem é muito importante em países em desenvolvimento, pois diluem os investimentos e aumento a capacidade adaptativa das comunidades a partir do conhecimento e da mudança de comportamentos que aumentam suas vulnerabilidades.

Essa transformação deve ocorrer em três áreas interligadas da vida urbana: na esfera prática, política e pessoal. A esfera prática envolve comportamentos e respostas técnicas que podem incluir inovações sociais e tecnológicas. A esfera política envolve sistemas e estruturas que apoiam as transformações na esfera prática. Por fim,  a esfera pessoal envolve crenças, valores, visões de mundo e paradigmas que determinam como os sistemas e as estruturas são entendidos, e quais os tipos de soluções a serem adotadas.

Tais situações demandam uma compreensão mais ampla dos fatores envolvidos nas causas da vulnerabilidade climática local e especialmente uma reflexão sobre a forma como os vários setores da sociedade se relacionam com o ambiente natural.

 

 

 

 

 

 

Até quando nossos líderes irão ignorar as mudanças do clima?

Até quando nossos líderes irão ignorar as mudanças do clima?

Chega o fim da tarde e ela olha para o céu: lá vem chuva de novo! Desce um frio na coluna pois, pela cara do tempo, ela prevê como serão as próximas horas nas redondezas….pavor, destruição, sofrimento.  A água não tem dado trégua…quando vem, vem com intensidade e rapidamente. Isso não é nenhuma novidade por aqui, mas parece que as consequências são cada vez piores… casas destruídas; pessoas desalojadas, desaparecidas, feridas; muitos danos e prejuízos. No final, ela ouve desolada as avaliações simplistas das autoridades:

“Foi a força da natureza!”

Essa estórinha é uma constante em muitos municípios brasileiros.

Sim, é a natureza respondendo às agressões que sofreu nos últimos séculos. Durante muito tempo a humanidade quis usufruir mais e mais de seus avanços tecnológicos e o consumismo desenfreado aproveitou ao máximo os recursos naturais disponíveis. Agora sabemos quais as consequências de tudo isso…o clima está mudando!

No meio científico há um grande consenso sobre a ocorrência das mudanças do clima. Considera-se que elas são provocadas pelo aquecimento global, fruto do estilo de vida moderno que liberou em excesso no ar os gases de efeito estufa. Esses gases fazem com que o calor emitido pelo sol fique preso na atmosfera. Assim, a temperatura do ar aumenta, o regime de ventos e de chuvas se altera e o nível do mar sobe.

É claro que tudo isso tem reflexos devastadores sobre o homem, o ambiente construído e a natureza. Temos sentido os impactos literalmente na pele: secas prolongadas, chuvas intensas em curtos períodos de tempo, ondas de calor, poluição, tempestades, erosões costeiras e inundações. Com isso, o abastecimento de água e energia, a qualidade do ar e da água, as insfraestruturas urbanas, a produção de alimentos, o turismo, a indústria, a pesca, a segurança, o bem estar e a saúde das pessoas são gravemente afetadas gerando perdas ambientais, socias e econômicas.  Em maior ou menor grau, todos nós sofremos com isso. Depende apenas de onde moramos, das características biofísicas de nossa cidade, do quanto dependemos dos recursos naturais e das condições climáticas para nossa subsistência, mas principalmente das condições politicoinstitucionais locais que podem oferecer maiores ou menorescondições para que a comunidade local enfrente essas situações.

Entretudo, apesar da evolução científica nas últimas décadas relacionada às mudanças do clima, causas, consequências e respostas adequadas, a população em geral não consegue perceber os reflexos positivos desse avanço no seu cotidiano. E geralmente as comunidades mais vulneráveis são aquelas mais pobres e marginalizadas, que moram em bairros periféricos ou ocupações ilegais, desprovidas de infraestrutura e serviços urbanos de qualidade, e sem conhecimento e poder junto ao poder local para reinvidicar melhores condições.

