Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Sustentabilidade: conceito, dimensões e impactos para os negócios

Apesar do conceito de sustentabilidade ser discutido há décadas, ele ainda gera dúvidas entre as pessoas, especialmente quanto aos seus impactos no momento de aplicá-lo na prática. E, por se tratar de um termo que está em alta em todos os setores da sociedade, vale a pena discutí-lo sempre, de forma a melhorar seu entendimento e favorecer sua implementação.

Por isso, eu discuto aqui os seguintes tópicos

  •  O aumento crescente das discussões rumo à sustentabilidade;
  • A mudança de posicionamento das empresas rumo a uma produção sustentável;
  • A abordagem atual para o conceito;
  • As dimensões da sustentabilidade e as implicações para os negócios;
  • O desafio de uma mudança de mindset para gerar um futuro sustentável.

A sustentabilidade está na pauta

Estamos vivendo uma mudança de paradigma na forma como as pessoas consomem produtos e serviços e isso tem impactado o posicionamento das empresas perante seus clientes e a sociedade em geral.

Foi-se o tempo em que apenas questões relacionadas às características do produto como preço, funcionalidade, tecnologia ou design, eram elementos de decisão de compra. Também já ultrapassamos a fase da humanização das marcas, com maior importância à imagem e ao relacionamento da empresa com seus clientes.

O que observamos atualmente é um discurso crescente pela “sustentabilidade”: empresas sustentáveis, processos sustentáveis, produtos sustentáveis. Cada vez mais, vemos empresas investindo sustentabilidade para gerar um impacto positivo na sociedade e manter-se competitivo no mercado. Em muitos casos, a sustentabilidade passou a ser considerada uma premissa de sucesso.

As pessoas estão mudando a forma como vêem o mundo

A nova realidade de consumo  voltada para os impactos positivos da  sustentabilidade é uma tendência mundial. As crises econômicas, desigualdades sociais, desequilíbrios ambientais e distorções éticas que afetam a sociedade como um todo têm sensibilizado cada vez mais as pessoas gerando uma forte mudança de posturas nos consumidores. Vemos o crescimento no número de consumidores mais atentos às consequências de seu consumo, preocupados com questões ambientais, sociais, éticas, de saúde e de segurança.

Nesse contexto, os meios de comunicação, especialmente a internet, têm desempenhado um papel determinante, seja para consolidar boas práticas e hábitos saudáveis, ou para apontar impactos negativos gerados pelas empresas e provocar um posicionamento claro dos consumidores. Já vimos exemplos de situações em que trabalho escravo, poluição ambiental, concorrência desleal ou desrespeito à legislação vigente impactam negativamente os negócios, e nem um bom preço ou uma melhor qualidade do produto podem superar.

Todos esses fatores justificam a crescente mudança de posicionamento das empresas rumo a sustentabilidade. Porém, para defender a bandeira da sustentabilidade, é preciso entender o que esse conceito significa!

Se você acredita que reciclar o lixo, evitar embalagens plásticas, coletar a água da chuva, ou fomentar projetos de reflorestamento é o suficiente para ser sustentável, você precisa rever seus conceitos! Apesar dessas medidas serem positivas e contribuírem para diminuir os impactos ambientais de nossas ações cotidianas, elas mostram a crença (equivocada) de que sustentabilidade está diretamente relacionada somente a questões ambientais!

Mas afinal, o que é sustentabilidade?

A palavra sustentabilidade vem do latim, sustentare, que significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. Esse termo começou a ser discutido no meio político a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente que ocorreu em Estocolmo, em 1972.  

Porém, o conceito de sustentabilidade surgiu em 1987, quando  a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente apresentou na ONU um diagnóstico dos problemas ambientais do planeta. Esse documento ficou conhecido como Relatório Brundtland e estabelecia que o desenvolvimento econômico deveria estar integrado à questão ambiental para a sobrevivência do planeta. (veja a tradução do relatório aqui)

A partir de então, a ONU definiu sustentabilidade como “o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras”.

Alguns anos depois (1994), John Elkington criou o termo Triple Bottom Line, conhecido no Brasil como o Tripé da Sustentabilidade. O autor relacionou à sustentabilidade três dimensões: social, econômico e ambiental.

Cada uma dessas dimensões pode ser entendidas no sentido macro (planeta, país) ou micro (a empresa, o indivíduo). A idéia partiu da premissa de que uma empresa não pode prosperar alheia ao seu contexto, pois é este que lhe fornece recursos naturais e humanos para o seu desenvolvimento.

As três dimensões da sustentabilidade

A dimensão social está relacionada ao capital humano de uma empresa, comunidade ou sociedade. Envolve variáveis sociais como a educação, a equidade, o bem estar, a saúde, a segurança e a qualidade de vida das pessoas envolvidas,

A dimensão ambiental refere-se ao capital natural envolvido, ou seja, variáveis ambientais relacionadas aos recursos naturais, como qualidade do ar, da água, biodiversidade, conservação de energia e uso do solo.

A dimensão econômica diz respeito às causas e efeitos das decisões de negócios. Concentra-se em um crescimento sustentado, cuja economia não se orienta apenas por questões financeiras, e sim por resultados reais de bem-estar social e de capacidade de regeneração dos ecossistemas.

Dessa forma a sustentabilidade se revelou um conceito amplo e complexo que demorou muito tempo para ser completamente entendido e principalmente aplicado na prática.

A mudança de mindset nos negócios

Hoje entende-se que essa é uma questão sistêmica onde tanto os recursos naturais quanto os direitos humanos precisam ser respeitados e protegidos. Por isso, para sermos sustentáveis, nosso pensamento, nossas decisões e nossas ações devem ser economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente aceitas e ecologicamente corretas.

Ou seja, a sustentabilidade depende de nossas escolhas sobre as formas de produção, consumo, habitação e transporte, entre outros, e mais do que isso,  a forma como nos relacionamos  com outras pessoas e com o ambiente, considerando valores éticos, solidários e democráticos.

