Riscos globais e a nossa capacidade de resiliência. O que podemos aprender com o coronavirus?

Riscos globais e a nossa capacidade de resiliência. O que podemos aprender com o coronavirus?

O último relatório do Fórum Econômico Mundial  apresentou um panorama dos riscos globais para o ano de 2020. Os riscos socioambientais  – relacionados, em geral, à crise climática e suas consequências – estão entre os mais perigosos (maior probabilidade de ocorrência e maior impacto). Entretanto, a ocorrência de doenças infecciosas aparece como um risco de grande impacto.

Infelizmente, logo no início do ano, vivenciamos a ocorrência de uma pandemia – o coronavirus – que, apesar de muitos alertas de grupos científicos, nos pegou de surpresa. O mundo virou de cabeça para baixo e estamos tentando nos adaptar a essa nova realidade.

Ao analisar a situação, fica a dúvida sobre a nossa capacidade de resiliência frente a outros futuros riscos globais. Nesse sentido, é importante discutirmos quais os fatores são essenciais para construirmos resiliência a novos distúrbios de grande magnitude e abrangência. É sobre isso que esse artigo vai tratar.

Os riscos globais que podem nos atingir

Vivemos em um ambiente volátil, incerto, complexo e ambíguo. Forças econômicas, demográficas e tecnológicas poderosas estão moldando um novo equilíbrio de poder. Além de um cenário geopolítico instável, questões sociais, ambientais e tecnológicas são componentes dos grandes riscos globais

Infelizmente, esse panorama não é passageiro. É o novo normal. Nesse cenário, nações, cidades, comunidades ou até mesmo empresas, podem enfrentar grandes turbulências no decorrer dos próximos anos. Por isso, precisam estar preparadas para responder às dificuldades e se adaptar a novas realidades.

As mudanças climáticas estão no topo da lista de riscos globais e na origem de vários outros riscos socioambientais, tais como a ocorrência de eventos climáticos extremos, de desastres naturais, perda de biodiversidade, crise hídrica, crise alimentar e novas pandemias. 

Já, a turbulência geopolítica relacionada às tensões comerciais e às rivalidades tecnológicas entre países podem gerar conflitos internacionais e falha da governança global, além de gerar ciber ataques e quebra na infraestrutura de informações.

A solução para qualquer uma das situações não é fácil. Qualquer um desses riscos globais exige respostas rápidas e coordenadas por parte de decisores e uma flexibilidade adaptativa de todos os agentes envolvidos. 

Adaptação transformativa e resiliência a riscos socioambientais

Como vimos em um de nossos artigos,  podemos chamar de resilientes aquelas comunidades ou empresas preparadas para absorver e se recuperar de qualquer tipo de choque ou estresse, mantendo suas funções e estruturas essenciais e sua identidade, e que se mostrem capazes de se adaptar e enfrentar possíveis mudanças. 

Em geral, os riscos globais geram situações socioambientais disruptivas. Por isso, o enfrentamento precisa ser abordado a partir de uma transformação focada na redução de riscos e vulnerabilidades. 

Para aumentar a capacidade adaptativa das pessoas e grupos, torna-se importante alterar a dinâmica e a estrutura dos sistemas, suas relações econômicas e sociais, bem como crenças e comportamentos de indivíduos e grupos. A capacidade de um sistema de se adaptar e tornar-se resiliente está relacionada à sua capacidade de mudar, aprender e inovar. 

O coronavirus nos mostrou isso com muita clareza. Tivemos que mudar nossos hábitos e comportamentos, aprender mais sobre o vírus, as formas de contágio e a doença em si, e encontrar soluções criativas e inovadoras para suprir as nossas necessidades do dia a dia e de nossa sobrevivência.

Esse quadro é muito elucidativo e nos faz refletir se estamos preparados para enfrentar novos riscos globais. A experiência do coronavirus é traumática mas também educadora. Agora estamos cientes de que é preciso fazer muito mais para aumentarmos nossa resiliência socioecológica.

Como vimos recentemente, alguns fatores são capazes de desencadear as interações necessárias para garantir um processo transformador de adaptação. Nesse contexto, o envolvimento dos agentes interessados é um mecanismo essencial para a mudança, o aprendizado é a base fundamental da mudança e a ação coletiva é a maneira de promover a mudança. 

As dimensões sociais no processo de construção de resiliência a riscos globais

Três dimensões sociais e suas interações geram as dinâmicas necessãrias para a construção de resiliência à um risco global. O conhecimento é considerado o motor da mudança, enquanto que a cultura da comunidade ou da empresa e os mecanismos de governança são os agentes da mudança. Cada um desses fatores tem uma função específica e a interação dos três é o que determina a capacidade ou não do sistema de criar resiliência aos desafios socioambientais.

O conhecimento capacita as pessoas e permite ações mais efetivas nos processos participativos de tomada de decisão. Com a ocorrência do coronavírus, a ciência se destacou. As pessoas buscaram se informar e saber mais sobre o assunto para então se posicionarem sobre as decisões tomadas.

Entretanto, é importante que as discussões  estejam centrados no valor de diferentes formas de conhecimento – científica e tradicional – e no papel em particular da ciência. 

O conhecimento local ou tradicional, que baseia-se principalmente na observação, experimentação (processos de tentativa e erro) e na transmissão de conhecimento assimilado de geração para geração, pode ajudar no processo de adaptação em três maneiras: i) exposição biofísica e social; ii) sensibilidade à mudança e variabilidade; e iii) capacidade adaptativa e processos de adaptação. Normalmente é a memória de ocorrências similares que auxilia nesse processo.

