Afinal, você sabe o que são mudanças climáticas? Será mesmo que estas mudanças do clima estão sendo vivenciadas apenas no degelo dos polos? De que forma você pode identificar essas mudanças na sua vida?

Atualmente as mudanças climáticas são consideradas a maior ameaça ambiental do século XXI, com profundas consequências em todas as áreas da sociedade. Esse tema vem ganhando destaque na mídia e em discussões de várias áreas da sociedade especialmente entre cientistas e políticos, e hoje esse fenômeno é considerado o principal condicionante para a sustentabilidade do planeta.

  • Facebook
  • Twitter
  • Google+
  • LinkedIn
Sabemos que, durante a história evolutiva da terra, o planeta enfrentou muitos episódios naturais de resfriamento e aquecimento climático de grande magnitude. Porém, esses episódios foram consequência de causas naturais, relacionadas a variações da energia solar, da órbita terrestre ou da erupção de grandes vulcões, que alteraram a composição química da atmosfera.

 

Entretanto, as mudanças climáticas que estamos vivendo agora têm uma característica diferente das anteriores: a interferência da ação humana, chamada ação antrópica.  A partir da Revolução Industrial no século XIX, o homem mudou seus padrões de produção e consumo, e passou a usar de forma desmedida os combustíveis fósseis tais como o carvão mineral e o petróleo como principais fontes de energia. A queima desses combustíveis foi responsável pela emissão de quantidades significativas de gases poluentes (especialmente o gás carbônico).O incremento substancial desses gases na atmosfera é considerado pelos estudiosos a principal causa das mudanças climáticas, pois isso provocou um aumento gradativo da temperatura da atmosfera e da superfície terrestre, ou seja, o aquecimento global. Essa situação tem muitas variáveis envolvidas com consequências sociais, econômicas e ambientais que tornam o tema bastante complexo.

As pesquisas sobre aquecimento global e mudanças climáticas

As primeiras teorias sobre um possível aquecimento global ocorreram durante o século XIX e motivaram o início das observações sistematizadas do clima. A partir do século XX os estudos científicos baseados em dados reais se intensificaram gerando uma extensa bibliografia especializada sobre o tema. Entretanto, até o início dos anos 80, os estudiosos tiveram grande dificuldade de inserir suas conclusões nos debates políticos.

As mudanças climáticas ganharam importância e visibilidade somente no final da década de 1980, quando as Nações Unidas apoiaram uma iniciativa da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP)para a criação de uma organização científico-política para acompanhar as descobertas científicas sobre as mudanças climáticas. Daí, surgiu em 1988 o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, conhecido internacionalmente por sua sigla em inglês (IPCC).

O IPCC (vinculado à ONU) é consideradoa maior autoridade mundial sobre aquecimento global pois é formado pelos mais renomados cientistas de todo o mundo. Trata-se de uma organização que não desenvolve pesquisas ou coleta dados, mas analisa as informações científicas, técnicas e socioeconômicas mundiais que auxiliam no entendimento das mudanças climáticas. Os especialistas trabalham de forma voluntária revisando as publicações científicas mais recentes com o objetivode sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticase o aquecimento global.

Até o momento, o IPCC produziu cinco relatórios (1991, 1996, 2001, 2007 e 2014). Como estes relatórios abrangem várias áreas de conhecimento, os especialistas são organizados em 3 grupos de trabalho. Cada um dos grupos de trabalho é responsável por sintetizar a evolução da ciência em uma temática:

  1. Grupo de trabalho 1 (WG1): avalia os aspectos físicos do sistema climático e das mudanças do clima;
  2. Grupo de trabalho 2 (WG2): analisa a vulnerabilidade aos impactos das mudanças do clima, as oportunidades identificadas, e as opções de adaptação a essas mudanças;
  3. Grupo de trabalho 3 (WG3): avalia opções de mitigação às mudanças do clima através diminuição das emissões de gases de efeito estufa e/ou através da promoção de atividades de captura desses gases da atmosfera.