Os impactos da sustentabilidade nos negócios

Ao compreender para qual direção o mundo está mudando, muitos empreendedores descobriram que, ser social e ambientalmente responsável não é apenas uma obrigação, é também uma oportunidade de incorporar vantagens competitivas ao seu negócio. Ou seja, eles viram os impactos positivos da sustentabilidade nos negócios

Mas investir em sustentabilidade é um grande desafio. Não basta aderir a propostas ambientais de viés sustentável. O mais importante é mudar a forma de pensar a atuação da empresa e incorporar a sustentabilidade no coração do negócio.

Isso exige que os líderes empresariais repensem questões estratégicas fundamentais, incorporando a sustentabilidade à cultura da empresa como um valor, um propósito, uma filosofia.  A partir daí, a estratégia do negócio deve direcionar suas ações aos objetivos sutentáveis em todos os setores da empresa. Mas para assegurar que isso se realize, é essencial o engajamento de todo o corpo de funcionários.

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Desenvolvimento urbano sustentável: instrumentos políticos na gestão ambiental

Desenvolvimento urbano sustentável: instrumentos políticos na gestão ambiental

Durante muito tempo, a busca constante dos países desenvolvidos por altos níveis de desenvolvimento econômico, com acesso irrestrito aos recursos naturais, resultou em efeitos  negativos ao ambiente, tais como a poluição da água e do ar, resíduos perigosos e, mais recentemente, a mudança climática global. Nesse contexto, a gestão ambiental sempre foi vista como uma restrição necessária ou uma regulação da atividade econômica para conter os danos ambientais dentro de limites aceitáveis. A política de gestão ambiental era independente da política econômica e do desenvolvimento sustentável e suas ações se concentravam em proteger o meio ambiente e  a qualidade de vida,  dos efeitos secundários da atividade econômica. Em geral, as intervenções ambientais não eram percebidas como atividades produtivas, mas como uma quebra da atividade econômica. Esta perceção ocorre pela falha em reconhecer as ligações entre a proteção ambiental, a eficiência, a sustentabilidade do desenvolvimento, a reestruturação de processos e, em parte, o tipo dominante de instrumentos de política utilizados para implementar a gestão ambiental. Na atualidade,  os conceitos de desenvolvimento sustentável e de coesão econômica mudaram o panorama da gestão ambiental em termos de objetivos e formas de governar. A perceção da política do ambiente mudou de uma responsabilidade econômica para uma potencial vantagem econômica.  E muitas atenções voltam-se para as implicações do desenvolvimento sustentável no contexto urbano, considerando as interrelações entre as dimensões econômica, social e ambiental. A busca pela sustentablidade urbana e por cidades melhores para se viver  tem sido uma preocupação constante de alguns governos que consideram socialmente benéfico internalizar os benefícios sociais de atividades que geram externalidades positivas. É o caso dos investimentos em qualidade ambiental, integração sócio-cultural, mobilidade urbana sustentável, entre outras atividades  que promovem a qualidade de vida  e o bem estar da população. É concenso que as áreas urbanas constituem  importantes locais para o desenvolvimento econômico e social de um país, e o tema “sustentabilidade” adquiriu importância significativa  com o evidente crescimento das áreas urbanas no mundo. O interesse por esse assunto é atribuído a publicação de 1987 do relatório da Comissão Brundland denominado Our Common Future, mas a temática sobre o ambiente urbano, revelou‐se mais presente quando também fez parte do programa dedicado ao Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Conferência do Rio/92 . Desse encontro nasceu a Agenda 21, com discussões de importantes medidas rumo ao desenvolvimento sustentável. Em um de seus capítulos, o documento sugere a transferência das suas medidas para o nível local – a Agenda 21 Local, através de um processo participativo em que as próprias populações, sabendo quais as suas realidades locais, obtenham consenso sobre os melhores modelos de desenvolvimento.

Desenvolvimento Urbano

O ambiente urbano é formado por dois sistemas intimamente interrelacionados: o “sistema natural” composto do meio físico e biológico (solo, vegetação, animais, água, etc) e o “sistema antrópico” consistindo do homem e de suas atividades, de forma que o ambiente urbano interage com o ambiente natural e os reflexos das atividades humanas podem ser vistos em ambos. O “modo de vida urbano” expressa-se sobretudo pelas relações sociais que se estabelecem nesse espaço, decorrentes de uma aproximação físico-territorial e de um sistema cultural. O processo de urbanização é uma realidade constatada mundialmente. Este processo tem sido intenso, modificando rapidamente a dinâmica das cidades, exigindo um planeamento sustentável e a compreensão das suas relações e impactos locais e globais. A globalização e a consequente  reestruturação econômica das últimas décadas têm afetado de várias formas o desenvolvimento urbano de países desenvolvidos e em desenvolvimento, embora a forma de impacto tem sido fortemente determinada por fatores políticos locais. Enquanto as regiões mais desenvolvidas apresentam um panorama estabilizado quanto ao crescimento de áreas urbanas, as regiões em desenvolvimento tendem a aumentar cada vez o número de pessoas nessas áreas . A percepção das peculiaridades de cada local ao qual o processo de desenvolvimento urbano deve adaptar-se apresenta grandes dasafios, visto que implica no envolvimento efetivo de diferentes agentes, sejam eles, governantes, grupos econômicos ou cidadãos. A sustentabilidade urbana apresenta três aspectos diferentes:
  1. A contribuição das atividades das áreas urbanas para um resultado insustentável;
  2. As possibilidades de uso das áreas urbanas para tornar o desenvolvimento econômico mais sustentável;
  3. As propostas de governo, em nível urbano, que influenciam ações para a sustentabilidade e demonstram compromissos com a agenda de desenvolvimento sustentável .
Todavia, a busca por um bem estar sustentável para futuras gerações  implica em três importantes dimensões:
  • a existência de um nível positivo de bem estar sustentável;
  • a magnitude das metas de bem estar futuros  frente aos níveis de bem estar atuais;
  • a capacidade de entendimento pelas gerações anteriores dos níveis futuros de bem estar.