Já a cultura desempenha um papel importante na mediação das respostas humanas aos riscos globais. As respostas dependem de como os grupos sociais se relacionam com o ambiente físico ou natural, bem como com os sistemas humanos. Foram muitas as ações coletivas de solidariedade que vimos no enfrentamento do coronavirus, próprias de nossa culura.

Além disso, as soluções são concebidas e implementadas através da cultura. Fatores culturais moldam como as pessoas apoiam as intervenções de adaptação e sua motivação para responder a elas. A experiência cultural reforça ou refina os hábitos, habilidades e estilos com os quais as pessoas constroem “estratégias de ação”. 

Por fim, os mecanismos de governança são as estruturas e processos pelos quais as sociedades compartilham poder, moldam as ações individuais e coletivas. Através desses mecanismos é possível desenvolver as principais capacidades de gerenciar a resiliência: auto-organização, aprendizado e adaptação.

A resiliência é uma característica que pode ser construída. Mesmo de forma intuitiva, à medida que enfrentamos determinados riscos, nos adaptamos à novas realidades e nos tornamos mais resilientes. 

A mudança climática é o mais eminente risco global. Construir resiliência a essa ameaça é essencial. Temos todas as condições para isso. E um eficiente treinamento prévio com o coronavírus.

 

Nosso futuro comum: as responsabilidades de adaptação em tempos de crise climática

Nosso futuro comum: as responsabilidades de adaptação em tempos de crise climática

Diante das duras previsões climáticas para os próximos anos e décadas, quais as opções que temos para minimizar as mudanças em curso e adaptar a nossa forma de viver? Além disso, de quem são as responsabilidades de adaptação?

Durante mais de 20 anos ouvirmos falar nas mudanças climáticas. Mas, por muito tempo preferimos ignorar os estudos científicos, duvidar de sua veracidade. Resumindo, optamos por não tomar atitude nenhuma.  Em outras palavras,  já que esta é uma questão global, “da humanidade”,  que os “outros” resolvam!

Posteriormente percebemos que não fazer nada, não é uma resposta, e sim uma fuga do problema!

O que vamos abordar aqui

Em nosso artigo anterior, abordamos os desafios que a mudança do clima nos apresentam.

Nesse artigo, primeiramente vou abordar as respostas possíveis à essa situação. Posteriormente, vou discutir como o mundo deve ver a adaptação às mudanças climáticas.  Além disso, vou discutir as responsabilidades de adaptação nas diferentes escalas do poder público. Por fim, vou citar alguns exemplos de medidas que estão sendo adotadas em diferentes locais do mundo e que portanto,  podem nos auxiliar a enfrentar as consequências de um clima diferente.

As possíveis respostas

Para identificarmos as possíveis respostas à crise climática,  devemos ter em mente  de que a mudança climática é verdadeiramente uma questão global.  Ou seja:  independentemente de onde os gases de efeito estufa (GEE) são emitidos, eles se distribuem pela atmosfera como um todo. Como resultado,  as suas consequências serão sentidas por todos indistintamente. Contudo, países, regiões e cidades terão impactos diferentes, dependendo de suas condições físicas e características socioeconômicas

Durante muito tempo, duas possíveis respostas foram apontadas pelos cientistas. A primeira delas  é  a mitigação, que significa a diminuição das causas do aquecimento global (emissões de GEE). A segunda é a adaptação,  que significa um ajustamento da vida a um clima em mudança com recursos mais escassos.  Mas, atualmente entende-se que essas duas respostas estão interrelacionadas e devem ser vistas em conjunto.

Mitigação

A mitigação foi a primeira resposta a ser discutida e adotada internacionalmente. Como as concentrações e as emissões dos GEE podem ser aferidas numericamente, a elaboração de medidas para controlar as emissões é relativamente simples. Sendo assim, a mitigação é normalmente estabelecida através de mecanismos reguladores e de mercado definidos pelos governos centrais.

A adoção de limites legais sobre emissões, regulamentação e controle de produtos e mercados (como o mercado de carbono) pode ser determinada de diferentes formas.  Uma delas é a partir de estímulos econômicos, como por exemplo  um incentivo ou subsídio para que um determinado setor diminua suas emissões. Outra forma é  por intervenções do governo através da criação de leis e regulamentações.  Ou seja, os  envolvidos se obrigam a diminuir suas emissões  e,  como resultado, a nação pode cumprir seus acordos internacionais.

Essas iniciativas em âmbito nacional estabelecem posteriormente caminhos para ações governamentais setoriais, regionais ou locais para a adoção de medidas específicas. Por isso, a governança da mitigação é clara: a responsabilidade em estabelecer as regras de mitigação é das autoridades públicas.

As boas práticas de mitigação

A Tabela 1 mostra exemplos de medidas de mitigação adotadas pelo mundo.

Tabela 1: Boas práticas de mitigação. 

SETORES MEDIDAS DE MITIGAÇÃO
Energia
Substituição de lâmpadas, aparelhos e equipamentos antigos por mais eficientes
Utilizar sistemas individuais de energia de base  renovável, tais como a energia solar, para aquecimento e iluminação de edifícios
Desenvolver formas de aproveitamento de energias alternativas que emitam menos GEE, tais como a biomassa (bagaço de cana), ou a eólica (do vento)
Incluir a eficiência energética no planejamento da construção
Sensibilizar as pessoas para os benefícios da eficiência energética e do uso racional de energia
Transportes
Reduzir a utilização de automóveis
Diversificar o uso do solo nos bairros para que as pessoas possam atender suas necessidades diárias a pé
Restringir o uso do carro em áreas centrais da cidade e promover o transporte público
Usar transportes movidos a biocombustíveis e ou eletricidade
Melhorar a integração de diferentes modais de transporte
Aumentar a qualidade e quantidade de ciclovias e criar áreas de estacionamento de bicicletas
Florestas
Diminuir o desmatamento
Aumentar as áreas de florestas
Manter as florestas limpas
Evitar o uso de plantas exóticas que podem ampliar os incêndios florestais
Agricultura e pecuária
Diminuir o uso de fertilizantes industriais
Aumentar a área de produção de orgânicos
Promover a diversificação de culturas
– Promover a redução do consumo de carne

 

Adaptação

As medidas de adaptação exigem recursos financeiros e ações onde os impactos ocorrem, envolvendo uma variedade de partes interessadas. Consequentemente, as resposnabilidades de adaptação estão concentradas em governos regionais e locais, além de empresas, instituições públicas e privadas e comunidades vulneráveis.