Cada um dos relatórios estabeleceu um nível de entendimento científico sobre as mudanças do clima. À medida que as pesquisas evoluíram, o nível de confiança nos resultados apresentados foi aumentando.

O primeiro relatório de avaliação do IPCC (1990)  afirma que os cientistas têm certeza de que as emissões atividades humanas estão aumentando substancialmente as concentrações atmosféricas de GEEs resultando, em média, em um aquecimento adicional da superfície da Terra.

O segundo relatório (IPCC,1995) afirma que a balança de evidências sugere um discernimento influência humana no clima global.

O terceiro relatório (IPCC, 2001)  afirma que há evidências novas e mais fortes de que a maioria o aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível às atividades humanas.

O quarto relatório (IPCC, 2007) afirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, e que a maior parte do aquecimento recente é resultado da atividade humana.

As conclusões do último relatório do IPCC (2014) têm sido amplamente aceitas pela comunidade científica e indicam que:

  1. As mudanças climáticas estão realmente ocorrendo e foram causadas pelas atividades humanas;
  2. Essas mudanças estão em aceleração e já provocam impactos perigosos em todos os continentes e no oceano;
  3. Somente mitigar as emissões de gases de efeito estufa não é mais suficiente para enfrentar essas mudanças. É necessário implementar medidas de adaptação para o clima em mudança;
  4. Ainda é possível manter o aquecimento global abaixo do limite acordado politicamente no Acordo de Paris (2015), de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Porém, para garantir um futuro climático seguro é necessário tomar medidas imediatas. Quanto maior for a demora, mais difícil será de manter as metas de temperatura aceitáveis;
  5. Uma das soluções mais defendidas consiste em investir em fontes renováveis de energia para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar o aquecimento global;
  6. O aumento da resiliência aos riscos climáticos está diretamente ligado à capacidade de tomar decisões que permitam a redução das vulnerabilidades e da exposição e o consequente aumento da capacidade de adaptação.

Todos os relatórios do IPCC estão disponíveis no site da organização (www.ipcc.ch) para que qualquer pessoa possa consultá-los. A idéia é de que a população em geral e especialmente aos formuladores de políticas públicas tenham acesso à informação precisa e confiável sobre tudo o que tem sido descoberto sobre as mudanças climáticas. Porém, por se tratar de um documento científico, ele é apresentado em uma linguagem específica direcionada a especialistas, diferente daquela que as pessoas estão acostumadas no dia a dia. Contudo, a linguagem complexa, a apresentação de muitos dados e a profundidade da abordagem dificultam o entendimento do documento e desestimulam o interesse das pessoas pela leitura.

Entendendo o aquecimento global e as mudanças climáticas

A divulgação de informações sobre as mudanças climáticas é considerada uma tarefa desafiadora pois envolve dados científicos e conceitos técnicos muitas vezes desconhecidos da população em geral. Além disso, essa é uma temática complexa pois engloba várias áreas do conhecimento e atinge os mais diversos setores e atividades da vida humana.

Por essa razão, a educação ambiental e a conscientização das pessoas sobre o assunto é o primeiro passo para avançarmos com ações efetivas para enfrentar essa nova situação, por vezes tão assustadora. Sendo assim, quanto mais simples e clara forem as informações disponibilizadas às pessoas, maior será o entendimento do tema e por conseguinte, mais pessoas poderão se envolver nessa causa tão importante e urgente.

Pensando nisso, resolvi inicialmente elucidar alguns termos utilizados nas discussões sobre mudanças climáticas que apresentam discordâncias de entendimento entre especialistas e a população em geral.

O primeiro deles tem a ver com o conceito de “clima”. Normalmente as pessoas no Brasil utilizam a palavra “clima” em duas situações distintas:

  1. Para se referir às condições do tempo, como variações de chuvas ou da temperatura em períodos de curtíssimo prazo, ou seja, dias, no máximo semanas. Por exemplo: “Como está o clima em São Paulo hoje?” ou “O clima esteve chuvoso na última semana!”
  2. Para se referir a fenômenos de longo prazo, mais permanentes, que definem as características locais. Por exemplo: “O clima em Brasília é muito seco no inverno.”