 Gestão do ambiente e economia 

O debate de questões ambientais tem crescido muito nos últimos tempos. As  discussões saem da esfera política e acabam por envolver diferentes agentes, nomeadamente associações de defesa do ambiente, grupos econômicos e cidadãos em geral. O interesse na discussão ambiental manifesta-se desde a escala local até global, e relaciona política do ambiente, desenvolvimento econômico e vida social. No contexto econômico atual, diante de muitas restrições orçamentárias e de fragilidades institucionais, os  governantes precisam decidir quais problemas são prioritários e, muitas vezes torna-se difícil atingir os níveis necessários de proteção ambiental. Nesse sentido,  as análises econômicas vêm conquistando uma atenção cada vez maior, à medida que possibilitam avaliar os custos impostos à sociedade. A evolução das políticas ambientais desde o início dos anos 1970 tem se caracterizado por duas situações: em primeiro lugar o desenvolvimento de um número de “princípios” concebidos para dar base a estas políticas, tanto em nível empresarial quanto aqueles reconhecidos internacionalmente: o princípio do “poluidor-pagador” é o mais importante. Em segundo lugar, o desenvolvimento e a implantação dos chamados “instrumentos de política”, projetados para implementar e aplicar políticas ambientais. O princípio de internalização das externalidades através do pagamento do imposto pigouveano (poluidor-pagador)  embasa boa parte do senso comum quanto à forma como o Estado deve gerir a questão da degradação ambiental. Porém outros métodos de valoração monetária dos recursos naturais foram  criados ou adaptados pelos integrantes da escola ambiental neoclássica, como o Teorema de Coase que analisa o problema de valoração das externalidades como consequência da ausência de propriedade particular sobre os recursos naturais, ou ainda a aplicação da análise custo/benefício e de valoração contingencial para as externalidades ambientais, todos sob a ótica da internalização das externalidades ambientais. Por outro lado, a formulação de metas e objetivos ambientais é um processo de construção de consenso e isso requer a consulta aos agentes interessados, além da avaliação da viabilidade administrativa e financeira de forma a atingir os resultados desejados em termos de qualidade e controlo do ambiente.

O uso de instrumentos políticos para a regulação ambiental

Instrumentos de política ambiental são ferramentas utilizadas pelos governos para implementar as suas políticas ambientais. Muitos tipos de instrumentos políticos, com grau variável de sucesso, têm sido usados por vários governos em decisões relativas à questão ambiental. Esses instrumentos podem ser divididos em dois principais tipos: i) instrumentos reguladores, ou instrumentos do tipo comando e controle, onde o poder público estabelece os padrões e monitora a qualidade ambiental, regulando as atividades e aplicando sanções e penalidades, via legislação e normas; e ii) instrumentos econômicos ou instrumentos de mercado, tais como impostos e isenções fiscais, licenças negociáveis​​ e taxas. Algumas medidas voluntárias, como os acordos bilaterais negociados entre o governo e empresas privadas, e os compromissos assumidos por empresas independentes da pressão do governo, são outros instrumentos utilizados na política ambiental. Da mesma forma, medidas como a ampla divulgação ao público, a informação e a educação também vêm sendo cada vez mais usados. De acordo com a UNEP (Programa Ambiental das Nações Unidas), ao longo dos últimos anos cresceu o interesse no uso dos mecanismos de mercado para atingir os objetivos de proteção ambiental. Ao invés dos governos estipularem as tecnologias que devem ser utilizadas para reduzir os danos ambientais ou definir a intervenção máxima sobre os recursos naturais, processo esse conhecido como “comando e controle”, o uso de instrumentos econômicos pode fornecer um incentivo  financeiro aos agentes agressores do ambiente de modo a modificar seus comportamentos.

Instrumentos de Regulação e Controle

Instrumentos de regulação são utilizados na maioria dos países. Eles podem ser definidos como regras institucionais que visam a influenciar diretamente o desempenho ambiental dos poluidores, regulamentando os processos e produtos utilizados, proibindo ou limitando a descarga de certos poluentes, e/ou restringindo as atividades a certos períodos ou áreas. Os maiores problemas para sua adoção são a falta de reforço e o efeito rebote; por outro lado, a maioria das medidas políticas atinge altas economias a baixo custo, geralmente a custos negativos para a sociedade e por isso, geralmente são combinados com outros instrumentos.

Instrumentos econômicos ou de mercado

Instrumentos econômicos são baseados nos mecanismos de mercado, e geralmente contêm elementos de ação voluntária ou participação, que muitas vezes são iniciadas ou promovidas por regulamentações de incentivo. Os instrumentos econômicos podem ajudar em questões sobre a eficiência e a flexibilidade da regulamentação existente, além de responder a necessidade de receitas fiscais na busca de instrumentos para reconciliar a política econômica e ambiental e promover o desenvolvimento sustentável. Em muitos casos, a introdução gradual de uma selecção de instrumentos econômicos adaptados às condições locais, pode dar flexibilidade, apoio financeiro, e maior eficiência aos regimes regulamentares existentes. Os incentivos fiscais podem ser  ferramentas de políticas públicas que influenciam os preços a partir do uso de medidas fiscais, de modo a promover incentivos financeiros que podem alterar comportamentos. Tanto podem reduzir o consumo de um determinado bem ou serviço ao aplicar um imposto ou incentivá-lo por meio de suporte financeiro, se forem consideradas as barreiras relacionadas com o custo inicial.

Instrumentos de informação e persuasão

Essa categoria reagrupa uma série de medidas políticas muito diferentes, cuja eficiência depende, entre outros fatores, de uma combinação apropriada com outras políticas públicas. Apesar de serem consideradas medidas pouco rígidas, podem atingir economias significativas. Utilizam a oferta de informação e o uso de discursos significativos para persuadir pessoas e organizações no sentido de promover ações voluntárias a favor do ambiente. No que tange especificamente a governança para o desenvolvimento urbano sustentável, Rydin( 2010, p. 56) sintetiza na Tabela 1 as ações necessárias relacionadas às políticas ambientais de modo a superar possíveis resistências. Tabela 1: Ações necessárias para superar resistências
Instrumentos Políticos Construção da vontade de agir Construção da capacidade de agir Resistencia contrária de agentes individuais ou grupos Mudança de estruturas de incentivo
Informação e persuasão Mudar a percepção dos agentes sobre as razões para agir Mostrar que mudanças são possíveis Informações contrárias as fornecidas pelos agentes, minimizar a legitimidade de seus comportamentos Conhecimento é poder
Incentivos financeiros Promover o incentivo a ação Promover recursos financeiros para ações Reestruturar os recursos disponíveis a alguns agentes e quem sabe reduzir seu poder Reestruturar estruturas de incentivo
Ações colaborativas Criando  redes de contatos a fim de criar uma agenda para ação Rever recursos a partir das redes de contatos Controlar  agentes por meio de sansões leves e sobrepor conflitos Alterar as relações estabelecidas entre os agentes e a percepção dos incentivos
Regulação e controlo Elevar  expectativas sobre normas e potenciais benefícios Estabelecer estratégias para atingir os resultados Controlar o comportamento dos agentes através de ações regulatórias Alterar o balanço de custos e benefícios a partir das normas estabelecidas