As responsabilidades de adaptação

Ao contrário da mitigação, como a adaptação precisa ocorrer em nível local, os governos nacionais não são necessariamente responsabilizados em atuar nesse campo. Contudo, muitos países elaboram diretrizes nacionais de adaptação que orientam a elaboração de planos regionais, setoriais e locais. No Brasil, temos um Plano Nacional de Adaptação desde 2016, que transfere uma parte das responsabilidades de adaptação para os principais setores produtivos do país.

Por outro lado,  até o momento as autoridades públicas locais e regionais não assumiram completamente as suas responsabilidades de adaptação. Muitos líderes locais  vêem a adaptação como um custo que pode ser adiado. E isso pode piorar a situação. Em geral, a percepção da necessidade de adaptar coincide com a ocorrência de eventos extremos. Por exemplo, grandes inundações, secas prolongadas ou extensos incêndios florestais aumentam as pressões por parte da mídia e dos envolvidos para uma ação mais efetiva. Depois disso, quando o evento extremo passa, a necessidade de intervenção imediata não é mais percebida.

A dimensão da adaptação

A adaptação tem como objetivo reduzir a vulnerabilidade aos efeitos nocivos das mudanças climáticas. Como exemplos desses efeitos pode-se citar a invasão da água do mar em áreas costeiras, a ocorrência de eventos climáticos extremos mais intensos ou mesmo a insegurança alimentar provocada pela escassez de água e pelas perdas na lavoura.

Mas, as medidas reativas têm sido insuficientes para lidar com as pressões associadas às mudanças climáticas. Além disso, a abordagem incremental da adaptação, ou seja, aquela que se foca num impacto específico, não é mais suficiente. É preciso abordar a adaptação de forma sistêmica, englobando as raízes dos impactos a serem enfrentados.

As novas abordagens da adaptação

Sendo assim,  outros determinantes não climáticos de vulnerabilidade, tais como demografia, economia, condições sócio-políticas e desenvolvimento tecnológico devem fazer parte dessa equação. Por isso, crescem as discussões sobre a natureza das respostas da sociedade a serem consideradas. Acima de tudo há um consenso  de que a situação atual clama por uma abordagem transformativa, sem precedentes. Ou seja,  precisamos adotar uma abordagem que tenha visão sistêmica de adaptação “com” mudanças climáticas.

Nesse caso, a mitigação deixa de ser uma resposta isolada e passa a fazer parte do processo de adaptação. Em outras palavras, temos que assumir um novo modelo de desenvolvimento pautado pela baixa emissão de gases de efeito estufa.  

Como resultado, quando os governos assumem suas responsabilidades de adaptação tanto regionais como locais, eles precisam envolver os  diversos setores, com foco em diferentes objetivos. Por exemplo, a redução da vulnerabilidade, o gerenciamento de riscos de desastres ou o planejamento de adaptação proativa

São três os tipos de medidas de adaptação: Físico-estrutural, institucional ou social.

Medidas físico-estruturais de adaptação:

As medidas físico-estruturais são aquelas baseadas em:

  • Opções de engenharia e do ambiente construído: relaciona-se a obras estruturais, tais como diques, muros de proteção, obras de drenagem, entre outras;
  • Opções tecnológicas: são medidas relacionadas ao desenvolvimento tecnológico, tais como o desenvolvimento de novas variedades de cereais para a agricultura, tecnologias para purificação da água, métodos de irrigação, entre outros.
  • Opções baseadas em ecossistemas: restauração de ecossistemas, conservação do solo, ou soluções de drenagem baseadas em plantas, entre outras;
  • Opções baseadas em serviços, tais como programas de vacinação, ou ampliação de serviços médicos especializados, entre outros.

Essas medidas exigem maior investimento e suas ações dependem de um planejamento prévio.

Medidas institucionais de adaptação:

Essas medidas estão relacionadas à descisões políticas e institucionais.

  •  Opções econômicas, tais como o uso de incentivos fiscais, pagamentos de serviços de ecossistemas, ou parcerias público-privadas, entre outras;
  • Opções baseadas em leis e regulamentações, tais como códigos de uso do solo, código de obras, ou delimitação legal de áreas protegidas, entre outros;
  • Opções de programas e politicas nacionais e regionais, tais como planos de adaptação, planos de gestão de bacias hidrográficas ou planos de contingência a desastres naturais, entre outros.

Medidas sociais de adaptação:

As medidas sociais tem como objetivo transformar a cultura das comunidades para viver em um clima diferente.

  • Opções educacionais que envolvem ações para o aumento da consciência das pessoas sobre o problema, tais como serviços de extensão, plataformas de aprendizado ou pesquisas de ação participativa, entre outros;
  • Opções informativas tais como mapas de vulnerabilidade e perigo, sistemas de monitoramento e alerta, ou divulgação de relatórios integrados de avaliação, entre outros;
  • Opções comportamentais tais como ações de preparação da população para enfrentar riscos, planos de evacuação, confiança nas redes sociais com previsões antecipadas, entre outros.

