Nos últimos anos, a vulnerabilidade às mudanças climáticas têm se tornado uma temática frequente. Nas mais diferentes partes do mundo, as pessoas  estão sendo confrontadas com a realidade das mudanças climáticas. As comunidades vulneráveis são as mais afetadas pois não possuem estratégias de enfrentamento eficazes para lidar com os desafios que enfrentam. Por isso,  os desafios da adaptação são enormes e exigem um conhecimento especializado sobre o tema. Já falamos sobre isso por aqui. 

O tamanho do desafio 

O Relatório de Impacto Humano das Mudanças Climáticas, denominado “A Anatomia de uma Crise Silenciosa”  apresentado em 2009 pelo Fórum Humanitário Global (organização internacional sem fins lucrativos com sede em Genebra, Suíça) apresenta números assustadores. O documento indica que a cada ano as mudanças climáticas deixam mais de 300.000 mortos. Além disso, 325 milhões de pessoas seriamente afetadas e perdas econômicas de 125 bilhões de dólares. Quatro bilhões de pessoas são vulneráveis, e 500 milhões de pessoas estão em risco extremo. 

A última edição do Índice Global de Risco Climático publicada nesse início de ano (2018) reúne dados de 1997 até 2016. o Índice  destaca o Haiti, o Zimbabwe e as Ilhas Fiji como países mais afetados por desastres relacionados ao clima no ano de 2016. Entretanto, Honduras, Mianmar e Haiti se classificam entre os primeiros na análise dos últimos 20 anos. Isso ocorre devido a uma sequência de eventos excepcionalmente devastadora, como o furacão Sandy no Haiti e o furacão Mitch em Honduras.

Porém, o pior deles foi o ciclone Nargis que atingiu Myanmar em 2008 . Ele foi responsável por uma perda estimada de 140 mil vidas, com aproximadamente 2,4 milhões de pessoas afetadas. Por outro lado, países como Filipinas, Nicarágua e Bangladesh são considerados os países mais críticos a ocorrência de desastres relacionados ao clima. Todos os anos, os tufões, tempestades tropicais, inundações e deslizamentos de terra os ameaçam, com um grande número de mortes e de pessoas afetadas.

A análise deste ano reconfirma os resultados anteriores do Índice de Risco Climático (IRC): os países menos desenvolvidos são geralmente mais afetados do que os países industrializados.

Em relação à mudança climática futura, o IRC pode servir como um sinal vermelho para a vulnerabilidade já existente.  Essa vulnerabilidade pode aumentar ainda mais em regiões onde os eventos extremos se tornarão mais frequentes ou mais graves. Entretanto nem todos os países dão afetados da mesma forma. Enquanto alguns países em desenvolvimento ​​são freqüentemente atingidos por eventos extremos, para outros, tais desastres são uma ocorrência rara.

 A situação no Brasil

No Brasil,  a edição de 2013 do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais  avalia as ocorrências  de desastres entre 1991 e 2012.  Apesar da crescente freqüência de secas em muitas regiões do país, os deslizamentos de terra representam, de longe, o tipo de desastre mais grave. Isso ocorre pois  esse tipo de desastre apresenta mais probabilidades de resultar em perda de vidas humanas.

Os danos dessas ocorrências podem ter grandes dimensões econômicas, ambientais e sociais. Em uma situação dessas pode provocar muitas consequencias. O bloqueio de rodovias  é uma delas, limitando  o movimento das pessoas e gerando problemas de abastecimento. Além disso,  a destruição da paisagem urbana torna as áreas atingidas mais vulneráveis ​​a novos eventos. Entretanto, o  mais grave,  é o soterramento  de áreas inteiras, enterrando casas  e provocando sofrimento e perdas humanas.

Inundações, enxurradas e deslizamentos de terra são relativamente freqüentes no Brasil, e geralmente ocorrem nas estações chuvosas. Segundo dados de 2014 do Ministério da Integração Nacional, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Santa Catarina são as regiões que mais sofrem com estes problemas. Infelizmente esses eventos aumentaram muito nos últimos anos devido ao crescimento não planejado das cidades. Outra causa é o mau uso das bacias hidrográficas, especialmente relacionado ao desmatamento. As populações mais afetadas são aquelas excluídas socialmente que, por falta de condições econômicas, ocupam áreas ambientalmente frágeis, como as encostas de morros, regiões costeiras, deltas do rio e áreas muito baixas baixas.