A escolha da melhor opção

Promover a cidade do futuro é uma tarefa dura! Contemplar de uma forma equilibrada os  princípios de sustentabilidade exige ações de envolvimento coletivo. A participação de todos os agentes da sociedade, sejam eles governantes, corpo científico, grupos econômicos e cidadãos em geral é essencial para se conhecer as necessidades de uma comunidade e principalmente, dar legitimidade a todas as ações realizadas, o que torna o processo mais fácil de se consolidar. Na atualidade, muito se tem discutido sobre as formas de governar e os mecanismos necessários para colocar determinadas políticas em prática. A evolução das políticas ambientais nas últimas décadas valeu-se cada vez mais de instrumentos econômicos para tornar–se mais eficiente.  De alguma forma, percebe-se que a melhoria das condições de vida dos cidadãos em áreas urbanas depende de decisões políticas, cujos recursos podem ser originados não apenas de investimentos públicos, mas também da responsabilidade privada pelos danos que determinadas atividades provocam no ambiente. E não existe uma fórmula mágica para se atingir os objetivos de qualquer ação. É necessário entender as características de cada local e tomar medidas coerentes com as necessidades identificadas  e  com a capacidade de resposta da comunidade. Cada vez mais, percebe-se que uma única medida não é suficiente e a perspicácia de governantes no uso da melhor combinação de instrumentos políticos pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma política. Por outro lado, qualquer política não é estanque em si. Todos os processos precisam ser avaliados em diferentes fases, desde sua elaboração até consolidação, e sempre que se identificar necessidade de ajustes para corrigir algumas distorções, devem ser realizadas.  Os decisores políticos devem ser os maestros nesse processo.
As mudanças do clima geram grandes desafios para as cidades

As mudanças do clima geram grandes desafios para as cidades

O aumento da população urbana é um fenômeno mundial. No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento as taxas de urbanização cresceram significativamente nas últimas décadas. Enquanto no mundo 54% da população vive em cidades, em 2010 os dados do IBGE registravam que 84% da população brasileira já vivia em áreas urbanas. Essa realidade tem múltiplas causas e várias consequências desafiadoras para quem pensa, planeja e gere as cidades. Estar atento a isso é o primeiro passo para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. As aglomerações humanas apresentam-se como fatores responsáveis por uma parte significativa dos problemas ambientais, tais como o desmatamento que provoca o desaparecimento de espécies da fauna e flora; o assoriamento dos rios, que contribui para extinção de espécies aquáticas; a concentração de lixo, que causa a contaminação do solo, ar e água, e expõe a população a doenças; o aumento de áreas impermeabilizadas que altera o escoamento da água, entre outros. Além disso, mais pessoas concentradas em um único lugar, geram maior demanda por bens e serviços, ampliando assim os desafios a serem enfrentados pelos gestores públicos. Todos nós temos uma idéia dos maiores problemas que a rápida urbanização provocou nas cidades e especialmente nas metrópolis brasileiras: grande parte da população vive em favelas; o setor informal claramente cresceu; os serviços básicos são inadequados e muitas vezes inascecíveis, tais como água, saneamento e energia; a mobilidade urbana é deficiente, a expansão urbana é desordenada; existem conflitos políticos e sociais sobre o uso de recursos naturais; e os níveis de vulnerabilidade a desastres naturais são altos. Porém, esses desafios são coletivamente agravados pelas mudanças climáticas. A crescente intensidade e freqüência dos efeitos das mudanças climáticas previstos para as próximas décadas representam uma ameaça para o equilíbrio dos sistemas urbanos em todo o mundo. Nesse sentido planejadores e gestores urbanos precisam ter em mente 4 questões fundamentais:
  • Primeiro: qualquer planejamento urbano de longo prazo que visa um desenvolvimento mais sustentável deve levar em consideração os impactos das mudanças climáticas pois, sem isso, os ganhos de desenvolvimento de hoje podem ser perdidos amanhã.
  • Segundo: as formas como nossas cidades são planejadas e operam – bem como os estilos de vida das pessoas que vivem nelas – são os principais contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa que causam a mudança climática. As ações humanas e as próprias características da cidade, como morfologia, densidade e uso dos materiais, podem influenciar na composição da atmosfera e no comportamento das variáveis meteorológicas como radiação, temperatura, circulação do ar e precipitação.
  • Terceiro: o crescimento urbano será cada vez mais impulsionado pela migração rural-urbana induzida por mudanças climáticas.
  • Quarto: a rápida urbanização revela o aumento de populações em favelas, aumentando o número de assentamentos irregulares e informais, a demanda por habitação e serviços básicos, ampliando assim a pressão sobre a terra e os ecossistemas. As diferenças sociais e a pobreza levam as populações menos favorecidas a ocupar áreas ambientalmente frágeis que não deveriam ser ocupadas tais como encostas de morros, regiões costeiras, deltas dos rios e áreas muito baixas. Essas áreas são mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas e podem desencadear verdadeiros desastres naturais.
Aumento de temperatura, alteração na precipitação, interferência no regime de ventos e subida do nível do mar são os principais efeitos das mudanças climáticas. A crescente intensidade desses efeitos e a alteração da frequência prevista para as próximas décadas representam uma ameaça ao equilíbrio dos sistemas urbanos em todo o mundo. Esses efeitos podem causar impactos nas estruturas urbanas que compreendem o ambiente construído, natural e as pessoas, de modo a causar danos que podem vir a comprometer a dinâmica das cidades. A ocorrência de desastres climáticos depende especificamente da vulnerabilidade de determinadas comunidades, ou seja, das relações entre a exposição ao risco e a sua capacidade de adaptação. O comportamento humano é determinante para definir o grau do risco e a capacidade de resiliência do sistema.Assim, os impactos das mudanças climáticas sobre a infra-estrutura física urbana, economias, saúde pública e segurança são discutidos em função da vulnerabilidade de grupos ​​específicos. Alguns conceitos são fundamentais para compreender os processos naturais como riscos e identificar o que torna uma sociedade vulnerável às mudanças climáticas:
  • Os riscos são previsíveis a partir de uma avaliação científica, ou seja, podem reduzir-se os efeitos de um evento perigoso com previsão e alerta. A partir de qualquer outro evento precursor é possível identificar a localização de um risco e determinar a probabilidade de que aconteça um evento de uma determinada magnitude.
  • A análise de risco é um componente importante na compreensão dos efeitos de processos perigosos. Sem conhecer o perigo, não é possível agir de forma a minimizá-lo ou até mesmo evitá-lo.
  • Existem vínculos entre diferentes riscos naturais, assim como entre os riscos e o meio físico. O impacto de um perigo é em parte função de sua magnitude, e do intervalo de eventos, ou seja, sua frequência, mas também está relacionado a outros fatores, como clima, geologia, vegetação, população e especificamente o uso do solo, fator de origem essencialmente antropogênica.
  • Eventos perigosos que antes produziam desastres, agora produzem catástrofes. Isso se dá principalmente pelo crescimento da população e sua concentração em determinadas áreas (áreas urbanas), fazendo com que os danos econômicos, sociais e ambientais adquiram dimensões muito maiores.
A partir do conhecimento da dinâmica de um determinado tipo de evento climático é possível adotar uma resposta preventiva de forma a evitar os riscos ou adaptar-se a eles. Para tanto algumas ações são necessárias, tais como: planejamento do uso do solo, investimento em seguro, formulação de estratégias de adaptação, a preparação das pessoas frente ao risco de desastre através do treinamento, e controle artificial de processos naturais. Nesse processo, a busca pela informação precisa e confiável, a forma como ela é disseminada através de ferramentas de comunicação, além do envolvimento da população a partir de mecanismos de participação podem fazer a diferença.
Como ocorre o Aquecimento Global?