As boas práticas de adaptação

A tabela a seguir mostra alguns exemplos de adaptação que estão sendo implementados.

 Tabela 2: Boas práticas de adaptação

Impactos esperados Medidas de adaptação

Aumento da temperatura, Ondas de calor

 

Redução da densidade de construção
Aumento de áreas de sombra com o uso de vegetação
Aumentar as superfícies
Melhorar os sistemas de ventilação dos edifícios
Utilizar a água no paisagismo
Criar sistemas de alertas para ondas de calor
Integrar as necessidades das populações mais vulneráveis nos planos de emergência
Equipar serviços de urgência
Diminuição da qualidade do ar
Restrições no transito
Melhorar o transporte público
Promover a partilha de carros
Monitorar níveis de poluição e suas fontes
Criar serviços de alerta
Redução da disponibilidade de água

– Ampliar a capacidade de reservatóriosColetar a água da chuva

Reutilizar as águas residuais tratadas
Melhorar o sistema de distribuição e controlar o desperdício
Desenvolver campanhas para o uso eficiente da água
Promover equipamentos com uso eficiente da água
Cheias e inundações
Melhorar os sistemas de identificação de áreas de risco
Criar áreas de proteção livre de construções às margens dos rios
Usar materiais e tipos de construção resistentes à inundações
Reestabelecer áreas naturais de retenção de água da chuva
Ajustar os sistemas de drenagem à nova realidade de chuvas
Implementar sistemas alternativos de armazenamento de água da chuva
– Adequar o ocupação do solo e as infraestruturas a fenômenos hidrológicos extremas

 

A abrangência da adaptação

Atualmente a mudança climática está sendo considerada em uma variedade de planos de desenvolvimento. Nós abordamos esse tema em um artigo anterior que fala do planejamento urbano como uma ferramenta de adaptação.

O mais importante é entender que adaptar significa reconhecer que o clima está diferente e gerir da melhor forma as suas consequências. Em outras palavras,  isso envolve a gestão de desastres, o uso  e ocupação do solo, a gestão de florestas. de recursos hídricos,  a mobilidade urbana, entre outros.

Por outro lado, além dos impactos, a adaptação engloba o aproveitamento de potenciais oportunidades associadas às mudanças climáticas. Por exemplo, podemos citar o desenvolvimento de tecnologias mais limpas, sistemas que purificam a água, tecnologias de energia renovável, ou até a implementação de novas culturas agrícolas em áreas cujo clima antes não permitia.

As oportunidades geradas pela necessidade de adaptação

Certamente, para aproveitar as oportunidades que têm surgido, o investimento em pesquisa e inovação, e a participação do setor privado são essenciais. Portanto, as responsabilidades de adaptação devem ser partilhadas e assim todo mundo ganha. Mas, acima de tudo, o conhecimento e a informação são a base para o planejamento da melhor forma de aproveitar as oportunidades identificadas.

Em suma, o surgimento de novas tecnologias e de novos modelos de negócios concentrados em baixas emissões de carbono, constituem  um novo caminho para a adaptação às mudanças climáticas. 

Esse é um desafio imenso, que só terá êxito com uma transformação profunda nas formas como o mundo produz, consome e vive. Esse desafio so será vencido se eu, você, e as demais pessoas, além das mais variadas instituições publicas e privadas, nos engajarmos nessa luta, assumindo nossas responsabilidades de adaptação e atuando de forma proativa.

O próximo artigo

No próximo artigo vou abordar como o setor privado tem assimido suas responsabilidades de adaptação e aproveitado as oportunidades de negócios. Além disso, você vai saber o que pode fazer individualmente para reduzir suas emissões e contribuir para superarmos essa crise com mais qualidade de vida e segurança. 

Até lá!

Migrações associadas a desastres climáticos

Migrações associadas a desastres climáticos

Muitas comunidades já têm enfrentado impactos severos de eventos climáticos extremos que provocam verdadeiros desastres. Essa situação têm sido responsável pelo deslocamento de populações, que precisam sair de suas áreas de residência e encontrar novos locais para morar.

Elaboramos um infográfico para que você possa visualizar de que forma as pessoas estão sendo atingidas no mundo e no Brasil.

Para acessar esse material em alta resolução, basta clicar aqui.

O que uma jovem autista de 16 anos pode fazer por mim, por você, pela humanidade?

O que uma jovem autista de 16 anos pode fazer por mim, por você, pela humanidade?

As mudanças climáticas estão chamando a atenção de jovens por todo o mundo.

Era uma sexta feira, no final de um verão recorde…Uma menina frágil, tímida, de rosto redondo e olhar sério, na época com 15 anos, senta-se em frente ao parlamento Sueco em Estocolmo. Ela carrega uma garrafa de água, uma mochila cheia de livros da escola, um lanche e um cartaz escrito por ela:

 “GREVE ESCOLAR PELO CLIMA”

Esta cena se repetiu por três semanas de agosto de 2018.

A mensagem foi ouvida

Aquela manifestante solitária não ficou sozinha por muito tempo. Primeiro, ela foi chamando a atenção de transeuntes.  Depois,  os maiores jornais da Suécia se interessaram por sua história.

Em seu tempo ali, ela distribuía panfletos com a seguinte mensagem:

“Vocês adultos, não dão a mínima para o meu futuro!”

Assim, essa adolescente que aos 11 anos de idade foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA, conhecido como Síndrome de Asperger) e mutismo seletivo, tornou-se a fundadora de um movimento juvenil internacional: #FridayForFuture.