Para preencher essa lacuna entre o que os cientistas sabem para facilitar e melhorar a vida das pessoas, e o que acontece na prática, é necessário uma atitude proativa de decisores e formuladores de políticas públicas, ou seja, dos governantes locais.

Está claro através de sucessivos desastres vivenciados por inúmeras comunidades brasileiras que não é mais possível adotar as mesmas soluções até então adotadas para enfrentar os desafios climáticos atuais.  Uma questão essencial é admitir que o clima está mudando e, principalmente, que temos que olhar mais para o futuro do que para o passado. Não basta apenas conhecer o histórico de desastres climáticos locais…é necessário associar a isso as novas tendências de cenários futuros. Essa não é uma tarefa fácil, implica em conhecimento especializado e multidisciplinar. Mas, para obtermos resultados diferentes, é necessário fazermos diferente. Isso exige vontade política, liderança, comprometimento e envolvimento da comunidade.

Em muitos municípios do país já existe um avanço enorme nessa área com a implementação de planos e medidas de gestão de riscos de desastres. As diretrizes de nossos Órgãos de Proteção e Defesa Civil são modernas e inovadoras. Elas acompanham as recomendações internacionais que têm como grande característica positiva, a mobilização comunitária. Mas infelizmente, nem tudo que está no papel é colocado em prática. No Brasil, a cultura da decisão centralizada ainda está muito arraigada na administração local: os governantes decidem e as outras partes interessadas não participam da decisão…o que é uma pena pois na busca por soluções, acaba-se por deixar de fora quem realmente vive o problema no dia a dia e conhece todas as suas demandas.

Porém a gestão de riscos de desastres é apenas parte da solução. Se o clima está mudando, não podemos pensar apenas em abordar eventos extremos, mas temos sim que encontrar formas de adaptar o nosso cotidiano a essa nova realidade climática. Um clima diferente daquele que sempre estivemos acostumados a viver nem sempre significa um prognóstico ruim. Conhecer a nossa realidade local (econômica, social e ambiental) e associá-la aos cenários climáticos futuros pode nos revelar novas oportunidades a serem exploradas. Um exemplo disso é o amplo crescimento nos últimos anos de empresas voltadas para a produção de energias limpas…elas protegem o ambiente, geram emprego, renda e garantem o bem estar da população a partir de fontes renováveis de energia. Talvez, se não tivessemos esse panorama de mudanças climáticas, onde um dos grandes vilões é o uso de combustíveis fósseis, como o petróleo, essa nova realidade cheia de grandes oportunidades não estaria acontecendo.

Entretanto, assim como as oportunidades que podem surgir, temos que estar atentos também às novas limitações e riscos que possamos enfrentar, sejam eles relacionados à saúde, segurança e bem estar das pessoas, a questões econômicas como a alteração na produção de determinados alimentos, a inviabilização de alguns investimentos, e ainda a questões ambientais como prejuizos à biodiversidade, entre outros.

Portanto, em um momento de clima em transição, quando falamos em adaptação às mudanças climáticas, temos que ter em mente três questões essenciais:

  • a mitigação, ou seja, adotar medidas para reduzir os impactos nocivos das mudanças climáticas;
  • a redução de riscos de desastres, através de medidas específicas em caso de ocorrência local de eventos climáticos extremos;
  • a adaptação à realidade climática em transição, com suas possíveis restrições e oportunidades.

Está na hora de nossos líderes assumirem que o clima está mudando muito mais rápido do que nossas respostas a isso. E que a principal abordagem para essa situação é promover o quanto antes iniciativas locais de adaptação “com” as mudanças do clima, processo esse que envolve todos as partes interessadas. Dessa forma será possível identificar adequadamente a dimensão do problema na realidade local, além de promover soluções criativas e de baixo custo, que podem ser implementadas de forma autônoma e independente pela própria comunidade. Esse envolvimento da comunidade é essencial, pois garante um respaldo político às decisões tomadas e uma maior eficiência das soluções adotadas.