Como ocorre o Aquecimento Global?

O aquecimento global é o aumento da temperatura média global da atmosfera e dos oceanos. Esse processo desencadeia importantes alterações em praticamente todos os sistemas e ciclos naturais da Terra. O aumento da temperatura global afeta o fluxo dos ventos, as correntes marinhas, os ciclos da água, do carbono, do nitrogênio e de outros compostos, que interferem diretamente no sistema climático, provocando as mudanças climáticas.

O sistema climático terrestre muda em resposta a variações de fatores externos, tais como alterações da radiação solar e da órbita da terra em torno do Sol; ou de fatores internos que envolvem alterações na composição química da atmosfera, tais como  erupções vulcânicas e altas concentrações de gases do efeito estufa.

O processo de aquecimento global que estamos vivenciando na atualidade é causado pela mudança da composição química da atmosfera provocada pela atividade humana. Para a maior parte da comunidade científica, com a revolução industrial, o homem alterou os modos de produção, aumentou o consumo de bens e o uso de fontes energéticas, principalmente combustíveis fósseis, lançando na atmosfera bilhões de toneladas de gases estufa.

O efeito estufa e o aquecimento global

Quando estudamos o sistema terrestre na escola, aprendemos que a atmosfera é a camada de ar que envolve a superfície da terra, e que ela é um dos elementos responsáveis pela existência de vida no planeta. Essa é uma visão correta, mas bastante simplista. Se pesquisarmos um pouco mais, vamos descobrir que a atmosfera é composta por uma camada de gases, de material particulado e de vapor dágua. Nitrogênio, oxigênio e argônio constituem os 99,93% dos gases naturais presentes na atmosfera.  Os 0,07% restantes são compostos de vapor d’água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, ozônio e gases artificiais chamados clorofluorcarbonos, que são os que têm maior impacto sobre o efeito estufa, considerado o grande vilão das mudanças climáticas. Esses gases de efeito estufa estão naturalmente presentes na atmosfera, mas sua presença tem aumentado enormemente como resultado da ação humana, principalmente por quatro razões: a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento florestal, a destruição de ecossistemas marinhos e o aumento de população, que consome cada vez mais recursos naturais

Entretanto, apesar de amplamente condenado, o efeito estufa é um processo natural e fundamental para manter a temperatura média da terra em condições ideais para a sobrevivência e para o desenvolvimento das espécies. Ele é responsável por reter parte do calor solar que chega ao planeta, mantendo assim a temperatura da superfície da terra adequada aos seres vivos. Sem esse efeito, a temperatura da terra seria de aproximadamente -20ºC, dificultando a vida no planeta!

A denominação de efeito estufa se deve à similaridade do fenômeno que ocorre em uma estufa de plantas, onde um vidro envolve o ambiente. Esse vidro filtra a passagem da energia solar. Parte dessa energia é refletida e outra parte é absorvida pelas plantas e pelas superfícies do ambiente. A energia absorvida se transforma e é reemitida para o ambiente com características diferentes, sendo a sua maioria em forma de calor. Esse calor não consegue mais ultrapassar a superfície do vidro, aquecendo o ambiente. É isso que acontece com a terra.

Para entender melhor esse fenômeno, dentre os gases presentes na atmosfera, alguns como o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso, além de outras partículas como os aerossóis e o vapor de água, funcionam como a camada de vidro que envolve a estufa de plantas. Eles são denominados gases de efeito estufa e se concentram na camada mais externa da atmosfera, funcionando como uma capa de proteção. Por sua composição e estrutura, esses gases funcionam como um filtro que controla o fluxo de energia do sol que incide sobre a atmosfera. Apesar de deixarem passar a energia vinda do Sol (emitida em comprimentos de onda menores), são opacos à radiação terrestre, emitida em maiores comprimentos de onda. Essa diferença nos comprimentos de onda se deve às diferenças nas temperaturas do Sol e da superfície terrestre.