A força dos jovens pelo clima

A mais nova ativista pelo clima tem hoje com 16 anos. Ela  já atraiu muitas dezenas de milhares de estudantes da sua faixa etária em quase 300 cidades espalhadas pelo mundo. Como resultado, sua mensagem ganhou eco.  Consequentemente, ela pode falar na Conferência de negociações climáticas da ONU (COP24) em dezembro na Polônia.

O mundo se impressionou quando essa jovem se dirigiu a uma sala repleta de estadistas, três a quatro vezes mais velhos do que ela, dizendo:

“Vocês não têm a maturidade para encarar os fatos como eles são. E até esse fardo vocês deixam para nós, crianças!”

Você pode assistir seu discurso aqui

O engajamento

Como resultado, muitos adolescentes em todo o mundo têm se manifestado por uma justiça climática e no próximo dia 15 de março eles estão planejando uma grande manifestação internacional, com eventos em mais de 50 países.

Mas, afinal, o que esta pequena história tem para nos mostrar? Por que o mundo está demorando tanto para se conscientizar de que estamos vivendo uma crise climática? O que podemos esperar de um futuro próximo?

São essas as questões que exploro a seguir. Continue lendo! Quem sabe, no final, você assuma uma posição sobre esse tema tão urgente e controverso.

Afinal é Preto, ou Branco?

Greta Thunberg é a personagem principal desta história. Com certeza seu protagonismo é fruto da sua curiosidade e de seu interesse em entender o porquê das coisas. Acima de tudo ela queria saber porque tinha que desligar as luzes e reciclar papel para economizar recursos. As respostas recebidas para estas questões não haviam lhe convencido!

Certamente, a busca por mais respostas e a clareza encontrada na ciência trouxeram outros questionamentos. Além disso, a sua visão das coisas, limitada pelo antagonismo do preto ou branco, intensificou a percepção da urgência da situação. Aí ela se perguntou: “Se a situação é verdadeiramente grave, por que ninguém faz nada?” Ou: “Se a queima de combustíveis fósseis é tão ruim que ameaça nossa própria existência, como podemos continuar como antes?”

Porém, na sua simplicidade, ela percebeu que as pessoas continuam fazendo o que fazem. Isso ocorre porque a vasta maioria não tem a menor ideia sobre as consequências reais das mudanças climáticas. E na sua ingenuidade, Greta resolveu fazer a sua parte! Então, com sua fala dura, direta e destemida, ela conseguiu elevar o medo dos jovens sobre seu futuro.E o mais importante, canalizou a frustração de muitos deles sobre à reticência dos políticos em a sério as mudanças climáticas.

A realidade das mudanças climáticas

Essa história acontece em um momento bastante crítico da nossa existência. Uma série de anúncios científicos tem demonstrado que estamos vivendo uma grave crise de sustentabilidade. Esse senário é consequência das mudanças climáticas desencadeadas pelo aumento de gases de efeito estufa na atmosfera.

Anteriormente eu escrevi dois artigos que podem te ajudar a entender um pouco sobre o tema. No primeiro, eu falo sobre as diferenças entre os conceitos de Tempo, Clima , Aquecimento Global e Mudanças Climáticas.   No segundo,  eu explico como ocorre o Aquecimento Global.

Mas, o mais importante, foi o anúncio feito em outubro do ano passado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo eles,  as temperaturas globais podem subir, em apenas 12 anos até o limite de perigo de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. E, acima de tudo, chegamos a esse ponto por que nossos esforços em mitigação e adaptação não foram suficientes. Não conseguimos diminuir as emissões de gases de efeito estufa a um valor seguro. E, segundo os cientistas, o aquecimento global tem se acelerado nos últimos anos, confirmando as piores previsões feitas até então.

As evidências

Nos últimos tempos temos vivenciado uma série de evidências sobre isso. Nos últimos 30 anos, a taxa de elevação da temperatura média global foi duas vezes maior do que a média do período entre 1880 e 2017. Além disso, os 20 anos mais quentes desde que os registros começaram em 1850 foram nos últimos 22 anos. Ainda,  os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados. Como resultado, os oceanos aqueceram 40% mais rápido do que se pensava anteriormente. Da mesma forma,  a massa de gelo perdida na Antártida anualmente, foi seis vezes maior do que a média de 40anos atrás.  E mais,  desde 1950, o número de enchentes ao redor do mundo aumentou 15 vezes, os eventos de temperaturas extremas 20 vezes, e os incêndios florestais se tornaram sete vezes mais frequentes.

O que Greta nos mostra

A história de Greta me fez pensar em três pontos:

  • A carência que as pessoas têm por informações mais acessíveis e em linguagem simples sobre o tema;
  • A falta de empatia pelos mais vulneráveis e de uma postura assertiva por parte de governantes e formuladores de políticas públicas;
  • A vontade e a força da nova geração para encarar os problemas que comprometem seu futuro.

Eu concordo com a Greta! Se as pessoas tivessem a verdadeira noção da encrenca que nos metemos, certamente mudariam de atitude, inclusive se juntariam a esses jovens para exigir dos governantes medidas mais concretas pela justiça climática. Eu acredito que esse movimento juvenil pode ser o caminho para a tomada de consciência tanto dos formuladores de políticas públicas quanto da sociedade sobre a gravidade e urgência da questão.

Até o momento todos nós fomos omissos. Eu mesma me coloco nesse nessa situação. Eu tenho a consciência de que nós, cientistas, temos uma grande dificuldade em transmitir nosso conhecimento às pessoas (eu estou tentando mudar isso!). Mas nós lidamos no nosso dia a dia com tantos termos técnicos complicados que fica muito difícil traduzir a nossa fala para uma linguagem mais simples.