Mas para os especialistas, o “clima” é a condição média das condições do tempo em um determinado local. O sistema climático é composto por uma série de variáveis (temperatura, pressão, ventos, umidade, precipitação, correntes marítimas, etc.) interligadas entre si. Para que o clima de um local seja determinado, é observada a média de dados estatísticos sobre essas variáveis, estabelecendo-se assim normais climatológicas para cada período do ano (normalmente relacionadas às estações), que se repetem durante um período de pelo menos 30 anos.

Portanto, o “clima” é uma condição de longo prazo, ou seja, o clima não muda de uma hora prá outra. Entretanto, ele é naturalmente variável no espaço (de um lugar para outro) e no tempo (em diferentes períodos do ano).

Como sabemos, o Brasil apresenta uma grande variedade de climas. O clima do Nordeste é diferente do Sul, o clima da praia é diferente da serra e assim por diante. Isso ocorre devido à grande extensão do nosso território, e às diferentes características locais, tais como a forma do relevo, a altitude e, a dinâmica das correntes e massas de ar que, associadas, determinam um clima diferente de outro.

Em regra, nos acostumamos com o clima da região em que vivemos e compreendemos a variação das diferentes estações do ano. Mas as mudanças de longo prazo, ao longo dos anos, décadas e séculos, são imprevisíveis e mais difíceis de entender. Elas geram consequências que devem ser melhor compreendidas. Neste contexto é preciso distinguir três conceitos que se relacionam: mudanças climáticas, variabilidade climática e eventos climáticos extremos.

  • A mudança climáticaé uma mudança nas características do clima que ocorre em longo prazo. Essa mudança é identificada com base em testes estatísticos e revela alterações na média e/ou na variabilidade de suas propriedades, e que persiste por um período prolongado, tipicamente décadas ou mais. É o caso do aquecimento global que estamos enfrentando e que vem alterando o clima de todo o planeta.
  • A variabilidade climáticase refere a oscilações periódicas (diárias, sazonais, anuais, interanuais, de vários anos) no clima, sem que haja mudança do clima. Isso inclui as flutuações do clima associadas a eventos como o El Niño (período seco), La Niña (período úmido), as Zonas de Convergência Intertropical (ZCIT) e do Atlântico Sul (ZCAS), bastante conhecidos no Brasil. Por isso muitas vezes percebemos por exemplo que um ano teve um inverno mais seco, ou mais frio, que outro.
  • Um evento climático extremoé um episódio raro em um determinado local e em uma época do ano. As características do chamado clima extremo podem variar de lugar para lugar. Por definição, podem ser ondas de calor ou de frio, fortes chuvas em curtos períodos de tempo, secas prolongadas, furacões, tornados e tempestades costeiras, entre outros.

Na atualidade estamos observando uma mudança climática provocada pelo aumento da temperatura global. Esse fenômeno tem interferido tanto na variabilidade climática, quanto na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos. O aquecimento global tem aumentado a temperatura da atmosfera, considerada uma componente rápida de variação climática, e isso tem influenciado outros componentes de resposta mais lenta: os oceanos, as geleiras e as coberturas de neve.

O último relatório do IPCC (2014) afirma que a influência humana sobre o clima foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo global da água, em reduções de neve e gelo, no aumento global do nível do mar e em mudanças em alguns eventos climáticos extremos. Mudanças na ocorrência de eventos extremos foram observadas por cientistas do mundo todo a partir de 1950. Aqui no Brasil, temos vivenciado um aumento de eventos recorrentes, normalmente relacionados a fenômenos hidro meteorológicos, como a seca prolongada e alguns episódios de inundações (especialmente na última década) na região Nordeste; e as chuvas torrenciais, os deslizamentos de terra, vendavais, granizos, tornados e ciclones tropicais na região Sul.

E então, agora você consegue identificar os efeitos das mudanças do clima em sua vida?

Share This