Normalmente as pessoas fazem uma certa confusão entre gases de efeito estufa e a camada de ozônio.  O ozônio é um dos gases que também compõe a atmosfera. Apesar de estar presente em pequenas quantidades em comparação com outros gases, cerca de 90% de suas moléculas se concentram entre 20 e 35 km de altitude, criando uma região relativamente homogênia denominada Camada de Ozônio. Essa camada é essencial à vida na terra pois o ozônio é o único gás que filtra os raios ultravioleta do tipo B (UV-B), emitidos pelo Sol e extremamente nocivos aos seres vivos.

Da energia solar que chega à atmosfera, aproximadamente 30% é refletida para o espaço. A outra parte da energia (70%) é filtrada pelos gases gases de efeito estufa, chega ao solo e aquece a superfície. As diferentes superfícies do solo terrestre (vegetação, edificações, água, pavimentos, carros, entre outros) reagem de forma variada, absorvendo ou refletindo em maior ou menor grau essa energia. Entretanto as superfícies que absorvem mais energia, devolvem uma parte dela ao ambiente em forma de calor. Esse calor, por suas características físicas (comprimento de onda maior), tem mais dificuldade de ultrapassar a camada de gases de efeito estufa para voltar ao espaço, e grande parte dele ainda permanece na atmosfera, mantendo o ambiente aquecido. Assim, a média da temperatura da superfície da terra em condições normais se mantém em aproximadamente 15ºC, possibilitando que a vida se forme e se desenvolva.

Como o aquecimento global acontece?

Na proporção certa, os gases de efeito estufa cumprem seu papel de manter a temperatura adequada à vida no planeta. O aquecimento global acontece quando há um desequilíbrio na quantidade desses gases na atmosfera. Quanto maior for a sua quantidade, mais densa será a camada de proteção que permite a entrada da energia emitida pelo sol, mas retém o calor refletido pela terra na atmosfera, aumentando assim a sua temperatura média global. Fazendo uma analogia, o aumento de gases de efeito estufa na atmosfera funciona como um cobertor que protege a terra e não deixa sair o calor que ela reflete, aumentando assim a sua temperatura média.

 

O problema é que pequenas mudanças na temperatura média global podem causar mudanças importantes e perigosas no tempo e no clima. Para se ter uma idéia, a diferença de 1 grau Celcius pode representar a diferença entre gelo e água. Sendo assim, se essa diferença acontecer regularmente por meses em uma região que depende de um ciclo natural de acumulação de neve no inverno e de precipitação na primavera, isso pode promover uma  grande mudança na dinâmica do lugar, alterando a vida cotidiana e até mesmo as fontes de renda das pessoas.

Os cinco gases originados das atividades humanas que juntos contribuem em aproximadamente 95% para o aumento do aquecimento global  são: o dióxido de carbono, o metano, os compostos halogenados como CFCs, HCFCs, HFCs, PFCs, SF6 e NF3, o ozônio troposférico e o óxido nitroso. Eles tem tempos de permanencia na atmosfera, níveis de contribuição para o aquecimento global e fontes de emissão variadas.

O dióxido de carbono, conhecido vulgarmente como gás carbônico é responsável por 53% do nível de aquecimento global. Sua permanência na atmosfera é muito alta: 80% do dióxido de carbono emitido demora em torno de 200 anos para desaparecer, mas os outros 20% podem demorar até 30.000 anos. Naturalmente ele é produzido pela respiração, na decomposição de plantas e pelas queimadas naturais nas florestas. Entretanto, as duas principais fontes desse gás são a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas. A queima de combustíveis fósseis (gás natural, carvão mineral e principalmente de petróleo) ocorre na produção de energia, no uso industrial e nos transportes (automóveis, ônibus, caminhões, barcos e aviões, entre outros). Os oceânos e as florestas são ecossistemas naturais capazes de absorver o carbono (chamados sumidouros), porém eles também estão sendo ameaçados pela ação humana.

O metano é o segundo principal gás de efeito estufa, pois contribui com 15% do aquecimento global. Ele permanece na atmosfera por um médio prazo (12 anos). Os pântanos e oceânos produzem naturalmente esse gás, mas o aumento significante desse gás na atmosfera se dá principalmente por processos biológicos que envolvem a decomposição anaeróbica (sem oxigênio) de organismos, a digestão animal e a queima de biomassa. Lixões, aterros sanitários, estações de tratamento de efluentes líquidos, criação de gado, arrozais e reservatórios de hidroelétricas são as fontes de metano criadas pela ação humana.

 

Os compostos halogenados como CFCs, HCFCs, HFCs, PFCs, SF6 e NF3 são responsáveis ​​por 11% do aquecimento global. Dependendo do tipo de composto, sua duração na atmosfera varia de alguns meses a dezenas de milhares de anos. Eles são gerados como resultado da produção de produtos químicos em diversos setores, como refrigeração e ar condicionado, equipamentos elétricos e eletrônicos, medicina, metalurgia, entre outros.

O ozono troposférico também tem um efeito de 11% no aquecimento global, mas ele permanece um curto período de tempo na atmosfera (alguns meses). Ele é produzido na reação entre os gases monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO₂) e VOCs (compostos orgânicos voláteis), que são emitidos durante a queima de combustíveis.

 

O óxido nitroso contribui em 5% para a intensificação do efeito estufa e consequente aquecimento global. Além de absorver uma quantidade muito elevada de energia, mantendo o calor na atmosfera, ele também é o gás que mais causa destruição da camada de ozônio. Apesar da baixa emissão em relação a outros gases, seu efeito estufa é cerca de 300 vezes mais intenso que o do dióxido de carbono e ele tem um tempo de permanência na atmosfera muito longo (114 anos).  Ele é emitido por fontes naturais como a ação de bactérias no solo e oceanos. Porém, atualmente um terço da emissão desse gás deriva de atividades humanas, como um subproduto dos métodos de fertilização na agricultura (aproximadamente 75%), da combustão, do tratamento de esgoto e de diversos processos industriais.

Por fim,  vapor d’água presente na atmosfera em forma de nuvens também contribui para o efeito estufa, porém sua concentração é extremamente variável e instável, pois as alterações na temperatura e na pressão do ar  atuam sobre os processos de evaporação, condensação e precipitação. Assim, apesar de seu fluxo radioativo ser duas vezes maior do que do dióxido de carbono, fica dificil fazer uma avaliação de sua contribuição para o aquecimento global.