Além disso, por muito tempo houve um certo cuidado ao comunicar os avanços da ciência sobre as mudanças do clima.  A principal razão era de não provocar um ambiente de catástrofe entre as pessoas. Afinal, por muito tempo esse tema  esteve envolto em muitas incertezas.  Assim, as pessoas não tiveram interesse em saber mais sobre um tema tão complexos que é a mudança do clima.  Acabaram deixando para seus representantes políticos a responsabilidade de fazer algo.

Contudo, nós bem sabemos que as decisões políticas estão, muitas vezes, envoltas em interesses ocultos, orientados pelo poder e pelo dinheiro. Romper com esse sistema é uma tafera muito difícil!

Precisamos ser ousados

A história de Greta tem o seu maior valor na sua ousadia. Ela agiu segundo o seu entendimento, sem nenhuma noção das consequências de seus atos.  Ela se atreveu, de forma isolada e espontânea, a abrir a boca e gritar, do seu jeito, por aquilo que acreditava. E ela o fez sem grandes pretensões. Ela apenas percebeu que ninguém mais faria isso por ela.

Seu mutismo seletivo foi fantástico…abriu a boca por aquilo que realmente valeria a pena! Ela estudou, se informou e mais do que isso, extrapolou a sua realidade. Pensou naquelas pessoas que vivem em lugares de alto risco climático e que não tem qualquer infraestrutura de apoio, conhecimento ou condições financeiras para enfrentar os desafios que se avizinham. Ela assimilou rapidamente que os impactos das mudanças climáticas atingem pobres e ricos, indistintamente. Ela conseguiu imaginar como seria sua vida no futuro se continuarmos a viver como se nada estivesse acontecendo. Também entendeu que o tempo que ainda temos é curto para fazermos as mudanças necessárias para revertermos essa situação. Por isso temos que agir agora!

 A urgência por ações

É muito fácil nos pormos no lugar dela. Todos nós temos bem próximo de nós algumas crianças que amamos. Podem ser filhos, sobrinhos, netos ou afilhados que, em 2030 (daqui há 12 anos), estarão na flor da idade. Até mesmo eu tenho  minhas sobrinhas que terão menos de 25 anos nessa data.

As previsões sobre o futuro do clima não são boas. Se continuarmos nossa vida como vivemos até aqui, é bem provável que em pouco mais de uma década nós vejamos um mundo bem diferente do que estamos acostumados. Mais rápido do que imaginamos, as mudanças do clima podem provocar uma ruptura nos ecossistemas terrestres sem possibilidade de retorno. 

Por isso, precisamos olhar para as nossas crianças e imaginar as grandes dificuldades que elas terão que enfrentar no futuro. Recursos naturais cada vez mais escassos ou degradados, dificuldades de manter a subsistência e o aumento de eventos climáticos catastróficos podem por em xeque a segurança de todas elas.  Quem sabe assim, nós também assumimos a nossa parte, em uma batalha que ninguém vence sozinho. Ainda dá tempo… pelas previsões temos 12 anos para invertermos essa situação. Não será tarde demais se agirmos agora!

O acesso a quem decide

A Greta conseguiu sensibilizar os mais interessados em resolver essa questão… as crianças e adolescentes. Primeiro seu protesto silencioso ganhou voz. Logo, sua voz chegou à elite mundial que define os principais rumos que mundo adota. E ela não perdeu essa oportunidade de ouro. Soube ser perspicaz, quando no Fórum Econômico Mundial, onde bilionários e chefes de Estado exibiam seus jatinhos particulares, ela disse:

“algumas pessoas, algumas empresas e alguns tomadores de decisão em particular sabem exatamente quais valores inestimáveis têm sacrificado para continuar a fazer quantidades inimagináveis ​​de dinheiro… Eu acredito que muitos de vocês aqui hoje pertencem a esse grupo de pessoas.”

Assista aqui a sua fala em Davos! Ela também participou recentemente do TEDxTalks-Stockholm

 Um movimento que cresce

Com seu movimento #FridayForFuture, Greta foi a precursora de uma história que pode mudar nossas vidas. E seu exemplo está sendo replicado mundo afora. Assim como ela, outros jovens também ganharam voz para lutar por um mundo sustentável, livre das ameaças do clima. As maiores manifestações ocorreram na Europa e Austrália, com 70.000 mil jovens indo às ruas nas três primeiras semanas de janeiro. O destaque é para os 30.000 jovens que foram à rua em Bruxelas no dia 24 de janeiro.

A resistência

Até o momento, a postura dos governantes tem sido avessa às manifestações. Como exemplo, a primeira ministra britânica Teresa May repreendeu os jovens por não estarem na escola. Já a senadora americana Dianne Fernstein, da Califórnia, respondeu aos jovens dizendo: “Você não votou em mim” e “Eu sei o que estou fazendo.”

Entretanto, muitos manifestantes surpreenderam a mídia com seu sólido conhecimento sobre as mudanças do clima. Eu acredito que isso pode fazer uma grande diferença nessa luta, visto que a maioria da classe política e da mídia em geral ainda não compreendeu que as mudanças climáticas se tornaram uma urgência especialmente por que eles, os decisores, fizeram muito pouco por esse tema nos últimos 30 anos. Agora, os jovens encaram suas ações como uma questão de sobrevivência, e sabem que a solução do problema passa por mudanças transformadoras no modelo econômico vigente.

Porém, no futuro, são eles que vão tomar as decisões e governar o mundo. Quanto mais conscientes eles estiverem sobre os desafios a enfrentar e principalmente sobre as formas de minimizá-los, mais força eles terão para promover a mudança que nós adultos não fizemos… por comodidade, por descrença, por alta de informação e de conhecimento e, principalmente, por falta de vontade política.