 Os desafios futuros

O Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) divulgado em 2014 apresenta para os próximos anos e décadas uma perspectiva adversa para pessoas e comunidades desfavorecidas, independentemente do nível de desenvolvimento do país. Segundo o relatório, as mudanças climáticas causarão impactos generalizados nos sistemas socioecológicos. Além disso, esses riscos serão ampliados, surgirão novos riscos e sua distribuição será desigual.

De acordo com o relatório “Entendendo a Vulnerabilidade às Mudanças Climáticas”, divulgado em 2011 pela CARE Poverty Environment and Climate Change Network, um centro internacional de informações sobre Mudanças Climáticas e Resilência, as mudanças climáticas serão sentidas de forma desigual por diferentes comunidades e indivíduos, com base em suas características únicas.

E, embora o aquecimento global seja apontado como um fator que contribui para o aumento do número de desastres naturais, à medida que aumenta a freqüência e intensidade de grandes chuvas, as características biofísicas e as condições socioeconômicas locais são de grande importância nesta análise.

Além das condições geológicas e climáticas, existem processos externos que geralmente caracterizam os desastres naturais e contribuem indiretamente para a intensificação dos fenômenos. São principalmente aqueles processos induzidos por ações humanas, tais como as ocupações em áreas de risco, o desmatamento, e especialmente as omissões governamentais quanto a esses fatores.

O grande desafio é desenvolver estratégias de adaptação que levem em conta essas características específicas. Os impactos desproporcionados nessas comunidades estão muitas vezes ligados à pobreza e à falta de infraestrutura básica, o que, combinados com a falta de informação, podem limitar a capacidade de adaptação das pessoas.

Nesse sentido, existe uma necessidade urgente de examinar como as comunidades estão lidando com essa situação e que opções elas têm para aumentar autonomamente sua resiliência.

O conhecimento sobre o tema

A complexidade das mudanças climáticas dificulta em muito a abordagem do problema. Apesar dos estudos avançados sobre o assunto, ainda existem grandes lacunas de conhecimento a preencher e as surpresas diante de eventos extremos são inevitáveis, especialmente no que se refere às incertezas da natureza, da magnitude e da intensidade dos possíveis eventos, as especificidades locais e sua consequente vulnerabilidade.

Os estudos nos últimos anos sobre o tema “Adaptação” revelam que a confirmação sobre os futuros impactos das mudanças climáticas, com riscos ampliados para determinadas regiões promoveu um novo entendimento sobre o conceito de adaptação. Os estudiosos afirmam que a abordagem incremental da adaptação defendida nas últimas duas décadas especialmente pelo IPCC, pode não ser suficiente para enfrentar os desafios climáticos em comunidades vulneráveis. Essa abordagem baseia-se em intervenções técnicas pontuais e em programas de formação para minimizar os riscos associados a impactos climáticos específicos.

As novas abordagens da adaptação

Nos últimos anos, o meio científico tem apontado a necessidade de uma transição nos processos de adaptação às mudanças climáticas que adotem ações mais sistêmicas ou transformativas, com iniciativas que respondam às necessidades e aspirações das comunidades vulneráveis. Isso envolve mudanças na dinâmica e na estrutura dos sistemas, nas relações econômicas e sociais, bem como nas crenças e nos comportamentos individuais e de grupos.

Esse tipo de abordagem é muito importante em países em desenvolvimento, pois diluem os investimentos e aumento a capacidade adaptativa das comunidades a partir do conhecimento e da mudança de comportamentos que aumentam suas vulnerabilidades.

Essa transformação deve ocorrer em três áreas interligadas da vida urbana: na esfera prática, política e pessoal. A esfera prática envolve comportamentos e respostas técnicas que podem incluir inovações sociais e tecnológicas. A esfera política envolve sistemas e estruturas que apoiam as transformações na esfera prática. Por fim,  a esfera pessoal envolve crenças, valores, visões de mundo e paradigmas que determinam como os sistemas e as estruturas são entendidos, e quais os tipos de soluções a serem adotadas.

Tais situações demandam uma compreensão mais ampla dos fatores envolvidos nas causas da vulnerabilidade climática local e especialmente uma reflexão sobre a forma como os vários setores da sociedade se relacionam com o ambiente natural.

 

 

 

 

 

 

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