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Tempo, Clima, Aquecimento Global e Mudanças Climáticas: entendendo as diferenças.

Tempo, Clima, Aquecimento Global e Mudanças Climáticas: entendendo as diferenças.

Afinal, você sabe o que são mudanças climáticas? Será mesmo que estas mudanças do clima estão sendo vivenciadas apenas no degelo dos polos? De que forma você pode identificar essas mudanças na sua vida?

Atualmente as mudanças climáticas são consideradas a maior ameaça ambiental do século XXI, com profundas consequências em todas as áreas da sociedade. Esse tema vem ganhando destaque na mídia e em discussões de várias áreas da sociedade especialmente entre cientistas e políticos, e hoje esse fenômeno é considerado o principal condicionante para a sustentabilidade do planeta.

Sabemos que, durante a história evolutiva da terra, o planeta enfrentou muitos episódios naturais de resfriamento e aquecimento climático de grande magnitude. Porém, esses episódios foram consequência de causas naturais, relacionadas a variações da energia solar, da órbita terrestre ou da erupção de grandes vulcões, que alteraram a composição química da atmosfera.

 

Entretanto, as mudanças climáticas que estamos vivendo agora têm uma característica diferente das anteriores: a interferência da ação humana, chamada ação antrópica.  A partir da Revolução Industrial no século XIX, o homem mudou seus padrões de produção e consumo, e passou a usar de forma desmedida os combustíveis fósseis tais como o carvão mineral e o petróleo como principais fontes de energia. A queima desses combustíveis foi responsável pela emissão de quantidades significativas de gases poluentes (especialmente o gás carbônico).O incremento substancial desses gases na atmosfera é considerado pelos estudiosos a principal causa das mudanças climáticas, pois isso provocou um aumento gradativo da temperatura da atmosfera e da superfície terrestre, ou seja, o aquecimento global. Essa situação tem muitas variáveis envolvidas com consequências sociais, econômicas e ambientais que tornam o tema bastante complexo.

As pesquisas sobre aquecimento global e mudanças climáticas

As primeiras teorias sobre um possível aquecimento global ocorreram durante o século XIX e motivaram o início das observações sistematizadas do clima. A partir do século XX os estudos científicos baseados em dados reais se intensificaram gerando uma extensa bibliografia especializada sobre o tema. Entretanto, até o início dos anos 80, os estudiosos tiveram grande dificuldade de inserir suas conclusões nos debates políticos.

As mudanças climáticas ganharam importância e visibilidade somente no final da década de 1980, quando as Nações Unidas apoiaram uma iniciativa da Organização Meteorológica Mundial (WMO) e do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP)para a criação de uma organização científico-política para acompanhar as descobertas científicas sobre as mudanças climáticas. Daí, surgiu em 1988 o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, conhecido internacionalmente por sua sigla em inglês (IPCC).

O IPCC (vinculado à ONU) é consideradoa maior autoridade mundial sobre aquecimento global pois é formado pelos mais renomados cientistas de todo o mundo. Trata-se de uma organização que não desenvolve pesquisas ou coleta dados, mas analisa as informações científicas, técnicas e socioeconômicas mundiais que auxiliam no entendimento das mudanças climáticas. Os especialistas trabalham de forma voluntária revisando as publicações científicas mais recentes com o objetivode sintetizar e divulgar o conhecimento mais avançado sobre as mudanças climáticase o aquecimento global.

Até o momento, o IPCC produziu cinco relatórios (1991, 1996, 2001, 2007 e 2014). Como estes relatórios abrangem várias áreas de conhecimento, os especialistas são organizados em 3 grupos de trabalho. Cada um dos grupos de trabalho é responsável por sintetizar a evolução da ciência em uma temática:

  1. Grupo de trabalho 1 (WG1): avalia os aspectos físicos do sistema climático e das mudanças do clima;
  2. Grupo de trabalho 2 (WG2): analisa a vulnerabilidade aos impactos das mudanças do clima, as oportunidades identificadas, e as opções de adaptação a essas mudanças;
  3. Grupo de trabalho 3 (WG3): avalia opções de mitigação às mudanças do clima através diminuição das emissões de gases de efeito estufa e/ou através da promoção de atividades de captura desses gases da atmosfera.

Cada um dos relatórios estabeleceu um nível de entendimento científico sobre as mudanças do clima. À medida que as pesquisas evoluíram, o nível de confiança nos resultados apresentados foi aumentando.

O primeiro relatório de avaliação do IPCC (1990)  afirma que os cientistas têm certeza de que as emissões atividades humanas estão aumentando substancialmente as concentrações atmosféricas de GEEs resultando, em média, em um aquecimento adicional da superfície da Terra.

O segundo relatório (IPCC,1995) afirma que a balança de evidências sugere um discernimento influência humana no clima global.

O terceiro relatório (IPCC, 2001)  afirma que há evidências novas e mais fortes de que a maioria o aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível às atividades humanas.

O quarto relatório (IPCC, 2007) afirma que o aquecimento do sistema climático é inequívoco, e que a maior parte do aquecimento recente é resultado da atividade humana.

As conclusões do último relatório do IPCC (2014) têm sido amplamente aceitas pela comunidade científica e indicam que:

  1. As mudanças climáticas estão realmente ocorrendo e foram causadas pelas atividades humanas;
  2. Essas mudanças estão em aceleração e já provocam impactos perigosos em todos os continentes e no oceano;
  3. Somente mitigar as emissões de gases de efeito estufa não é mais suficiente para enfrentar essas mudanças. É necessário implementar medidas de adaptação para o clima em mudança;
  4. Ainda é possível manter o aquecimento global abaixo do limite acordado politicamente no Acordo de Paris (2015), de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Porém, para garantir um futuro climático seguro é necessário tomar medidas imediatas. Quanto maior for a demora, mais difícil será de manter as metas de temperatura aceitáveis;
  5. Uma das soluções mais defendidas consiste em investir em fontes renováveis de energia para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar o aquecimento global;
  6. O aumento da resiliência aos riscos climáticos está diretamente ligado à capacidade de tomar decisões que permitam a redução das vulnerabilidades e da exposição e o consequente aumento da capacidade de adaptação.