Uma grande manifestação está marcada para o próximo dia 15 de março. Veja na figura as cidades que já tem atividades agendadas.

A nossa participação

Nossa tarefa agora é amplificar a fala desses jovens e reverberá-la para todos os cantos do planeta. Pelo menos dessa forma podemos despertar o interesse de mais pessoas sobre as mudanças do clima. Esses jovens já estão conscientes de que o mundo está mudando, o clima está mudando e nós temos que mudar também.

Vamos torcer para que esse grupo seja forte o suficiente para se organizar e resistir às tentativas de divisão e cooptação que certamente virão por aí.

Eu já estou fazendo a minha parte e, para contribuir com essa discussão, em algumas semanas, vou lançar um ebook que retrata a realidade climática atual. Acho importante que você tenha acesso,  em um único lugar, com uma linguagem  simples,   a tudo o que você precisa saber para entender os desafios que vem por aí e também as oportunidades que se abrem nesse cenário.

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**As imagens que utilizei nesse artigo foram retiradas do site: https://www.fridaysforfuture.org

Como ocorre o Aquecimento Global?

Como ocorre o Aquecimento Global?

O aquecimento global é o aumento da temperatura média global da atmosfera e dos oceanos. Esse processo desencadeia importantes alterações em praticamente todos os sistemas e ciclos naturais da Terra. O aumento da temperatura global afeta o fluxo dos ventos, as correntes marinhas, os ciclos da água, do carbono, do nitrogênio e de outros compostos, que interferem diretamente no sistema climático, provocando as mudanças climáticas.

O sistema climático terrestre muda em resposta a variações de fatores externos, tais como alterações da radiação solar e da órbita da terra em torno do Sol; ou de fatores internos que envolvem alterações na composição química da atmosfera, tais como  erupções vulcânicas e altas concentrações de gases do efeito estufa.

O processo de aquecimento global que estamos vivenciando na atualidade é causado pela mudança da composição química da atmosfera provocada pela atividade humana. Para a maior parte da comunidade científica, com a revolução industrial, o homem alterou os modos de produção, aumentou o consumo de bens e o uso de fontes energéticas, principalmente combustíveis fósseis, lançando na atmosfera bilhões de toneladas de gases estufa.

O efeito estufa e o aquecimento global

Quando estudamos o sistema terrestre na escola, aprendemos que a atmosfera é a camada de ar que envolve a superfície da terra, e que ela é um dos elementos responsáveis pela existência de vida no planeta. Essa é uma visão correta, mas bastante simplista. Se pesquisarmos um pouco mais, vamos descobrir que a atmosfera é composta por uma camada de gases, de material particulado e de vapor dágua. Nitrogênio, oxigênio e argônio constituem os 99,93% dos gases naturais presentes na atmosfera.  Os 0,07% restantes são compostos de vapor d’água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, ozônio e gases artificiais chamados clorofluorcarbonos, que são os que têm maior impacto sobre o efeito estufa, considerado o grande vilão das mudanças climáticas. Esses gases de efeito estufa estão naturalmente presentes na atmosfera, mas sua presença tem aumentado enormemente como resultado da ação humana, principalmente por quatro razões: a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento florestal, a destruição de ecossistemas marinhos e o aumento de população, que consome cada vez mais recursos naturais

Entretanto, apesar de amplamente condenado, o efeito estufa é um processo natural e fundamental para manter a temperatura média da terra em condições ideais para a sobrevivência e para o desenvolvimento das espécies. Ele é responsável por reter parte do calor solar que chega ao planeta, mantendo assim a temperatura da superfície da terra adequada aos seres vivos. Sem esse efeito, a temperatura da terra seria de aproximadamente -20ºC, dificultando a vida no planeta!

A denominação de efeito estufa se deve à similaridade do fenômeno que ocorre em uma estufa de plantas, onde um vidro envolve o ambiente. Esse vidro filtra a passagem da energia solar. Parte dessa energia é refletida e outra parte é absorvida pelas plantas e pelas superfícies do ambiente. A energia absorvida se transforma e é reemitida para o ambiente com características diferentes, sendo a sua maioria em forma de calor. Esse calor não consegue mais ultrapassar a superfície do vidro, aquecendo o ambiente. É isso que acontece com a terra.

Para entender melhor esse fenômeno, dentre os gases presentes na atmosfera, alguns como o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso, além de outras partículas como os aerossóis e o vapor de água, funcionam como a camada de vidro que envolve a estufa de plantas. Eles são denominados gases de efeito estufa e se concentram na camada mais externa da atmosfera, funcionando como uma capa de proteção. Por sua composição e estrutura, esses gases funcionam como um filtro que controla o fluxo de energia do sol que incide sobre a atmosfera. Apesar de deixarem passar a energia vinda do Sol (emitida em comprimentos de onda menores), são opacos à radiação terrestre, emitida em maiores comprimentos de onda. Essa diferença nos comprimentos de onda se deve às diferenças nas temperaturas do Sol e da superfície terrestre.

Normalmente as pessoas fazem uma certa confusão entre gases de efeito estufa e a camada de ozônio.  O ozônio é um dos gases que também compõe a atmosfera. Apesar de estar presente em pequenas quantidades em comparação com outros gases, cerca de 90% de suas moléculas se concentram entre 20 e 35 km de altitude, criando uma região relativamente homogênia denominada Camada de Ozônio. Essa camada é essencial à vida na terra pois o ozônio é o único gás que filtra os raios ultravioleta do tipo B (UV-B), emitidos pelo Sol e extremamente nocivos aos seres vivos.

Da energia solar que chega à atmosfera, aproximadamente 30% é refletida para o espaço. A outra parte da energia (70%) é filtrada pelos gases gases de efeito estufa, chega ao solo e aquece a superfície. As diferentes superfícies do solo terrestre (vegetação, edificações, água, pavimentos, carros, entre outros) reagem de forma variada, absorvendo ou refletindo em maior ou menor grau essa energia. Entretanto as superfícies que absorvem mais energia, devolvem uma parte dela ao ambiente em forma de calor. Esse calor, por suas características físicas (comprimento de onda maior), tem mais dificuldade de ultrapassar a camada de gases de efeito estufa para voltar ao espaço, e grande parte dele ainda permanece na atmosfera, mantendo o ambiente aquecido. Assim, a média da temperatura da superfície da terra em condições normais se mantém em aproximadamente 15ºC, possibilitando que a vida se forme e se desenvolva.

Como o aquecimento global acontece?

Na proporção certa, os gases de efeito estufa cumprem seu papel de manter a temperatura adequada à vida no planeta. O aquecimento global acontece quando há um desequilíbrio na quantidade desses gases na atmosfera. Quanto maior for a sua quantidade, mais densa será a camada de proteção que permite a entrada da energia emitida pelo sol, mas retém o calor refletido pela terra na atmosfera, aumentando assim a sua temperatura média global. Fazendo uma analogia, o aumento de gases de efeito estufa na atmosfera funciona como um cobertor que protege a terra e não deixa sair o calor que ela reflete, aumentando assim a sua temperatura média.

 

O problema é que pequenas mudanças na temperatura média global podem causar mudanças importantes e perigosas no tempo e no clima. Para se ter uma idéia, a diferença de 1 grau Celcius pode representar a diferença entre gelo e água. Sendo assim, se essa diferença acontecer regularmente por meses em uma região que depende de um ciclo natural de acumulação de neve no inverno e de precipitação na primavera, isso pode promover uma  grande mudança na dinâmica do lugar, alterando a vida cotidiana e até mesmo as fontes de renda das pessoas.

Os cinco gases originados das atividades humanas que juntos contribuem em aproximadamente 95% para o aumento do aquecimento global  são: o dióxido de carbono, o metano, os compostos halogenados como CFCs, HCFCs, HFCs, PFCs, SF6 e NF3, o ozônio troposférico e o óxido nitroso. Eles tem tempos de permanencia na atmosfera, níveis de contribuição para o aquecimento global e fontes de emissão variadas.

O dióxido de carbono, conhecido vulgarmente como gás carbônico é responsável por 53% do nível de aquecimento global. Sua permanência na atmosfera é muito alta: 80% do dióxido de carbono emitido demora em torno de 200 anos para desaparecer, mas os outros 20% podem demorar até 30.000 anos. Naturalmente ele é produzido pela respiração, na decomposição de plantas e pelas queimadas naturais nas florestas. Entretanto, as duas principais fontes desse gás são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas. A queima de combustíveis fósseis (gás natural, carvão mineral e principalmente de petróleo) ocorre na produção de energia, no uso industrial e nos transportes (automóveis, ônibus, caminhões, barcos e aviões, entre outros). Os oceânos e as florestas são ecossistemas naturais capazes de absorver o carbono (chamados sumidouros), porém eles também estão sendo ameaçados pela ação humana.

O metano é o segundo principal gás de efeito estufa, pois contribui com 15% do aquecimento global. Ele permanece na atmosfera por um médio prazo (12 anos). Os pântanos e oceânos produzem naturalmente esse gás, mas o aumento significante desse gás na atmosfera se dá principalmente por processos biológicos que envolvem a decomposição anaeróbica (sem oxigênio) de organismos, a digestão animal e a queima de biomassa. Lixões, aterros sanitários, estações de tratamento de efluentes líquidos, criação de gado, arrozais e reservatórios de hidroelétricas são as fontes de metano criadas pela ação humana.

 

Os compostos halogenados como CFCs, HCFCs, HFCs, PFCs, SF6 e NF3 são responsáveis ​​por 11% do aquecimento global. Dependendo do tipo de composto, sua duração na atmosfera varia de alguns meses a dezenas de milhares de anos. Eles são gerados como resultado da produção de produtos químicos em diversos setores, como refrigeração e ar condicionado, equipamentos elétricos e eletrônicos, medicina, metalurgia, entre outros.

O ozono troposférico também tem um efeito de 11% no aquecimento global, mas ele permanece um curto período de tempo na atmosfera (alguns meses). Ele é produzido na reação entre os gases monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO₂) e VOCs (compostos orgânicos voláteis), que são emitidos durante a queima de combustíveis.

 

O óxido nitroso contribui em 5% para a intensificação do efeito estufa e consequente aquecimento global. Além de absorver uma quantidade muito elevada de energia, mantendo o calor na atmosfera, ele também é o gás que mais causa destruição da camada de ozônio. Apesar da baixa emissão em relação a outros gases, seu efeito estufa é cerca de 300 vezes mais intenso que o do dióxido de carbono e ele tem um tempo de permanência na atmosfera muito longo (114 anos).  Ele é emitido por fontes naturais como a ação de bactérias no solo e oceanos. Porém, atualmente um terço da emissão desse gás deriva de atividades humanas, como um subproduto dos métodos de fertilização na agricultura (aproximadamente 75%), da combustão, do tratamento de esgoto e de diversos processos industriais.

Por fim,  vapor d’água presente na atmosfera em forma de nuvens também contribui para o efeito estufa, porém sua concentração é extremamente variável e instável, pois as alterações na temperatura e na pressão do ar  atuam sobre os processos de evaporação, condensação e precipitação. Assim, apesar de seu fluxo radioativo ser duas vezes maior do que do dióxido de carbono, fica dificil fazer uma avaliação de sua contribuição para o aquecimento global.

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