Todos os relatórios do IPCC estão disponíveis no site da organização (www.ipcc.ch) para que qualquer pessoa possa consultá-los. A idéia é de que a população em geral e especialmente aos formuladores de políticas públicas tenham acesso à informação precisa e confiável sobre tudo o que tem sido descoberto sobre as mudanças climáticas. Porém, por se tratar de um documento científico, ele é apresentado em uma linguagem específica direcionada a especialistas, diferente daquela que as pessoas estão acostumadas no dia a dia. Contudo, a linguagem complexa, a apresentação de muitos dados e a profundidade da abordagem dificultam o entendimento do documento e desestimulam o interesse das pessoas pela leitura.

Entendendo o aquecimento global e as mudanças climáticas

A divulgação de informações sobre as mudanças climáticas é considerada uma tarefa desafiadora pois envolve dados científicos e conceitos técnicos muitas vezes desconhecidos da população em geral. Além disso, essa é uma temática complexa pois engloba várias áreas do conhecimento e atinge os mais diversos setores e atividades da vida humana.

Por essa razão, a educação ambiental e a conscientização das pessoas sobre o assunto é o primeiro passo para avançarmos com ações efetivas para enfrentar essa nova situação, por vezes tão assustadora. Sendo assim, quanto mais simples e clara forem as informações disponibilizadas às pessoas, maior será o entendimento do tema e por conseguinte, mais pessoas poderão se envolver nessa causa tão importante e urgente.

Pensando nisso, resolvi inicialmente elucidar alguns termos utilizados nas discussões sobre mudanças climáticas que apresentam discordâncias de entendimento entre especialistas e a população em geral.

O primeiro deles tem a ver com o conceito de “clima”. Normalmente as pessoas no Brasil utilizam a palavra “clima” em duas situações distintas:

  1. Para se referir às condições do tempo, como variações de chuvas ou da temperatura em períodos de curtíssimo prazo, ou seja, dias, no máximo semanas. Por exemplo: “Como está o clima em São Paulo hoje?” ou “O clima esteve chuvoso na última semana!”
  2. Para se referir a fenômenos de longo prazo, mais permanentes, que definem as características locais. Por exemplo: “O clima em Brasília é muito seco no inverno.”

Mas para os especialistas, o “clima” é a condição média das condições do tempo em um determinado local. O sistema climático é composto por uma série de variáveis (temperatura, pressão, ventos, umidade, precipitação, correntes marítimas, etc.) interligadas entre si. Para que o clima de um local seja determinado, é observada a média de dados estatísticos sobre essas variáveis, estabelecendo-se assim normais climatológicas para cada período do ano (normalmente relacionadas às estações), que se repetem durante um período de pelo menos 30 anos.

Portanto, o “clima” é uma condição de longo prazo, ou seja, o clima não muda de uma hora prá outra. Entretanto, ele é naturalmente variável no espaço (de um lugar para outro) e no tempo (em diferentes períodos do ano).

Como sabemos, o Brasil apresenta uma grande variedade de climas. O clima do Nordeste é diferente do Sul, o clima da praia é diferente da serra e assim por diante. Isso ocorre devido à grande extensão do nosso território, e às diferentes características locais, tais como a forma do relevo, a altitude e, a dinâmica das correntes e massas de ar que, associadas, determinam um clima diferente de outro.

Em regra, nos acostumamos com o clima da região em que vivemos e compreendemos a variação das diferentes estações do ano. Mas as mudanças de longo prazo, ao longo dos anos, décadas e séculos, são imprevisíveis e mais difíceis de entender. Elas geram consequências que devem ser melhor compreendidas. Neste contexto é preciso distinguir três conceitos que se relacionam: mudanças climáticas, variabilidade climática e eventos climáticos extremos.

  • A mudança climáticaé uma mudança nas características do clima que ocorre em longo prazo. Essa mudança é identificada com base em testes estatísticos e revela alterações na média e/ou na variabilidade de suas propriedades, e que persiste por um período prolongado, tipicamente décadas ou mais. É o caso do aquecimento global que estamos enfrentando e que vem alterando o clima de todo o planeta.
  • A variabilidade climáticase refere a oscilações periódicas (diárias, sazonais, anuais, interanuais, de vários anos) no clima, sem que haja mudança do clima. Isso inclui as flutuações do clima associadas a eventos como o El Niño (período seco), La Niña (período úmido), as Zonas de Convergência Intertropical (ZCIT) e do Atlântico Sul (ZCAS), bastante conhecidos no Brasil. Por isso muitas vezes percebemos por exemplo que um ano teve um inverno mais seco, ou mais frio, que outro.
  • Um evento climático extremoé um episódio raro em um determinado local e em uma época do ano. As características do chamado clima extremo podem variar de lugar para lugar. Por definição, podem ser ondas de calor ou de frio, fortes chuvas em curtos períodos de tempo, secas prolongadas, furacões, tornados e tempestades costeiras, entre outros.

Na atualidade estamos observando uma mudança climática provocada pelo aumento da temperatura global. Esse fenômeno tem interferido tanto na variabilidade climática, quanto na intensidade e frequência de eventos climáticos extremos. O aquecimento global tem aumentado a temperatura da atmosfera, considerada uma componente rápida de variação climática, e isso tem influenciado outros componentes de resposta mais lenta: os oceanos, as geleiras e as coberturas de neve.

O último relatório do IPCC (2014) afirma que a influência humana sobre o clima foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo global da água, em reduções de neve e gelo, no aumento global do nível do mar e em mudanças em alguns eventos climáticos extremos. Mudanças na ocorrência de eventos extremos foram observadas por cientistas do mundo todo a partir de 1950. Aqui no Brasil, temos vivenciado um aumento de eventos recorrentes, normalmente relacionados a fenômenos hidro meteorológicos, como a seca prolongada e alguns episódios de inundações (especialmente na última década) na região Nordeste; e as chuvas torrenciais, os deslizamentos de terra, vendavais, granizos, tornados e ciclones tropicais na região Sul.

E então, agora você consegue identificar os efeitos das mudanças do clima em sua vida?